Nós somos uma construção. Neste processo em que procuramos erguer-nos seres perfeitos, vamos adicionando tijolos bons e retirando outros. O cérebro encarrega-se de retirar os tijolos maus do que somos e guardá-los numa cave qualquer com uma espécie de placa com a inscrição “proibido entrar”, na cave. Há coisas no nosso percurso a que nos poupamos de revisitar.
POR: José Kaliengue
Mas há também coisas muito boas que não se afastam do hall de entrada, quando olhamos para nós lá estão. E fazem-nos bem, guiam-nos no percurso que escolhemos, revigoram- nos a saúde. De tempos em tempos sentimos falta dos lugares e coisas boas daquilo que somos mas que já lá vão. Temos de as puxar para cima. Podemos chamar a isso saudade. Quantas vezes não temos saudades de nós mesmos?
De nos acharmos num lugar, num momento agradável, uma busca para nos reencontrarmos porque de repente sentimos em nós um vazio. É hora de trazermos ao hall de entrada um sabor, um aroma, uma luz, uma chuva, um olhar, um som, um refúgio para escaparmos de uma realidade desagradável.
Nós somos assim, somos feitos de amor, uma coisa que está também nestes bilhetes vindos da memória e que chamamos de saudade. Talvez a saudade, afinal, seja também amor, porque nós somos um todo feito de pedaços de amor.