Angola viu partir ontem, num dia em que ainda nos despedíamos do Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, o único angolano com tal posição da Igreja Católica, o jornalista Rui Ramos. Com 79 anos de idade, o escriba gostava de se apresentar como o decano dos jornalistas angolanos, tudo por conta da sua trajectória e por ser, como frisava, aquele que tinha mais anos entre os escribas em exercício.
Em 2016, ainda tentei entrevistá-lo, o que não veio a acontecer, porque, ao que tudo indica, ele preferia manter-se num anonimato que as suas acções acabavam sempre por o retirar. Através das páginas do Jornal de Angola, empresa em que esteve vinculado até à sua morte, foram vários os rostos que ele próprio deu voz através da sua pena para que muitos jovens e não só fossem conhecidos e as suas experiências pudessem também inspirar outros.
Sou daqueles que pensa, quase sempre, que os jornalistas não são notícias, razão que faz com que muitos se mantenham distantes do holofote e as portem, unicamente, como os porte-parole daqueles que verdadeiramente precisam de ver as suas imagens, sons, propósitos e acções divulgadas.
O que não quer dizer que quando não seja necessário, por razões óbvias, não o sejam. O mais velho Rui Ramos preferiu a primeira opção, mesmo sendo visível muitas das suas intervenções e os resultados que muitos de nós hoje acabamos por usufruir.
Lembro-me quando o próprio visitou uma das escolas de música em Luanda que estavam numa estrutura degradada, sem condições quaisquer, e levou algum alento para os alunos que lá se encontravam, incluindo comida, para que pudessem matar a fome quando necessário. Mais foi o seu projecto de bibliotecas que até ao momento me tem deixado boquiaberto, principalmente num país em que são poucos os que fazem da leitura e a distribuição de livros uma luta diária.
Via-se nas suas acções um forte compromisso para que os angolanos desde tenra idade tenham um livro e com isso conhecerem melhor o mundo em que estão inseridos. De Cabinda ao Cunene, fizesse sol ou chuva, era vê-lo depois a apresentar, sem vaidades ou devaneios, os resultados de uma missão caprichada que atingiam dezenas ou centenas de estudantes nas escolas existentes principalmente no meio rural.
Ali onde alguns, de forma efusiva, num determinado contexto da nossa vida política, preferiram chamar Angola Profunda. É crível que a esta hora muitas destas crianças e adultos, espalhados nos quatro pontos do país, nada saibam ainda que partiu para o além um ser humano que se entregou numa causa que lhes libertou da escuridão, que é a falta de um livro.
E muitos serão, a esta altura, os resultados que esta sua experiência terá proporcionado, abrindo mentes e até dando oportunidade a estes petizes de melhor puderem esconder o que serão no futuro. Se pudesse entrevistá-