Sem papas na língua e sempre muito frontal, Rui Falcão, ministro da Juventude e Desportos, chamou os “bois pelos seus próprios nomes” e apontou os males que enfermam o desporto nacional, numa entrevista concedida recentemente à rádio cinco.
Pessoalmente, sempre admirei a sua frontalidade, às vezes incomodativa para a maioria, contudo realista e sincera. Rui Falcão destacou a adequação da legislação sobre antidopagem, tendo sido dos primeiros grandes desafios que enfrentou.
O ministro voltou a esclarecer que Angola nunca foi sancionada pela Agência Mundial Antidoping (WADA) e que teve de “blindar” a equipa envolvida no processo para evitar interferências externas.
Uma estratégia que deu os seus resultados, já que Angola voltou, nos últimos dias, a estar em conformidade com a Agência Mundial Antidopagem, que reconheceu o nosso país como membro em conformidade com os estatutos da organização, após a aprovação da lei antidopagem angolana.
Durante a entrevista, o ministro disse que as pessoas têm que olhar para o desporto, não como um custo, mas, sim, como um investimento, destacando a prática desportiva como um incentivo ao bemestar físico e pessoal de qualquer indivíduo.
O Planadesporto é um projecto ambicioso que o MINJUD prevê implementar a curto prazo, aliás, várias vezes por nós referenciado como uma das soluções para o relançamento do desporto nacional.
A sua fase de implementação vai atender ao desporto comunitário, recreativo e escolar, a partir da disciplina de educação física nas instituições de ensino, onde vai constar a realização de competições inter-turmas até a de campeonatos.
Para isso, disse Rui Falcão, será necessário garantir o básico, as infra-estruturas quase inexistentes nas escolas em todo o país.
Os interesses pessoais de muitos agentes desportivos em detrimento do desporto nacional também foram mencionados pelo ministro, defendendo que os fazedores do futebol devem pensar numa liga sem objectivo eleitoralista, destacando que a organização de uma Liga de Futebol exige recursos, e que o Estado continua a ser o maior patrocinador do desporto em Angola directa ou indirectamente.
Seguiu-se um dos momentos mais destacados da entrevista. Rui Falcão, a seu jeito, disse, com todas as letras, ter-se chegado ao ponto de quem licencia ginásios para a prática desportiva ser o Ministério do Comércio.
Lembrou que o seu pelouro não tem vocação para licenciar centros comerciais ou supermercados, pelo que não pode ser vocação do Ministério do Comércio licenciar ginásios, ainda que de forma indirecta.
O ministro espera que a aprovação do novo estatuto do MINJUD mude o actual quadro. Foi uma entrevista esclarecedora, onde Rui Falcão deixou claro que domina o métier, e que não é um “intruso”, como chegou a ser cogitado logo após a sua nomeação para o departamento ministerial.
O também atleta de “Shotokan”, estilo mais popular do karaté, iniciou o seu percurso no dirigismo desportivo, como chefe do Departamento de Coordenação da antiga Direcção da Cultura Física e Recreacção.
Por: Luís Caetano