Propomo-nos a analisar a música ex positis de sorte a entendermos o fenómeno determinante das causas e origens do tipo de kuduro configurado à maneira antiga.
Doutro lado, laudativo face às discriminações sofridas pelo estilo mesmo que assumido como manifestação cultural níquel identitário da maioria angolana. Aprioristicamente, o termo «renascença» funda-se no facto de a música em questão retomar os valores que lhe atribuem forma, estrutura do kuduro-modelo antigo ou há muito valorado. Destarte, seguimos a estrutura interna da música de forma a achar (lhe) razão quanto ao que se disse:
1. Ditado ou apotegma;
2. Coro;
3. Voz cantante;
4. Coro;
5. Voz cantante
6. e Terminação.
Ditado ou apotegma:
«Mais vale comer cabuenha na paz do que picanha na guerra» Aqui, uma voz, qualquer que seja, como uma espécie de introdução, passa-se de mais velho, à maneira akulo-aty, de maneira a denotar um pensamento de teor prático e moral. Coro: Segundo a app DICIO, a palavra coro, do latim caurim, i, significa um conjunto de sons ou de vozes que se manifestam juntas; ou qualquer trecho de uma obra musical cantada por várias vozes.
Ao ouvirmos a música, não é de duvidar que o termo coro tenha sido respeitado. Dúvidas houvera, convenhamos: “A tropa da Caope A, a tropa da Caope B, a tropa da Caope C com a tropa da Caope D. (2x)
São minha tropa
Coro: ia.
São môs pilha
Coro: ia.
São minha tropa
Coro: ia, xê… ia, xê.. ia.
Voz cantante:
Aqui, como o termo «per se» diz, a voz cantante canta rimando — de lembrar que, o termo rimar, para o kuduro, constitui transmitir oralmente um discurso escrito à maneira cantada.
Coro:
Voltando em acção, o coro oferece, aqui, consistência à música, ao ritmo para uma possibilidade de abertura para albergar a segunda voz cantante.
Voz cantante:
Aqui, como dissemos, sem problemas se repetirmos, a voz cantante rima, dá a saber a sua realidade sensualista, emocional e pensamental. Coro: Novamente? Sim.
Pois, apesar das várias vezes que aparece, é ele que faz ligação dos demais elementos constituintes da música kuduro, pelo que aqui, mais uma vez, e de forma diferente, surge sub pretensa de, a partir de um ritmo já adormecido, chamar pela terminação, oferecendo lhe vez e voz.
Terminação:
Alfimente, aqui, há muito que se diga, porém em termos curiais resumiremos dizendo que, para o kuduro, a terminação pode se manifestar de várias formas: para uns, trazendo de volta um ditado, e, para outros, citações de nomes, saudações ou, também, de forma exagerada, brincando.
A música em análise é exemplo de si própria em concomitância com a de Karliteira, Botão: «Se essa música não fazer sucesso, podem queimar as nossas casas…»
«Se essa não fazer sucesso, eu prefiro vender gás.»
De forma concisa podemos dizer que o kuduro possui uma estrutura sui generis, obedecendo a seus próprios limites, ainda que de si nasçam outras correntes.
À parte isto, não é por acaso que a estrutura kuduro-modelo foi feita, pois fazendo um olhar retro para sua história, desde sua origem à época em que vários elementos começaram a se fazer presentes na música, como rima, voz cantante, ditado et simila, o kuduro, à par de demais estilos, surge como uma expressão cultural que se manifesta ante um absoluto caos.
De sorte que, ele, caracterizado por ser do gueto, onde as doenças, delinquências, lutas de grupos; gravidez precoce, falta de água e energia têm a sua predominância de forma acérrima, justifica, assim, de forma subentendida, a inclusão da voz cantante que se prontifica a ilustrar o seu modus vivendi, antes o ditado que préanuncia o caminho a ser tomado face à dura realidade que se vive.
Demais, essa estrutura segue uma lógica convidativa. Malgrado não se tratar de uma fórmula imperativa, mesmo assim faz em crer que vale a pena, pelo que denuncia, apela e transmite um certo valor.
E, atrás isto, faz-se convalescer do coma das discriminações em meio à tantas vontades não devotas ao estilo. Por conseguinte, pode dizerse mesmo que é uma música que propõe, sugere e, diga-se também, muito bem conseguida. Sem mais nada para adir, dancêmo-la.
Por: Simi