Não vai há muito tempo que um amigo, com um passado na banca, explicou-me alguns dos episódios que testemunhara em relação à concessão de crédito aos empresários nacionais e estrangeiros.
Irónico, como muitas das vezes tem sido, disse que muitos dos investidores angolanos quando se dirigem aos bancos sentem-se de alguma forma frustrados com a quantidade de documentos exigidos, as condições.
Mas, dizia ele, que são condições alcançáveis com alguma organização, independentemente do volume solicitado.
Pelo contrário, por ironia do destino, contou o amigo que muitos dos investidores estrangeiros, alguns deles radicados há alguns anos em Angola, quase que não tergiversam quando se lhes são dadas estas oportunidades, independentemente da quantidade de documentos, condições e os passos que devem ser seguidos nos vários programas que são colocados à disposição destes.
Claro que poderá haver algum exagero. Mas, ainda assim, foi um assunto que mereceu debate, embora inconclusivo, que gostaria de retomar depois do desabafo do secretário de Estado da Economia sobre a existência de dinheiro para investimento na produção de grãos no Banco de Desenvolvimento de Angola.
Curioso é que, apesar das reclamações que vão sendo feitas por muitos investidores, mormente os radicados no sector da agricultura, quase que ninguém se dirigiu ainda ao banco para solicitar os empréstimos, o que não parece ser uma situação normal num país que carece de enormes investimentos neste ramo primário.
Em circunstâncias normais, num país onde os empresários fazem da banca o seu verdadeiro encosto para alavancar os projectos, as declarações do responsável governamental deveria desencadear por parte destes e das referidas associações a que pertencem reacções que nos levariam, no mínimo, a concluir o que se estará a passar de facto.
Se as condições exigidas extrapolam os mínimos razoáveis ou, ainda, se existirão outros aspectos subjectivos que estariam a impedir que se tenha acesso às linhas de financiamento.
Tratando-se de financiamentos, mesmo que seja a partir de uma instituição financeira estatal, é imperioso que os empresários interessados estejam, à partida, conscientes da necessidade do retorno do capital para que num futuro próximo outros possam também se beneficiar.
Todavia, num passado recente, através da mesma instituição bancária existiram vários financiamentos, muitos dos quais acabaram por ser aplicados em projectos sem qualquer ligação com aqueles que determinaram a sua atribuição.
E mais: houve até casos, depois passados pela própria imprensa, de supostos PEP’s que também se fizeram ao pote sem que se julgassem posteriormente obrigados em ressarcir o próprio Estado, aumentando assim a carteira de crédito mal parado hoje reclamado pelos bancos.
Ainda assim, custa crer que hoje, curiosamente, parece existir empresários que estejam a fugir ao dinheiro existente.
Se assim for de verdade, alguma coisa não caminha bem no reino, onde muitos parece terem crescido apenas quando estiveram atrelados às tetas do Estado.