Nos últimos anos, em Angola, temos assistido a um aumento significativo no número de docentes a leccionar Língua Portuguesa.
Contudo, surge uma questão importante: quem está verdadeiramente habilitado para leccionar esta disciplina tão crucial na formação dos cidadãos angolanos? É evidente que muitos professores dominam com competência o conteúdo técnico da língua, como gramática e ortografia.
No entanto, a realidade mostra-nos que, frequentemente, esses profissionais não possuem a formação pedagógica necessária, ou seja, faltamlhes as ferramentas para ensinar de forma eficaz.
O simples domínio do conteúdo não é suficiente para garantir uma aprendizagem significativa. O conhecimento técnico precisa ser acompanhado de metodologias, didácticas que tornem possível transmitir esse saber de forma clara, acessível e que promova um ambiente envolvente dentro das nossas salas de aula.
A formação de um bom professor de Língua Portuguesa vai muito além de apenas repetir regras gramaticais ou expor autores e obras literárias.
Envolve, principalmente, a capacidade de compreender as diferentes formas de aprender, olhar às particulardades individuais, e de adaptar o ensino para que cada aluno consiga integrar o conhecimento de maneira significativa e aplicá-lo no seu dia-a-dia.
A preparação pedagógica é, portanto, essencial. Ela permite ao docente não apenas ensinar, mas também perceber as necessidades dos seus alunos, criar aulas que estimulem a reflexão crítica, promover práticas que tornem possível a interação entre os intervenentes do processo de ensino e aprendizagem e, acima de tudo, fazer com que todos se sintam incluídos no mesmo processo.
Infelizmente, muitos dos profissionais que leccionam Língua Portuguesa em Angola não passaram por um processo de formação que os prepare adequadamente para essas tarefas.
A falta de um currículo que contemple metodologias de ensino eficazes, psicologia educacional e estratégias de avaliação é um problema que não podemos descurar.
Para que o ensino de Língua Portuguesa seja realmente eficaz, ele deve ser mais do que a simples transmissão de conteúdos. Deve ser baseado em práticas pedagógicas que promovam a compreensão profunda da língua, a utilização correcta da mesma e a valorização da nossa rica cultura literária angolana.
É por isso que é urgente que as instituições de ensino em Angola invistam em programas de formação contínua para os docentes.
Os processos de recrutamento de professores devem também ter em conta não apenas a experiência e o domínio do conteúdo, mas igualmente a qualificação pedagógica, a fim de garantir que todos os professores tenham as competências necessárias para ensinar com eficácia.
Apenas dessa forma podemos aferir que o ensino está a ser feito de maneira adequada e que os alunos estão a receber a melhor educação possível.
Portanto, para que a Língua Portuguesa continue a desempenhar o seu papel fundamental na construção da nossa identidade cultural e na coesão social de Angola, precisamos de professores que sejam, de facto, profissionais completos: conhecedores da língua e da literatura, mas também aptos a ensinar, com um domínio sólido das metodologias pedagógicas.
A qualidade da nossa educação depende de uma formação que vá muito além do simples conhecimento científico, materializandose na prática de um ensino eficaz e transformador.
Por: JOÃO NGUMBE