Há dias, enquanto acompanhávamos informações pelas redes sociais, deparámo-nos com um debate promovido pela TV Zimbo, cujo tema de conversa se reflectia no título desta reflexão. Não havia mal algum no debate em si, tampouco nos convidados; contudo, as abordagens trazidas pelos dois senhores resvalavam para um certo desconhecimento voltado ao saber da língua portuguesa.
Parafraseando a resposta dada por nós naquele dia: a língua portuguesa é a mesma para todos que a usam como meio de comunicação e interacção.
Assim, para fazermos uma abordagem sobre ela, precisamos, em primeiro lugar, perceber o seguinte: i) A língua, no uso diário, sofre frequentemente variações, das quais destacamos a diatópica, que tem a ver com as formas dialetais e regionais de cada país.
Por exemplo: em Portugal, dizse autocarro; no Brasil, ónibus; e em Angola, essencialmente, dizemos autocarro. Há ainda variações dentro da mesma localidade geográfica, como em Lisboa vs. Porto ou Cabinda em comparação a Huíla, no que diz respeito ao aspecto fonético de certas palavras, sem esquecer, claro, a influência de outras línguas não latinas no aprendizado do português. ii) Além dessa característica da língua, podemos destacar os acordos ortográficos e normas.
No primeiro caso, percebemos a necessidade de unificação linguística no que diz respeito à escrita entre todos os países que falam português, embora muitos, além de Angola, ainda não tenham ratificado o acordo. Neste aspecto, importa realçar o facto de que, nos países não signatários, vive-se à margem do acordo de 1990, mesmo sem a sua oficialização. Refiro-me, propriamente, a Angola.
Quanto às normas da língua portuguesa, é necessário dizer que a língua precisa, afora de um guia descritivo, ser regulada na sua forma escrita, para que os indivíduos sejam considerados cultos no seu uso quotidiano, a fim de que a comunicação flua de maneira clara e eficiente. iii) Identidade cultural: inegavelmente, a língua possui uma característica de culturalizar as comunidades, funcionando como um elemento identitário que reflete a cultura, a história, hábitos e costumes de um determinado povo. iv) Não menos importante, temos o estudo e análise da língua como um veículo de globalização.
A língua, neste sentido, pode ser uma ferramenta de comunicação verbal entre os estratos empresariais, trazendo facilidades na expansão da comunicação escrita por meio da internet, sem ignorar a fraqueza e preguiça de escrita devido às abreviações excessivas em mensagens curtas e objectivas. v) Para falarmos da língua e do seu uso, não devemos, de igual modo, esquecer a literatura clássica, pois desempenha um papel crucial no enriquecimento lexical da própria língua.
Além disso, não se pode separar a influência das músicas, novelas, cinema e dublagens no desenvolvimento linguístico de um país, ou mesmo, pelo conteúdo desses programas, enfraquecer ou emburrecer as massas. vi) Outro ponto são os preconceitos linguísticos, comportamentos que, segundo Bagno, circunscrevem-se em atitudes de achar que há línguas melhores e superiores do que outras na sua forma de falar, quando o facto é que todas as variantes têm um espaço singular no panorama linguístico. vii) Finalmente, temos os desafios no processo de ensino e aprendizagem da língua e as políticas linguísticas.
No primeiro ponto, é inegável, muitas vezes, que ensinamos mal. Essa falha, por sua vez, enlanguesce a vontade de muitos utentes em aprendê-la, especialmente quando percebem que o seu ensino se circunscreve unicamente ao “está errado” e “está certo”. Assim, urge mudar de paradigma, caso contrário, os inimigos da língua multiplicar-se-ão.
Em relação às políticas da língua, cabe ao Estado e à Sociedade a necessidade de promover e defender a língua portuguesa em seminários internacionais para que a sua influência nos órgãos superiores seja evidente, notada e discutida.
Deste modo, reflectindo nestes pontos, concluímos que debates com temas voltados ao aspecto do uso da língua portuguesa, mormente, não se podem restringir a receitas simplistas (certo e errado) nem tão-pouco reduzir as informações, pois carregam consigo elementos importantes para o conhecimento do todo.
Logo, aos professores de língua, os desafios serão ordinários, como sempre: consciencializar os alunos para uma visão mais global e menos dogmática em relação à língua que estão a aprender para usá-la conscientemente!
Por: GABRIEL TOMÁS CHINANGA