Há alguns dias, foi notícia nos meios de comunicação social do país a morte de quase uma dezena de pessoas por causa das enxurradas que se abateram sobre a província de Benguela. O município do Lobito foi um dos mais afectados pela tragédia. Na verdade, não foi a primeira vez em que um número considerável de pessoas perde a vida em igual circunstância.
Em 2015, o Lobito terá vivido um dos seus piores momentos, com o caos e o luto a ensombrar os morros, criando nos sobreviventes um misto de tristeza pelos acontecimentos e raiva pelas autoridades por não terem sido criadas condições que pudessem salvar aquelas vidas. E sempre que se aproximasse uma época chuvosa, a incerteza tomava conta de muitos que habitavam nos morros.
Quem seriam as próximas vítimas? Na altura, lembro-me, a Procuradoria-Geral da República recomendou às autoridades para que envidassem esforços para que se retirasse as pessoas que ainda habitavam em morros. Não só em Benguela como noutras partes do país, por forma a não se repetir as mortes e destruição de bens assistidas então. Dos morros do Lobito, os sinistrados foram acomodados na zona dos Cabrais, à entrada deste belo município. Num vasto território, inicialmente em tendas e depois em bases, com apoios de várias entidades, começou-se a erguer a nova urbanização para que os moradores pudessem reconstruir os seus sonhos e vidas.
Visitei por três vezes os Cabrais. Pude reportar as necessidades e a incerteza que pairava nos rostos de muitos. Ouvi de muitos sinistrados a necessidade que tinham de ter uma casa nova e o desejo de nunca mais puderem regressar aos morros, onde muitos que lá estão hoje clamam também que se lhes dê uma oportunidade de começarem a vida noutro sítio. Senti-me feliz quando vimos, mesmo à distância, o início da construção das residências.
Pude depois visitar – num dado momento- o local. E exultei quando anos depois o actual governador de Benguela fez a entrega das primeiras 30 residências, todas elas com uma qualidade acima das que são entregues a muitos sinistrados de chuvas e outras calamidades pelo país. Ontem, por exemplo, uma notícia indicava que mais residências seriam entregues nos próximos tempos aos demais moradores da área dos Cabrais, alguns dos quais ainda habitam em condições inapropriadas.
Trata-se de uma excelente notícia. Daquelas que devemos, sim, aplaudir a acção do Executivo local. Porém, o pior é que, enquanto uns recebem ou sonham receber, os primeiros beneficiários vão vendendo as casas que lhes foram atribuídas para que nunca mais voltassem aos morros que circundam o Lobito. Isso só pode ser praga, porque um dia voltarão a ser vistos praguejando o Estado e, se calhar, envolvidos em novas tragédias por conta da ganância que parece existir.