A educação é e será bandeira eleitoralista em todas as campanhas políticas, partidárias ou cívicas. Já pode ser tida como uma estratégia populista, cujas promessas se esquecem tão logo terminam os pleitos.
POR: Miguel Filho
Discursos demagógicos engordam a esperança das sociedades que, rapidamente vêem-se defraudadas com o esquecimento das promessas eleitoralistas. O vínculo entre a democracia e a educação é muito estreito porque nelas assentam os valores de igualdade e liberdade, sendo difícil explicar a desigualdade de direitos e oportunidades aos desfavorecidos _ as próprias pessoas passam a ser a última instância de legitimação e controlo da autoridade política e a escola, a principal responsável de prepara-las para que possam cumprir esse desiderato. A vida democrática requer maturidade individual (autonomia) e maturidade cívica (participação) dos sujeitos.
As duas complementam-se, pelo que a educação cívica e a educação moral caminham de mãos dadas. À educação se lhe atribuiu em muitas ocasiões o papel de pilar fundamental no que respeita ao progresso e à mudança social com signifi cativo carácter progressista. Importa uma educação que atenda as necessidades sociais dos cidadãos, de tal forma que estes sejam partícipes de dita educação e sejam capazes de tomar decisões em relação às políticas que afectam os seus planos globais de vida e, em particular, ao que às políticas educativas se refere. “O membro mais sensível, talvez, desse formidável corpo que constitui um sistema democrático é a educação. Daí que, quando a democracia enfraquece, debilita-se a sua saúde, ou seja o sistema educativo, no seu conjunto, é o primeiro em padecer as consequências” (Núñez e Romero, 2003).
A escola democrática se tem visto confrontada com a vaidade egocêntrica de gestores do ensino e certos professores e investigadores. Há professores e cientistas que pensam que ‘a Terra gira em torno dos seus umbigos’. São pessoas tão vaidosas, que chegam até mesmo a desmerecer ideias brilhantes, apenas porque são contrárias às suas. Ou, quando essas pessoas têm algum poder político real, chegam a boicotar quem não dança a sua música, seja ela kuduro ou gospel. Alguns deles têm talento de facto, mas a arrogância os torna míopes ou até mesmo cegos. Sem saber, eles boicotam a si mesmos, pois a sua cabeça dura fi ca impermeável a novidades e descobertas. Quando menos percebem, já estão estagnados na carreira, mais pela alucinação de terem a sua luz ofuscada pelo mérito do subordinado, recordando-nos a lenda do “pirilampo e a serpente”. Nesse âmbito, aconselhamos os gestores a conhecer as ferramentas de endomarketing que ajudam a engajar os seus funcionários, a melhorar o clima organizacional e a reter os talentos da sua instituição mediante consensos.
A educação democrática é responsabilidade compartilhada da escola, da família, da igreja, dos clubes sociais, dos partidos políticos, das cooperativas. Em síntese, é de toda comunidade. O desenvolvimento da educação democrática durante a Educação Inicial e os ciclos da Educação Escolar secundária organizam-se à volta dos direitos humanos e da orientação educacional e vocacional. O conteúdo a partir de uma concepção educativa democrática orienta-se com uma visão integral, e completa todas as dimensões do desenvolvimento humano, habilidades mentais, informações, atitudes, valores, habilidades e destrezas psicomotoras. Isto consegue-se através de procedimentos metodológicos que fortalecem a participação, cooperação, investigação e resolução de problemas, que são meios para construir conhecimentos e viver em democracia.
A importância de educação democrática
“… , as liberdades civis só são possíveis se os indivíduos, graças à educação, defendem e se comprometem com os valores democráticos […] A democracia baseia-se na força de certos cidadãos livres e cultos que entendem os valores que defendem e o longo e árduo processo histórico que custou conseguir uma sociedade baseada na justiça, na democracia e na liberdade […] Por isso, para educar na liberdade, e para manter as nossas sociedades democráticas –nas que o exercício da liberdade é possível-, os nossos sistemas educativos necessitam reforçar a educação moral, acostumando os alunos desde pequenos a deliberar, a guiar as suas acções a partir de una refl exão sobre os valores”. Os nossos sistemas educativos necessitam fortalecer a autonomia, o sentido crítico e a coragem dos cidadãos para evitar as manipulações de massas. Necessitam formar cidadãos responsáveis de sua própria conduta, guiados pelas suas visões pessoais da liberdade e da democracia, pois, ainda que não sejam coincidentes em parte, da discussão e da confrontação dos diferentes modos de entender a liberdade e a democracia sairão favorecidas a liberdade e a própria democracia. E para isso só há um método: educar para a liberdade é sempre educar na liberdade.
Autonomia do professor
Países há que já experimentam a educação participada com algum sucesso, que dão a impressão de utilizarem metodologias que promovem a insubordinação e o desânimo. Chamou-nos atenção o sistema educacional finlandês que está estruturado na contra-mão de tendências que têm sido reafirmadas como as grandes soluções para as problemáticas educacionais e o seu refl exo na sociedade. O governo da Finlândia não é a favor do ensino privado porque acredita que os seus alunos devem estudar na mesma escola, mantida pelo poder público, com verba pública e voltada para os interesses da sociedade, e para nosso assombro, até a pós-graduação é gratuita. Para leccionar, os professores devem ter pelo menos um mestrado, e os cinco ou seis anos de formação académica para a docência são integralmente mantidos pelo Estado. Um pouco como no tempo dos nossos INE’s, embora fosse o ensino médio, até os internatos eram totalmente gratuitos.
O segredo consiste no investimento e na preocupação em formar bons professores que ajudaram a colocar a Finlândia no topo do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), num sistema em que a escola é obrigatória e os alunos estudam desde os sete anos. Ter professores de qualidade permite ao governo dar liberdade aos docentes. Mesmo que o órgão regulador dê orientações, as escolas têm autonomia em compor o currículo e os professores têm liberdade metodológica para colocá-lo em prática. Isso motiva os professores e permite a inovação. O currículo nacional especifica somente os objectivos gerais e cada instituição complementa o currículo em conjunto com os professores. “…na Finlândia o professor tem total liberdade para preparar a sua aula, ele pode escolher os livros, o material, os recursos a serem utilizados. Há uma grande autonomia cercada de confiança e apoio”. “O professor não vai apertar parafuso, mas formar pessoas”, há que dar-lhe liberdade para agir em função da realidade local e individual.
Hora actividade do professor
A hora actividade do professor é o momento que o educador tem disponível, dentro da sua grelha horária para preparar os seus conteúdos para as aulas, tirar dúvidas dos alunos, atender pais e responsáveis, alunos e outros. Não se deve reduzir a actividade docente ao período de permanência do professor em sala de aula, sabendo-se que é preciso ser um ‘artista’ para orientar distintas personalidades para serem amanhã pessoas de bem. Uma boa preparação de uma aula e a disponibilidade do gestor de educação, em ceder esse horário para um educador é algo fundamental para a sobrevivência de um bom sistema de ensino. Assuntos deste tipo, não devem depender de leis e, é ridículo quando se faz necessário um dispositivo jurídico para que se cumpra este tipo de necessidade.
Nas universidades privadas, tem sido hábito obrigar os professores a registar presenças com cartão magnético, às vezes na porta da sala de aulas, onde subentende-se que o professor não vale pela boa ou má aula que lecciona, mas pelo registo magnético de cada presença. Ele não é mais um professor, é um número fácil de administrar na máquina instalada para gerar lucros com diplomas. A tecnologia evoluiu para assinatura digital através da biometria. E no futuro, quem sabe, poderá evoluir para a captura do DNA de cada professor. As tecnologias são bem-vindas à docência, mas não devem ser usadas para coartar a imaginação humana muito menos para converter-nos em iguais. Uma sociedade não tem possibilidades de democratizar-se quando todos são iguais a todos, mas apenas quando todos são diferentes a todos e exactamente por isso, podem estabelecer as trocas que uma sociedade democrática precisa para existir.