Faz todo sentido para o Brasil, como um país em franco desenvolvimento, ampliar o seu fluxo comercial tendo em conta os desafios económicos à nível da sua política doméstica. Para este fim, a China desempenha um papel preponderante pois é o maior parceiro económico do Brasil.
De lembrar que nos primeiros mandatos, Lula sempre teve uma relação estreita com a China, embora que hoje estejamos vivendo num contexto internacional diferente.
A prior, a China constitui-se num parceiro sénior sobre a questão geopolítica mundial e isso mostra o poder da China no cenário global e, certamente, pode ser um verdadeiro “playmaker” no sistema internacional, sobretudo porque a geopolítica mundial não é a mesma de 1945.
Nesta conformidade, isso faz com que o debate actual nas relações internacionais seja dominado pela questão da transição de poder no sistema internacional, nomeadamente pelo fim da unipolaridade e possível regresso a uma multipolaridade e pela transferência de poder do Ocidente para o Oriente.
A preparação da cerimônia para receber o presidente brasileiro mostrou claramente a importância da visita de Lula neste gigante asiático.
O Presidente Lula despertou novamente os BRICS, apresentando novos desafios a curto e longo prazo, destacando a criação de uma moeda comum dentro da organização, com clara intenção de desdolarizar o comércio internacional entre os países membros.
O discurso de Lula teve um impacto negativo no que a política americana diz respeito, pois parecenos que para os americanos uma ideia nova que não provêm deles é uma ideia não muito agradável, tal como aconteceu, por exemplo, com a criação da Zona Euro.
Pensamos que as relações político-diplomáticas no Brics são uma das formas viáves para a manutenção do equilíbrio do sistema internacional e pode surgir uma nova ordem internacional.
Em relação à sua política externa face ao conflito Rússia-Ucrânia, entendemos que o presidente Lula podia optar por um discurso mais diplomático, atendendo à sensibilidade e à complexidade do conflito.
Outra preocupação que atinge a política externa do presidente Lula é o seu posicionamento em relação ao território da República de Taiwan, onde entende que Taiwan é parte indivisível da China.
O território de Taiwan tem importância estratégica, poque de uma parte dele podem ser observadas as movimentações de todos os navios e aviões de guerra da China.
Lamentavelmente, o acordo de consenso de 1992 ganhou outras interpretações.
Taiwan é estratégico para América, porque é o segundo maior parceiro económico atrás da China.
Taiwan possui um peso económico bem superior ao de sua extensão geográfica, domina o comércio internacional e controla um dos maiores portos do mundo.
Os americanos temem que se Taiwan for parte da China, os chineses passam a ter a maior economia do mundo.
E, naturalmente, teremos o surgimento de uma nova ordem mundial. Decerto há que julgar a política, sobretudo do presidente do Brasil, por causa da importância geopolítica e geoestratégica que este país tem na América do Sul, com particularidade no MERCOSUL.
Não podemos julgar a totalidade da sua política por ter tomado uma decisão que pode ser mudada amanhã.
Vale salientar que o presidente Lula teceu certas declarações no início e, em seguida, houve uma espécie de correcção no que havia dito.
Estamos certos de que os serviços competentes do Brasil mostrarão ao presidente Lula qual é o melhor interesse, não só do mundo, mas também do Brasil relativamente aos seus aliados, porque o seu país desempenha um papel preponderante na arena mundial.
E isso deve ser percebido por cada presidente.
Reiteramos que não podemos julgar um presidente por certa decisão.
É necessário ver a sua política até ao final. Portanto, estaremos acompanhando os desenvolvimentos dos próximos acontecimentos.
Entretanto, há algo que nós, estudiosos, conhecemos muito bem: o sistema do Brasil é muito maduro, tem aquilo a que chamamos “checks and balances”, porque existe um equilíbrio no seio do seu regime.
Não existe um poder que seja omnipotente para o presidente da República. Existe uma colaboração entre os poderes executivo, legislativo e jurídico.
Por: DAMÁRCIO DOS SANTOS