E sta manhã apanhei um trânsito caótico a caminho do serviço, como de hábito, e para desanuviar, recorri à rádio para ouvir as notícias da manhã. Ao deslizar pelos canais, depareime com uma estação que tocava a célebre música de Teta Lando intitulada “Negra de Carapinha Dura”.
Não resisti, abandonei a busca e mergulhei na linda canção, que automaticamente me levou a uma profunda reflexão: Onde estão as negras de carapinha dura a quem o cota Teta implorou que preservassem a identidade, fazendo tranças corridinhas, com missangas a cair, carrapitos pequeninos como aqueles que a vovó fazia para que, enquanto raparigas e jovens africanas, conservassem o seu cabelo lindo, único e natural?
Onde está a beleza natural da pele e do rosto das nossas mulheres africanas, lindas sem makeup, despidas de um milhão de bases, pós, sombras e contornos; de correctivos milagrosos de clareamento de pele e desaparecimento das imperfeiçoes perfeitas desenhadas pelo Criador; de batons líquidos ou cremosos que adornam os lábios, tornando-os, muitas vezes, parecidos aos das bonecas Barbie, artificiais; dos famosos delineadores e lápis para os olhos que desenham o rosto de forma a parecerem-se com modelos tipicamente esculpidas, visando aparentar uma perfeição que as torna ridiculamente banais; do iluminador e de tantas outras bugigangas que visam unicamente alterar uma obra-prima sem igual e matar toda a originalidade que ela carrega.
A alteração do cabelo, da tonalidade da cor da pele, do formato dos olhos, da cor dos lábios, ou seja, de tudo o que é natural e único, torna a beleza uma linha de montagem estandardizada, corriqueira e igual.
Como foi possível convencer a mulher africana de que a beleza está na peruca, em detrimento do seu cabelo natural, e que a peruca e o cabelo emprestado é que estão a bater?
O cabelo natural tornou-se raro, uma relíquia, o artificial predomina nos eventos, nas bodas, nos balcões de atendimento, nos ecrãs das TVs, entre as dirigentes, figuras públicas e publicadas.
O cabelo natural desapareceu, para dar lugar à peruca e ao cabelo emprestado, um mais extenso que o outro, de cores diferentes, desde o preto ao loiro ou ruivo, liso ou cacheado.
Negras raras e únicas preferem esbanjar o artificial e comum a exalar o original e belo. O cabelo natural bem penteado e tratado é das maravilhas mais belas que existe.
Permite identificar a origem, raça e cultura de quem o ostenta. Tranças de bailundo, viradas ou entrelaçadas, cabelos crespos, com volume nas alturas ou em cachos, atribuem à mulher uma beleza sem igual, a verdadeira oitava maravilha do mundo. Não tinha chegado ainda ao meu destino, decidi parar.
Desci do carro, em pleno coração de Luanda, e comecei a procurar por mulheres com a carapinha dura, ou seja, que estivessem a usar o seu cabelo original.
Passeei pela cidade durante longas horas e verifiquei que a maioria das senhoras, actualmente, usa peruca, tissagem ou cabelo emprestado. São pouquíssimas as jovens que usam os seus cabelos naturais, lindos e belos como o Criador lhes concedeu.
As justificações são diversas, algumas defendem que é mais prático usar peruca ou tissagem porque lhes facilita e rouba menos tempo. Mas a minha dúvida persistiu: como é possível preferir a prótese ao natural, que é bom e saudável?
Gastar milhares de kwanzas para obter uma peruca, cabelo brasileiro ou vietnamita, de proveniência desconhecida e de composição duvidosa, submetendo quem a usa a perigos associados à utilização prolongada e exagerada de tais produtos, podendo provocar danos irreversíveis ao couro cabeludo e não só, é contraproducente. Parte 1
Por: Osvaldo Fuakatinua