A vida em si é um vácuo, para preenchê-la de signifi cado e sentido, é preciso influxo e presença do outro. Nesta terra, precisamos sempre uns dos outros para atingirmos as nossas metas.
Quanto a nós, gratidão a todos quanto fi zeram parte do nosso estirão rumo às conquistas académicas conseguidas. Da iniciação ao primeiro ciclo, nunca tivemos lamúrias enquanto aluno, pois a nossa mãe sempre manteve as contas limpas. Do primeiro ciclo ao médio, começava uma caminhada de um adolescente-adulto.
Fomos antes muito empenhados com os estudos, tímidos e preocupados com o saber. Isso nos lembra da época em que tivemos de escolher o Liceu por conta do cansaço de ter usado bata branca durante a iniciação ao primeiro ciclo.
Queríamos inovar, embora tivéssemos chances de fazer o curso Médio de Geografi a/História na Escola de Formação de Professores. Em 2010, foi quando ingressamos no Liceu do Nambambe.
No ano de 2011, na 11ª classe, estudávamos de tarde e fazíamos, de igual modo, o curso de construção civil e electricidade, num centro de formação que se localizava no bairro da Minhota (mecanização).
Nessa época, saíamos de casa às 6h em direcção a um Centro cuja calendarização lectiva seguia o mesmo modelo do MED: de Fevereiro a Novembro, das 7h30 às 12h15, todos os dias.
Às 12h20, saíamos daí em direcção ao Liceu. No momento de voltar para casa, a maior parte das vezes era de boleia esperada à beira estrada.
Terminada a Formação Média, em 2012, não sabíamos o que queríamos fazer no Ensino Superior. Apesar disso, decidimos fazer, noutro centro, novamente, o curso de pintura e ladrilho.
No decorrer do ano lectivo de 2012, não sei quem me tinha incentivado, porquanto, no ano seguinte, 2013, felizmente, fui ao ISCED-Huíla inscrever-me. Por conseguinte, neste ano, para nossa infelicidade, tinha sido encerrado o curso de Língua Portuguesa nesta instituição. Não fi camos parados. Fizemos mais três formações técnico-profissionais.
Em 2014, quando deram abertura ao curso, fomos testar, no entanto fi camos no quase, tínhamos chegado somente à prova oral. Depois de termos sido reprovados, não fi zemos cursos, porém aliamo-nos aos mais experimentados na pedreira para aprimorar os dotes de alvenaria.
Em 2015, voltamos a fazer o teste e fomos reprovados; em 2016, idem; só no ano de 2017, com média 9.5, conseguimos ingressar no regime pós-laboral. Nesta fase, já éramos craque de pedreira e analfabeto em ciências da linguagem e gramática.
A nossa rotina normal era: às 6h íamos ao trabalho, às 17h00 largávamos e, às 18h05, íamos sentar-se nas cadeiras do Instituto Superior Politécnico de Ciência da Educação da Huíla. As aulas, pontualmente, terminavam às 22h45.
Concomitantemente, às 23h50, ou mesmo à meia-noite, chegávamos a casa, porque caminhávamos constantemente. No terceiro ano, as coisas apertaram demais, perdemos um querido da família, acumulámos dívidas no Instituto e tivemos de desistir.
Não havia pretensões de regressar tão cedo até um dia aparecer um professor de coração generoso que pagou o ano de dívida que havíamos acumulado.
Ao voltar à academia, isto no terceiro ano, em 2020, sentimo-nos motivados e evoluídos cognitivamente. Só que a Covid-19 apareceu também para dar o seu show.
O que nos alegra hoje não é termos terminado a formação com um currículo recheado de experiências profi ssionais, contudo é pelo facto de olharmos para trás e dizer para nós próprios: somos campeões que inspiramos outros campeões.
Não terminamos a formação, desse modo, na casa dos vinte, mas enriquecemo-nos intelectualmente na casa dos trinta.
O tempo, obviamente, não importa. Somos sim inteligentes, graças ao nosso empenho, dedicação, busca e desenvolvimento pessoal no que à formação técnico-profi ssional diz respeito.
Frequentemente, ponderamos no seguinte pensamento: “se os outros fi zeram, é porque podemos também. Entretanto, se não houver ninguém para o fazer, então devemos ser os primeiros a fazê-lo.”
Por: GABRIEL TOMÁS CHINANGA