Ia ao encontro de Ana, dona de uma retórica invejável e um andar como se de uma palanca se tratasse. É desnecessário fazer referências as vantagens corporais de Ana, porém é necessário, talvez, falar de como foi chegar até ela.
Ao meio-dia e um quarto, Gomes ia ao volante disposto a encontrar de Ana, ora, enquanto dirigia, ouvia as notícias no rádio. “Moçambique despediu-se, esta quartafeira, dos dois opositores políticos, assassinados na semana passada”, relatava o jornalista no rádio.
O relato penetra em Gomes como uma agulha e estimula-o a reagir. “Até então várias reuniões foram feitas a favor da Palestina, entretanto, nenhuma acerca do que acontece no Mali, Sudão, RDC, Burkina Faso e agora em Moçambique.
Afinal, qual é o valor da vida dos africanos para ONU? Questiona-se e tal questionamento traz consigo uma nostalgia, uma lembrança de seu professor, que partiu e deixou um enorme vazio no ceio da sociedade. Lembrou-se da preocupação de seu mestre com o destino de seu país e do continente.
Rasgou-lhe o peito perceber que seu mestre partiu vendo seu sonho cada vez mais distante, vendo seu país se tornando naquilo que ele mais temia. – E agora, prof.? Inquiriu como se esperasse que o professor lho respondesse.
Obvio que não lho respondeu em palavras, mas o instigou a ouvir o jornalista relatar o infortúnio do cantor norte-americano acusado de tráfico sexual e extorsão. Gomes soltou um sorriso lembrando seu pai dizer: “Meu filho, a política é o jogo que dita as regras dos outros jogos. Precisas conhecer as regras desse jogo para compreenderes o mundo.
Este cantor percebeu tarde que poderia fazer parte plantel. As suas boas intenções surgiram tarde. Com o poder que conquistou com certeza ele conseguiria o que procurava, mas infelizmente, com este cadastro já não pode tanto.
Dai o meu apelo, cuidado com o que fores fazer hoje, filho. Gomes seguiu viagem e viu vibrar o telemóvel. “Deixei-te algo no WhatsApp”. Lia-se na mensagem estampada no visor.
Não segurou o telemóvel, dirigiu até ao restaurante. No interior lançou os olhos para tudo que é canto e percebeu que Ana, como boa mulher, não havia chegado. Senta e antes de discar para ela, abre a mensagem e lê o documento. Percorre as linhas de dezenas de páginas até ser interrompido por uma mão no ombro. – E s t á s b e m ? – Estaria se não entrasse em contacto com esta informação. – Deixei-te a mensagem por perceber que iria atrasar.
– Logo percebi. Mas calma, que país é este? Questionou Gomes. – É o teu, não te vês aí representado? – Claro que não. Estou a perceber o silêncio das pessoas sobre o que foi dito.
– Se bem te recordas, os discursos do género eram motivo de debate não apenas nas estações de rádio e televisão, até mesmo nos bares… mas hoje por hoje, por estar enfadado de falácias e ser algo que faz duvidar dos conhecimentos adquiridos, as pessoas fingem não ter ouvido, ignoram tais palavras por perceberem que nem mesmos os que as escreveram teriam coragem de as ler.
– Mas então o que se passa, perdemos a capacidade de fabricar pensadores? – Meu amigo, a genialidade deles mora no tornar falácias em algo verosímil. São como Nabucodonosor. – Ana, há uma mensagem aí, não se trata só de tornar verossímil a falácia, trata-se do objectivo dessas palavras. – Gomes, para mim são palavras escuras, têm com objectivo oferecer aos que estão na escuridão, a chave para abrir a porta de uma escuridão ainda maior.
Por: DITO BENEDITO
Escritor & Jornalista