Em pleno dia de apresentação na 10ª classe, os alunos entendiam o professor Tchama muito honesto desde que entrou e demonstrava muita simpatia para eles. Muitos estavam mesmo a dizer que o professor era muito inteligente, simpático e grande orador. Já inspirava muita confiança para eles. Foi a partir do comentário do menino Sakupalika que a turma ouviu um já se nota que vamos aprender muito com esse professor.
Depois de o professor dizer o básico, como de costume, foi mesmo o Sakupalika que fez soltar a sua voz e perguntou: – Professor, podemos fazer algumas perguntas? – Hãm! – Disse o professor – Podem, sim.
Apenas três. Mas tem de ser perguntas interessantes e inteligentes, tá! Um aluno atrevido sem medida, mas sem medida mesmo, o Makuntima, levantou o braço demais breve e, educadamente, perguntou: – Professor, desculpa pela pergunta.
O professor ganha bem? Ou mal? A turma toda admirada com a pergunta do Makuntima ficou em silêncio profundo, mas expectante. Parecia que todos entraram em curiosidade e queriam saber da resposta. Dentro do interior do professor surgiu um ora bolas.
Pensou em dizer que ganha mal, mas a consciência estava a lhe pesar. É assim que preferiu então se esquivar da pergunta. – Caro aluno, o professor já disse que tem de ser pergunta interessante e inteligente. Não vejo interessante essa tua pergunta. Isso é pessoal, seu atrevido! A turma toda entrou em pequena gracinha e murmúrio. Percebeu-se que o professor que falava suavemente ficou meio esquisito ao dar essa resposta.
O professor entendeu que isso parecia um ataque que quase devastava o seu coração. Pensava dentro de si: – Porras! Esse aluno atrevido quer saber de coisas que me ferem a sensibilidade, mas não me posso dar bandeira… Em meio tempo, não lhe deram vantagem a mais para reflectir e logo ouviu: – Professor! – Dizia o Cacabeu – Me parece que a pergunta é interessante.
Sabes por quê, professor? Porque algumas coisas que nós dissemos na nossa apresentação também é pessoal. Se sim, é só dizer sim, professor; se não, é não. Não precisa enrolar, professor. – E acrescentou: até onde sei, professor, o bem e o bom não se escondem.
Uma aluna que se intitulava rainha das dicas não quis ficar de parte, para fazer sentir o seu nome, disse logo: – gostei bué da dica que o colega deu, vou anotar no meu cardeno: “o bem e o bom não se escondem”. – Essa foi a Tchinaculingui.
O professor em solavancos, estava mesmo a se sentir molhado. Imaginou evocar as suas competências filosóficas e depois de dois segundinhos se manifestou: – Alunos atrevidos, saibam que o bem é subjectivo.
Há quem para ele ganhar bem é sessenta mil, uns é cem mil, outros pode ser duzentos mil, quinhentos ou um milhão. Querem saber se ganho bem ou mal? Saibam então: eu não ganho bem, não ganho mal, apenas ganho o suficiente. Ao ouvirem isso, os alunos ficaram satisfeitos e renderam muitos louvores ao professor pela sua resposta filosófica.
Dizia o Sacalumbo: – o professor é bom, não vos falei mbora, ele é mau! Apesar disso, o Cacabeu não se deteve nesse contentamento e começou logo com os seus argumentos: – Professor, desculpa professor. Pela forma como o professor dá aula, mesmo nos corredores já ouvimos a fama de que o professor é muito bom e estamos a comprovar logo no começo.
O professor não poderia ganhar o suficiente, até porque a pergunta foi se o professor ganha bem ou mal. Aqui, a resposta deve-se dar segundo o princípio do terceiro excluído.
Se nós pagamos bem, o professor também deve ganhar bem. Mas não tem maka, professor – insistia ele – falarei com os colegas e passaremos a fazer uma vaquinha semanalmente para cobrir pelo menos uma parte do táxi do professor e também, nalgumas vezes, o lanche do professor. Dou a minha palavra. Você merece, prof.
A propósito, qual é a marca do fone do prof.? Poderia mostrar, professor, por favor? Pode ser no off… Depois de o Cacabeu suspender as suas palavras, a turma toda bateu uma salva de palmas de invejar, como se estivessem na igreja.
O professor todo sentido, ficou num minuto de silêncio, quase que se lhe acumulavam gotículas de lágrimas nos olhos, como se lhe tivessem tocado na ferida. Parecia que estava noutro mundo: ficou tanto quanto boquiaberto que nem conseguia olhar nos rostos dos alunos. Ficou com a cara abaixada. Nem conseguiu falar estou sem palavras ou estou impressionado.
Com sentimento de vergonha, tudo que conseguir dizer foi vamos continuar com a aula. Mas não continuou naquele instante. Saiu sem avisar e os alunos nem sequer souberam por onde foi.
Por: Joãoda Silva JS