A minha homenagem hoje é para uma pessoa muito especial para mim e importante no meu percurso estudantil, a professora de História Genoveva Pereira minha professora no ensino secundário.
Altamente exigente mas de uma educação e um espírito humanista difícil de descrever.
Lidamos diariamente com todo o tipo de personalidades e ficamos muitas vezes desiludidos mas seguimos em frente porque nos lembramos que existem pessoas boas.
Esse é o caso da Professora Genoveva Pereira e o Johny Cruz meu colega e amigo dos tempos da Escola Secundária de Sacavém, de nacionalidade são-tomense, é uma grande testemunha do que descrevo, pois foi acompanhado por esta maravilhosa senhora, certamente num dos momentos mais difíceis da sua vida em que enfrentava um problema de saúde e vi-a fazer um esforço inestimável para ajudar o meu colega que recentemente terminou o seu mestrado em Direito.
Recordo-me da primeira aula e das demais, do modo empolgante como nos ensinava a História de Portugal e mais tarde a História da Humanidade, das visitas de Estudo a vários locais históricos, instituições de carácter politico, social e cultural.
Recebeu-me naquela altura de um modo extremamente acolhedor, com muita alegria e disposição que eram características habituais nas suas aulas e rapidamente conquistou o meu respeito e admiração.
Demonstrou sempre uma visão global da humanidade, em relação à África (especialmente em relação a Angola), país que viveu na sua infância e parte da adolescência e guarda todo o tipo de recordações, boas na maioria e tristes naturalmente, entre elas à retirada de Angola no processo da Independência Nacional, tendo contado a história da sua tia que saiu de automóvel com a família pelo Sul e leste, passando pelo Moxico, Cuando Cubango, Namíbia, África do Sul e depois de avião para Portugal, memórias que ia partilhando com os alunos.
O que mais me surpreendeu ao longo deste percurso é que nunca demonstrou o saudosismo negativo que alguns ou muitos dos seus compatriotas exteriorizam, demonstrando sempre muito claramente a compreensão da necessidade da emancipação e independência dos povos africanos, apesar da tristeza de ter deixado muito para trás.
Em relação ao mundo, não me esqueço de uma aula em que mandou apagar as luzes da sala de aula para nos exibir com projector, um filme que retratava um dos episódios mais tristes da história, em que Adolf Hitler negou-se a cumprimentar e premiar Jesse Owens que nos Jogos Olímpicos de 1936, onde conquistou quatro medalhas de ouro, nos 100m, 200m, 4x100m e salto em cumprimento, que o transformaram na primeira estrela do desporto mundial.
Foi uma derrota para Adolf Hitler ver um negro triunfar, mas uma grande vitória para a humanidade um feito tão grandioso que tem o seu nome registado nos anais da História.
O apagar das luzes deveu-se a estratégia usada para nos demonstrar quanta força havia no preconceito.
O Estádio Olímpico de Berlim completamente lotado com os alemães em êxtase total, apoiando os seus atletas e pelo meio gestos e saudações nazistas, sob o olhar orgulhoso de Adolf Hitler, daquele momento em que almejava o triunfo da raça ariana.
O curioso é que a máquina de propaganda era tão grande que de repente estávamos todos como que hipnotizados, completamente envolvidos e alguns já de braço estendido e a replicar a mensagem dos alemães.
Um episódio que me ensinou muito sobre a humanidade. Outro episódio que me marcou foi noutra aula em que dirige uma pergunta a turma e pediume que não respondesse porque sabia que iria responder acertadamente, o que causou um enorme espanto na turma e em mim mesmo naturalmente.
O curioso é que a partir daquele dia passei a dar ainda mais valor às séries antigas de televisão que a TPA transmitia tal como o (Alô Alô), numa altura em que Angola ainda estava em guerra.
A resposta estava numa delas, e sabia mesmo a resposta.
Organizou várias palestras, encontros com representantes da ONU, da Palestina em Portugal e outras sensibilidades, cujo o teor e interesse eram de enorme importância.
Controlava o meu percurso e dos demais e quando algo corresse mal não hesitava em dar-nos uma boa reprimenda mas sempre com um jeito maternal que aceitavamos e respeitavamos.
Sem dúvidas alguém que ajudou-nos a crescer cultural e intelectualmente. Levounos a Fundação Calouste Gulbenkian, a fábrica de automóveis Auto Europa, vários museus, palácios, etc.
Vivemos momentos que guardo com muita nostalgia mas acima de tudo com a certeza de que nos estava a preparar para a grande estrada, a gigante roda da vida e agradeço imenso tudo o que fez por nós.
O texto termina Assim. Já reformada, leccionou durante 43 anos, 10 meses e 23 dias. É
obra.
Por: OMAR NDAVOKA