Sempre achei que as ofertas ou os favores diminuíssem o nosso poder de decisão, levando-nos, de quando em vez, à posição de mudez face às acções ou às opiniões do concessor.
O problema jamais esteve na oferta ou no favor como tais, mas, muitas vezes, no concessor, claro há excepção à regra.
Quem muito nos dá acaba por ter algum poder sobre nós, levando consigo, quer queiramos, quer não, a nossa liberdade, deixando-nos irresistíveis à sua vontade.
Ver-se sem liberdade para dizer não onde quer que esteja, mesmo estando solto, é uma outra forma de estar sob grilhões.
E isso é a condição de muitos em relação aos concessores. Cuidemo-nos dos favores ou das ofertas, não importa de quem vêm, eles, às vezes, sem o consentimento do concessor, têm como pano de fundo: silenciar-nos.
A minha preocupação não está em recebê-los, mas fazer disso uma prática ininterrupta: é um veneno à sua liberdade.
Olhe como o seu aluno lhe trata por ser sempre alvo dos favores ou das ofertas dele! Olhe como o seu chefe lhe trata por ser sempre alvo dos favores ou das ofertas dele! Olhe como o seu namorado lhe trata por ser sempre alvo dos favores ou das ofertas dele.
Olha como a sua ovelha lhe trata por ser sempre alvo dos favores ou das ofertas dele! A liberdade de reivindicar e lutar pelos nossos direitos é um privilégio, logo deve ser protegida onde quer que estejamos, evitando quaisquer ferramentas que a dificultam de ser ser exercida.
Ninguém, portanto, na condição de dependente, exerce cabalmente a sua liberdade. Não nos conformemos com a posição de quem só recebe, sendo um lugar de quem, a qualquer altura, poderá ver a sua liberdade inactiva.
Trabalhemos e construamos a nossa própria autonomia, dado que é feliz, dentro do gozo da sua liberdade, quem se move onde quer que esteja.
Crescer para dar também é uma forma de conferir asas à sua liberdade, não seja só alvo de ofertas, seja também concessor, isso é terapêutico.
A condição de pedinte não pode ser um lugar cômodo ou eterno, pelo contrário, tem de ser breve e espinhoso.
Que cresçamos dando e recebendo, pelo menos assim, ninguém sequestra a liberdade do outro.
Por: ANTÓNIO RAIMUNDO