Estive a apreciar as Olimpíadas de Paris 2024, especialmente a modalidade de ginástica artística (salto, trave e solo), onde Simone Biles e Rebeca Andrade protagonizaram um recital de bem executar esta bela arte, o que deixou até pessoas como eu, que pouco entendem e acompanham a modalidade, pregadas no sofá até tarde, com os olhos fixos na TV, para não perder nem um segundo daquelas brilhantes apresentações, cheias de arte, talento e perfeição.
Um recital de bem fazer, que regalaram os nossos olhos com talentos excepcionais, únicos e espectaculares. Foi espantoso chegar a casa e encontrar a minha filha pequena, de quase três anos, a dar cambalhotas no sofá e a dizer que quer ser como Simone Biles, demonstrando o enorme poder de influência que pessoas como ela exercem nas crianças e nos jovens.
E, com certeza, milhares de crianças pelo mundo querem ser Simone, e muitas irão iniciar a carreira de ginasta inspirando-se nela. Toda esta influência é derivada do talento, da facilidade com que uma determinada pessoa apreende ou executa uma determinada actividade e da sua predisposição para realizar extraordinariamente bem uma acção extremamente difícil e complexa, aos olhos de todas as outras pessoas.
Os talentos são infinitamente diversos, e podemos encontrá-los nas mais diferentes actividades da vida humana, desde a arte, pintura, ciência, música, dança, escrita, raciocínio lógico, pensamento estratégico, relacionamento interpessoal, desporto e tantas outras.
Talentos devem ser desenvolvidos e utilizados a serviço e para o bem da sociedade. Apreciar o talento de alguém é das coisas mais prazerosas que existem. O talento pode transformar o difícil em extremamente fácil e até desafiar a compreensão humana, as leis da gravidade e da natureza.
Pessoas talentosas rapidamente se tornam verdadeiros ídolos para a juventude e, com as suas acções e feitos, moldam o pensamento e acções dos jovens. Ídolos são pessoa que nos inspiram, motivam e alegram, atraem milhares de seguidores que desejam ser como eles e tentam copiar os seus feitos. Um ídolo é uma referência importante para moldar o carácter e a forma de ser e estar dos jovens, e até de adultos.
Um ídolo não apenas pode influenciar a formação do carácter e da personalidade de milhares de pessoas, como também pode influenciar o desenvolvimento e até o sucesso ou insucesso das mesmas.
O ídolo, na maioria das vezes, investido de um talento excepcional, tem mais poder de influência sobre os jovens do que os próprios progenitores ou educadores, e isto pode ser um bem valioso ou um mal inigualável.
Ao apreciar os talentos nestas olimpíadas e viver tais emoções, pensei sobre os talentos existentes actualmente em Angola: onde estão os nossos talentos? Onde estão aqueles que executam uma determinada arte, tarefa ou acção com tanta facilidade e de forma tão perfeita, que encantam qualquer um e o mundo?
Onde estão os nossos talentos no desporto, jovens que encantam o mundo e que levam a bandeira nacional aos principais pódios do mundo? Onde estão os nossos ídolos da actualidade?
Aqueles que nos fazem ficar colados à TV para os apreciar e aplaudir, que nos inspiram e fazem almejar ser como eles? Onde estão os ídolos angolanos que arrastam multidões e enchem campos e pavilhões, que “lá fora” não dão bandeira e fazem-nos sentir orgulhosos de sermos angolanos?
Por onde andam os talentos e ídolos angolanos que entoam o nosso Hino Nacional nos pódios internacionais e escrevem com letras de ouro o nome de Angola?
Por onde andam os ídolos talentosos, que são uma influência positiva para a juventude e para as crianças e que fazem parar o país quando actuam? Aonde andam as nossas “Simones e Rebecas” angolanas, os nossos “Phelps, Messis e Ronaldos” angolanos?
Onde estão os nossos estudantes brilhantes, que lideram os quadros de honra nas nossas universidades e que estão preparados para competir internacionalmente? São esses que devem ter espaço de antena abundante nos nossos programas de entretenimento da TV e da rádio, são esses que devem ser destacados e anunciados ao mundo.
Onde estão os que tiram as maiores notas nos concursos públicos realizados na função pública, os que passam em vários concursos com notas altíssimas, os prodígios do conhecimento, das ciências exactas, físicas e biológicas, os génios da Medicina e da Matemática, os jovens que se destacam em diversas áreas da vida social e cultural?
Estes devem ter espaço de antena, para que os possamos conhecer e apreciar e para que nos inspiremos neles. Os bons exemplos, os nossos talentos excepcionais, devem ser identificados, apoiados e expostos, para que sirvam de referência para a sociedade e provem que Angola tem potencial.
O que falta para os nossos talentos, os nossos craques, os nossos ídolos angolanos conquistarem o nosso continente e o mundo com os seus talentos? Que apoio necessitam? E quem deve apoiar?
Tivemos, num passado muito recente, verdadeiros ídolos que conquistaram o espaço nacional e além-fronteiras, que nos fizeram sentir um orgulho imenso de sermos angolanos.
Nomes como Mantorras, Jean-Jacques da Conceição, Miguel Lutonda, Akwá, Flávio, José Sayovo, a Judoca Maria de Fátima (Faia) e outros fizeram-nos chorar de alegria e orgulho.
Esses atletas faziam-nos esquecer as malambas da vida e acreditar num futuro melhor. Talentos devem ser promovidos e incentivados, para que a juventude possa inspirar-se nos mesmos.
Devem ser guias para a formação intelectual dos mais novos e, com o seu exemplo de esforço e superação, constituir-se como alavanca para o crescimento dos jovens.
Os jovens precisam de modelos, de inspiração, de guias, de quem seguir, independentemente da área ou acção, desde que sejam talentos que promovam o bem e a harmonia social.
Precisamos de pessoas que inspirem verdadeiramente os jovens pelo exemplo das suas acções e feitos e, sobretudo, que levem o nome de Angola ao mundo, passando uma mensagem de que somos um povo de talentos.
Por: Osvaldo Fuakatinua