Diferentes culturas são diferentes visões do mundo, afirma-se à base da experiência e do contacto humano, sua condição cultural auto- diversificada. A cultura é a lente com a qual se vê o mundo, molda-se o pensamento, constroem- se princípios e todo o agregado de que dispomos. Antes, é conveniente que se compreenda um elemento fundamental na expressão cultural e qual- quer outra com a qual o mundo nos é perceptível, a língua/linguagem.
Heidegger foi excepcional quando, contundentemente, afirmou que “a linguagem é a morada do ser”, deixando claro que o ser não é senão pela linguagem que manifesta a sua presença, o seu reflexo de existência neste vasto universo. Outro facto por esclarecer é a cultura, a sua natureza passível de múltiplas interpretações, quais nos mostram as diferentes concepções que se tem dela. Se ela é a lente com a qual vê o mundo, essa lente abrange, inevitavelmente, todos os aspectos da vida: sociopolítico, económico, educacional, intelectual, emocional, etc.
Sendo a experiência de cada povo, a cultura é o retrato do mundo processado pela linguagem/língua. Corroborando com Hum- boldt aquando da afirmação segundo a qual “cada língua constitui uma mundividência”. Percebe-se com Benveniste a relação existente entre linguagem e pensamento, na declaração “a linguagem tem o poder de renascer pelo seu discurso o acontecimento e a sua experiência do acontecimento. Aquele que ouve apreende primeiro o discurso e através desse discurso, o acontecimento reproduzido”. Nesse sentido, a linguagem “é logos, discurso e razão juntos”.
É pelo uso diferenciado da língua e da linguagem que o ser humano é social, político e religioso, não meramente um animal biológico, incapaz de experimentar os mais íntimos prazeres da existência. Orienta-se da razão, não somente de um instinto natural — um dispositivo de sobrevivência —, explorando e fazendo grandes modificações à natureza, adequando-a às suas necessidades e aspirações.
Será a linguagem humana o instrumento através do qual o ser humano afirma-se como o mais evoluído dos seres no oceano existencial. Outra perspectiva pela qual se analisa o poder da língua/linguagem humana atrela-se à declaração de que conhecer uma língua é conhecer a alma dos seus falantes. Um facto disso é a necessidade de se aprender a língua de um povo que se pretende estudar para compreender com profundidade as razões da sua experiência, sua prática social, enfim, a sua forma de pensar e de ser.
Como se nota na abordagem, a língua/linguagem humana não é somente um instrumento de comunicação/interacção social através da qual mantemos o diálogo constante; é igualmente um elemento de existência, conservação cultural, histórica; um elemento que distingue o homem dos outros seres com os quais partilha o universo. Portanto, o reflexo da vida constitui-se da língua/linguagem, por ser o elemento principal que permite uma viagem profunda sobre as diferentes experiências, culturas e histórias humanas.
POR: MANUEL DOS SANTOS