Animados pelos desenvolvimentos registados na cena política nacional vamos para o ano 2018 carregados de expectativas, embrulhados em incertezas num invólucro de lustro, dominados pela candura das promessas expressas que deixam antever tempos resplandecentes.
POR: Paulo Gomes
Está toda gente a aguardar a ocorrência de acontecimentos consonantes com a pertinência dos discursos. Poucos se prestam a vaticinar um mau agoiro na concretização dos desígnios que visam o bem comum. Só não se sabe bem ainda se estão todos preparados para ajudar a atingir estes objectivos.
Por agora, proliferam teorias eufóricas e análises enviusadas com sobredoses de subjectivismo e, certas vezes, despidas de coerência, fruto da avidez assustadora por uns momentos de fama em estâncias consignadas para o debate intelectual nos meios de comunicação social convencionais e nas redes sociais suportadas pelas novas tecnologias de informação. Nesta corrida a Internet, por exemplo, traz-nos como grande novidade, no campo musical, o surgimento de estrelas que não precisam brilhar pela sua competência vocal ou pelo conteúdo das suas canções mas, pela sua capacidade de sedução e de colocar aqui para fora o melhor espectáculo de pouca vergonha.
A nudez passou a ser uma boa âncora para atrair audiência e ter o nome na boca do povo. Por incrível que pareça, há promotores que comprometem o seu capital no agenciamento desta trupe insana. E, pelos vistos, nem as instituições vocacionadas juntamente com as beatas e as organizações defensoras da moral e dos bons costumes da nossa sociedade estão a conseguir identificar as melhores armas para travar este fenómeno. Talvez fragilizados pelo prévio pedido de clemência, astutamente enrolado no refrão para abrir o livro sem maldade, não sobrem então forças para fazer face ao miserável desfile de indecências. Enquanto isso, distraímo-nos a sonhar fazer de cada parcela do nosso território um património da humanidade, quando ainda somos incapazes de apresentar um plano de exploração das potencialidades de Mbanza Kongo que, meritoriamente conseguiu esta classificação.
Para mal dos pecados, ainda não nos podemos considerar artífices de um catálogo cultural internamente massificado e dentro dos padrões aceites mas, já estamos a almejar atingir notoriedade e grandeza internacional. Vamos devagar. Para começar, tenhamos coragem de perceber o que se passa aqui dentro. Fala-se da necessidade de estimular as pessoas ao gosto pela leitura e não são defendidas subvenções para que os livros sejam produzidos, na sua totalidade, aqui no país. Os escritores e editores são obrigados a recorrer às gráficas estrangeiras para terem as suas obras impressas. Tal como os músicos o fazem para ter os seus discos à disposição do público.
Ficamos atónitos com a facilidade como se atribuem responsabilidades públicas a pessoas totalmente descomprometidas com determinadas causas nacionais. São os casos da embaixadora para o corredor do Kwanza e da rainha do carnaval. Mas, queremos acreditar existir ao menos uma estratégia e recursos para não ficarmos pelas intenções que, em abono da verdade, são de louvar. Espera-se que 2018 venha com a moratória de repatriamento de capitais, com acesos debates políticos, com uma sociedade civil mais interventiva e cooperante, com menos charme mediático e mais acção reflectida na implementação de políticas públicas ajustadas às necessidades das comunidades, com mais promoção dos nossos valores culturais, dando dignidade aos artistas e sem a nossa exacerbada mania das grandezas.