Cada mudança na esfera económica, social ou política, remete os indivíduos para um processo diferenciado ou equivalente, isto é, de reflexão, crítica, tristeza, reminiscência ou ainda de transformação psicológica, que pode ser positiva ou negativa, a depender do tipo de mudança.
A subida da tarifa de táxis colectivos e transportes públicos colectivos urbanos, apesar de não me parecer ser novidade, uma vez que foi precedida da retirada da subvenção dos combustíveis, noutrora feita pelo Estado, causou o que elencamos no parágrafo anterior.
Aliás, para alguns, caiu como um balde de água fria, gerando sentimento de tristeza, sucedidos de reclamações.
A primeira das várias reclamações prende-se com o facto de a subida da tarifa dos transportes públicos colectivos urbanos ter sido de 50 para 150 Kwanzas, o que gerou desconforto para muitos que, na altura, não tendo como custear os vulgos kandongueiros, viam nos transportes públicos, a solução.
Refiro-me, principalmente, aos funcionários públicos e estudantes que poupavam 100 Kwanzas, num percurso longo até ao destino, apanhando apenas um autocarro de uma das operadoras, como por exemplo a TCUL, ou aos que poupavam 50 Kwanzas, apanhado um azul e branco.
Que facilidade e felicidade e quiçá, alívio, apesar da superlotação praticada por algumas transportadoras. A máxima segundo a qual, “Éramos felizes e não sabíamos” ganhou destaque no dia-a-dia, com a alteração das tarifas das corridas nos transportes.
A segunda reclamação é a de que, há injustiça, uma vez que, para uns, a subida verificada é de 50 Kwanzas e para outros, de 100 Kwanzas.
Não obstante os visados não estarem a cumprir com o disposto no Decreto Presidencial n.º 128/10, de 10 de Junho, que autoriza a tarifa de 200 Kz, numa rota de 16 Km de extensão, para os da privada e 20 Km para os transportes públicos.
A verdade é que, segundo adiantam, antes, mesmo pagando 150 Kz nos kandongueiros, as rotas já eram curtas, o que lhes dava benefício.
Actualmente, com a entrada em vigor, do Decreto acima referenciado, a situação só piorou, no que diz respeito à prática da corrida por linhas curtas, sendo que, há incumprimentos, que só serão substituídas pela legalidade, se os entes de direito colocarem a lei a funcionar.
Nisto, entra a questão de uma fiscalização rigorosa, a fim de não deixar o pacato cidadão, paupérrimo. Muitas reclamações em volta desta situação.
Nos vários grupos do WhatsApp em que estou inserido, a conversa da semana de 14 a 20 de Maio foi esta. Do muito que pude ler, entre memes e coisas sérias, chamou-me atenção o seguinte: “Governo reajusta só o preço dos lotadores.
Aqui no Golfe 2 está a sair muita confusão entre os lotadores e cobradores.” Uns tornaram-se “amigos das calculadoras” e por isso, concluíram que, alguns kandongueiros têm agido de má-fé, sendo que, por exemplo, quem sai do São Paulo ao bairro Comandante Dangereux, gasta no mínimo 1.000 Kwanzas para a corrida ascendente ou descendente, uma vez que, do São Paulo de Luanda até ao Aeroporto são 200 Kwanzas, do Aeroporto ao Rocha Padaria 200 Kwanzas, do Rocha Padaria a Gamek 200 Kwanzas, da Gamek a Vila da área com o mesmo nome, 200 Kwanzas e da Vila do Gamek ao bairro Dangereux 200 Kwanzas.
A isto, acrescentam-se as várias comparações e reclamações que têm sido feitas. O preço da cesta básica consta das comparações e reclamações. Aliás, é o calcanhar de Aquiles que se arrasta há alguns meses.
Uma outra, a que tive acesso num dos grupos do WhatsApp, é de que deveria ser criado um Decreto que extinguisse a existência dos lotadores (auxiliares dos cobradores no preenchimento dos lugares das viaturas nas várias paragens de Luanda, uma prática que se verifica desde 2012, se não estiver equivocado).
Muito antes deste período, o sujeito lotador não existia senão o cobrador, “cobele” ou “gerente”. Confesso, caro leitor que, quando me deparei com esta informação ou sugestão de um internauta amigo, entrei em cogitação.
O que não me permitiu opinar, muito menos acompanhar o debate por completo. Li apenas alguns comentários que corroboravam com a ideia principal.
A justificação é a de que fazem muita confusão, praticam roubos e muitas vezes danificam o meio daquele que, não se sujeitando a colaborar, entendase, pagar o ordenado correspondente que, segundo sei, varia em função do preço da corrida praticada.
Os indivíduos em causa, muitas vezes não precisam de autorização para lotar ou carregar o meio, muito menos consultam ao condutor se aceita ou não partir pela prática.
Eles tomam a viatura como se deles se tratasse e lotam, o que sempre me pareceu ser um pré-acordo com todos os automobilistas da província em questão, para não falar das outras realidades desconhecidas por mim.
É verdade que algumas atitudes dos sujeitos em questão lesam a integridade do automobilista, mas seria melhor se olhássemos também para o positivo praticado por eles, pois, além de terem a actividade em causa como o sustento das suas famílias, exercem um papel psicossocial muito importante.
Ora vejamos, antes da existência destes, não se usavam determinados termos actualmente usados por muitos. Termos como, “emagrece” (afasta ou encosta), “lombado” (cheio ou lotado), “aperta” (estaciona), “paxi” (passageiro),
“placa” (local de concentração dos lotadores), “mbaia” (ultrapassagem), “arreia” (recua), “caras” (valores monetários), “nduta” (motorista), “carapau” (comissão), são frutos dos praticantes desta actividade, que do meu ponto de vista, é um contributo para o enriquecimento da língua.
Outrossim, um dado que provavelmente muitos não dominam é que, hoje e por hoje, existem aquelas pessoas que, por razões de saúde ou para evitarem empurrões nas paragens reservadas para carga e descarga de pessoas e bens, principalmente, quando as mesmas estão abarrotadas, têm o lotador como auxiliador, isto é, esbarram-se num canto e, em troca de algum carapau, encontram um lugar para acomodar o cliente, sem que este se sujeite aos empurrões, o que denota que estes têm contribuído de que maneira, para o bemestar psicossomático de muitos indivíduos, uma vez que tais empurrões e não só, podem ser elementos estressores, ou seja, elementos que causam estresse.
E, porque nem tudo é uma desordem entre os lotadores, os espaços escolhidos como suas placas ou lugares de concentração, acomodação e/ou distribuição de tarefas, bem como as paragens de táxis, são higienizados por eles. Estas e outras práticas boas dos lotadores levam-me a destacar o seu papel psicossocial, quer seja em Luanda ou fora dela.
São atitudes positivas, apesar de existirem alguns que, desvirtuam a sã convivência, criando dissabores, como os roubos de bens dos transeuntes e passageiros, no local onde exercem a actividade de lotador.
O que se propõe, ao invés da extinção desta actividade que retira muitos jovens das más práticas no seio familiar e não só, é a criação de uma lei ou organização para orientar a actividade e a actuação destes, como se fez com os taxistas e outros, acreditando-se que, desta forma, o Estado estaria a salvar muitos jovens do mundo da delinquência, se considerarmos a máxima bíblica segundo a qual, “mente desocupada é oficina para o mal”.
Prezado leitor, por hoje, esta é a paragem obrigatória. Até a próxima!…
Por: VALENTINO FREDERICO
*Licenciado em Psicologia do Trabalho e das Organizações (opcional) .