O Pai Natal faliu, está ancorado, desacreditado, ficou fininho, sem qualquer tostão no bolso e as crianças já não esperam por ele. O Pai Natal já não realiza sonhos. O pai natal já não é o centro da imaginação das crianças no natal.
O pai natal “bateu na rocha”. No passado, o pai natal era um homem bem-aventurado, multimilionário, com recursos financeiros ilimitados, capazes de comprar presentes para todas as crianças do mundo inteiro, não importava aonde elas estivessem, o pai natal chegava lá e realizava os sonhos.
O pai natal era um homem gordo, barriga avantajada, barba branca, sempre alegre, bem-disposto, sorridente e que passava o tempo a cantarolar.
Comia e bebia como um Rei, só vestia roupa de marca, casaco, calças e chapéus vermelho feitos por medida e pelos melhores estilistas do mundo, gola e punhos de pele branca, cinto e bota de couro puro rigorosamente engraxada, sempre feliz e a carregar a famosa sacola cheia de presentes, lembranças e brinquedos para as crianças.
O pai natal era transportado pelas suas renas velozes e robustas que transpunham todos o tipo de obstáculo, clima, vegetação ou intempérie, andavam de lés a lés, na neve ou no calor, no asfalto ou em terra batida, escalavam montanhas e venciam precipícios de forma valente e corajosa, com o único objectivo de realizar os sonhos dos pequenos.
Os brinquedos eram esperados 12 meses do ano pelas crianças, uma espera angustiante e alvoroçada, o comportamento ao longo do ano era rigorosamente escrutinado, visando não infringir, para não perder o tão almejado brinquedo do pai natal.
O orçamento do pai natal era robusto, ilimitado e inesgotável, não importava o desejo da criança, desde que tivesse tido bom comportamento ao longo do ano e boas notas eram os requisitos necessários e suficientes para pedir e almejar o que quisesse do pai natal, que ele, prontamente, no natal, sem tergiversar, realizava os sonhos.
Eram desejos e sonhos, alguns bizarros, dispendiosos e caricatos, mas, bastava pedir ao pai natal que ele não media esforços para atender, a sua satisfação era ver a felicidade das crianças.
Mas tal satisfação acarretava custos elevados. Não era apenas o custo de aquisição dos milhares de brinquedos que eram distribuídos no natal, mas o extraordinário custo de transporte e distribuição dos milhares de brinquedos, era a maior operação logística do mundo na época natalícia.
O Pai natal tinha os bolsos cheios e não olhava para os custos. Não importava aonde estivesse, em qualquer parte longínqua deste mundo, incrivelmente, o seu presente de natal chegaria a tempo e hora.
Para além dessa logística impressionante, o trabalho administrativo que tinha de ser realizado, previamente, uma equipa gigantesca lia milhões de cartas com desejos, sonhos e pretensões de todas as crianças.
Depois iniciava-se um trabalho de inteligência ou omnisciência para se apurar a boa conduta de cada uma das crianças ao longo do ano, tudo isso feito minuciosamente em véspera de natal, tudo era tão sincronizado que nada falhava. Impressionante! Naquela altura o pai natal era o homem mais importante do mundo das crianças…, mas, repentinamente, tudo mudou. Hoje, infelizmente, o pai natal faliu.
O pai natal tornou-se um homem magro, triste, desamimado, cabisbaixo, ansioso e impaciente, já não recebe as cartas das crianças, já não esperam por ele, e pior, já não têm sonhos e desejos para partilharem com ele.
O pai natal vive pedindo esmolas em praças públicas, as roupas de marca ficaram farrapos, o bolso afortunado ficou roto, a alegria desapareceu, já não canta e nem sorri, os recursos desapareceram, a fome e a miséria invadiram, ficou desempregado e no seu lar entrou a miséria aguda e profunda.
Ninguém mais acredita no pai natal, sobretudo as crianças actuais, muito menos os adultos, o pai natal caiu em descredito total, o seu nome foi arrastado na lama, humilhado, criou-se o mito de que ele morreu e que já não existe, que é uma farsa e que a “Era Digital e a Tecnologia” servem para substituí-lo.
As crianças deixaram de escrever cartas, agora é só whatsap, deixaram de desejar brinquedos, agora é só mundo digital, deixaram de sonhar, agora o sonho é virtual, deixaram de ter bom comportamento e de tirar boas notas, deixaram de acreditar na fantasia, nos sonhos e na existência do pai natal.
A tecnologia substituiu o pai natal e o levou a falência geral. Os sonhos e fantasias deixaram de existir, um “virtualismo” depressivo e selvagem evadiu as nossas casas, roubando a infância e a inocência das nossas crianças.
O lugar dos brinquedos foi substituído pelos smarts fones, ipads e pelas televisões satélites com mil e um canais disponíveis 24 horas dia, que ocupam, abruptamente, as mentes e o tempo das crianças, tornando-as seres conectados a um “ser virtual” desconhecido, mas extremamente atrativo, evasivo e perigoso.
Os sonhos e fantasias foram substituídos pela dependência da internet, da netflix, dos bonecos animados e de todas as ferramentas digitais de distração, que roubam a atenção das crianças, tornando-as extraordinariamente conectadas ao virtual e absolutamente desconectadas da realidade.
Tais instrumentos tecnológicos convenceram as crianças e alguns adultos de que não se vive sem o telemóvel, sem os tablets e sem toda a gama de conexão e tecnologia, criadas e montadas para entreter e captar a atenção absoluta das nossas crianças.
Tais engenhos arrastaram o pai natal para a falência técnica e a cair em desgraça e em descrença.
O pai natal faliu, ninguém mais acredita nele, nenhuma criança hoje espera pelo pai natal no dia 24 ou 25 de dezembro, nem pelos seus brinquedos, nem para realizarem os seus sonhos de receberem um presente especial.
As renas, coitadas, já não viajam do norte ao sul e nem transpõem montanhas, ficaram magrinhas e sem forças, o budget está zerado, pela má gestão dos recursos e pela descrença das crianças. O pai natal já não realiza sonhos. O pai natal faliu e com ele… todos os sonhos…
Por: OSVALDO FUAKATINUA