A eleição de Donald Trump para um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos representa uma nova e complexa fase para o mundo. Com uma agenda marcada por políticas económicas proteccionistas, uma abordagem isolacionista e uma postura firme em relação a conflitos internacionais, Trump coloca o mundo diante de um desafio: como adaptar-se a uma América menos presente nas questões globais e mais voltada para dentro das suas próprias fronteiras? Para África, e em especial para Angola, o momento exige reflexão, adaptação e, acima de tudo, uma resiliência estratégica.
Com o retorno de Trump, o nacionalismo económico volta ao centro das decisões americanas. Tarifas elevadas, proteccionismo e restrições à imigração fazem parte do pacote que, segundo o próprio Trump, visa “fortalecer a América”.
Contudo, essa mesma estratégia pode ter repercussões globais severas, que vão além das fronteiras americanas. Para países que dependem do comércio com os EUA ou da estabilidade dos mercados globais, como Angola, essas políticas representam um alerta. Um exemplo claro é o impacto no comércio de commodities.
Angola, cuja economia é fortemente dependente das exportações de petróleo e minerais, pode sentir os efeitos de uma desaceleração económica global ou de uma guerra comercial mais agressiva entre os EUA e a China.
Com tarifas adicionais e restrições ao comércio, os preços das commodities podem sofrer uma queda, afectando directamente a nossa capacidade de geração de receitas. Porém, em cada desafio existe uma oportunidade.
A diminuição do envolvimento dos EUA na economia global cria um espaço para novas parcerias e colaborações. Países como China, Rússia e até mesmo blocos regionais europeus podem tornarse aliados estratégicos, dispostos a investir em infra-estrutura e desenvolvimento em África.
O Corredor do Lobito, em Angola, por exemplo, pode se tornar um activo ainda mais atraente para investidores chineses ou europeus, oferecendo uma rota crucial para o transporte de minerais que o mundo continua a demandar.
África, que historicamente tem sido vista como receptora de investimentos estrangeiros, tem agora a chance de se posicionar como um parceiro estratégico. Se nos organizarmos e reforçarmos a nossa integração regional, podemos apresentar um continente unido e forte, apto a negociar de igual para igual com outras potências.
A Zona de Livre Comércio Continental Africana é um passo promissor nessa direcção, permitindo que África fortaleça o seu mercado interno e reduza a dependência de mercados externos.
O continente africano tem uma das populações mais jovens do mundo, um verdadeiro tesouro para enfrentar os desafios futuros. Em Angola, essa juventude representa não apenas um recurso humano valioso, mas também uma fonte de inovação e dinamismo.
Num cenário global incerto, essa nova geração tem o potencial de reinventar a nossa economia, com uma visão voltada para o empreendedorismo e o desenvolvimento sustentável.
Os jovens africanos estão cada vez mais conectados, empreendedores e desejosos de participar activamente na construção do futuro dos seus Países. Com um investimento adequado em educação, tecnologia e capacitação, essa geração pode impulsionar África a ocupar um papel de liderança no mercado global, não apenas como fornecedora de matérias-primas, mas como produtora de inovação. Angola, em particular, tem um papel importante a desempenhar.
Como uma Nação rica em recursos naturais e com um posicionamento estratégico, o nosso País pode ser o ponto de partida para uma África mais integrada e auto-suficiente. Para isso, é fundamental que Angola continue a investir em infra-estruturas, diversificação económica e parcerias internacionais que realmente tragam benefícios a longo prazo.
O Corredor do Lobito, que liga o Atlântico ao coração do continente africano, simboliza essa capacidade de integração regional e crescimento sustentável. Ao fortalecer projectos como esse, Angola pode liderar pelo exemplo, demonstrando que a colaboração intra-africana pode ser uma resposta eficaz às incertezas do cenário internacional.
O mundo está a mudar, e África está numa posição única para responder a essa transformação. A eleição de Trump pode representar um afastamento dos EUA de várias questões globais, mas isso não significa que África ficará à margem das grandes decisões.
Pelo contrário, essa nova era exige que os países africanos sejam resilientes, auto-suficientes e, acima de tudo, unidos. Para os jovens, isso significa um futuro de oportunidades, onde o seu talento e inovação podem fazer a diferença.
Para os líderes africanos, é uma chamada à acção para construir uma África mais forte, onde o desenvolvimento económico e a coesão social caminham lado a lado. Em vez de ver os desafios globais como ameaças, África pode vêlos como o combustível necessário para o seu próprio crescimento. Com uma visão estratégica, parcerias bem seleccionadas e o compromisso da nossa juventude, podemos transformar este momento numa nova era de prosperidade para o continente.
Que África, e particularmente Angola, continuem a ser o coração pulsante de um futuro global resiliente e próspero. Essa é a oportunidade de reafirmar o nosso papel e construir uma nova narrativa, onde somos não apenas beneficiários, mas também protagonistas do cenário mundial. Angola está preparada para enfrentar este desafio.
A nossa juventude vibrante, a nossa riqueza em recursos naturais e a nossa posição estratégica fazem de nós um País essencial para a construção dessa nova África.
Vamos investir na formação, na inovação e no empreendedorismo, para que cada um de nós possa contribuir para uma Angola mais forte e uma África mais integrada.
Por: EDGAR LEANDRO