O General de Exército João de Matos está a ser homenageado pela sociedade castrense, respondendo a um desafio do General Francisco Furtado, chefe da Casa Militar do Presidente da República e ministro de Estado.
Enquanto viveu, esteve sempre na primeira linha. Esta homenagem era uma dívida que os seus camaradas de armas e sobretudo o Estado Angolano tinham de pagar, quanto mais cedo melhor.
Venceu a dignidade, a honra, o patriotismo. O General de Exército João de Matos comandou as Forças Armadas Angolanas (FAA) desde o seu nascimento, em 1992, até infringir “uma monumental tareia militar à UNITA” como prometeu.
Em 14 de Setembro de 1999, o General da Estratégia lançou a sua maior ofensiva contra as forças militares da UNITA. Em Dezembro, 80 por cento da capacidade combativa das FALA tinha sido destruída.
As melhores armas e os melhores soldados e comandantes, escondidos nas bases secretas do Cuando Cubango, estavam praticamente fora de combate. Em Setembro de 2000, o Presidente José Eduardo dos Santos recusou o pedido de conversações formulado pela UNITA. E deu três hipóteses ao Dr. Jonas Savimbi: Aderir à democracia, render-se ou morrer em combate. Escolheu a pior.
O general João de Matos é um dos grandes vencedores da Guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial mais a rebelião armada entre 1992 e 2002. Ainda que na data de “nem mais um tiro” já estivesse ao comando o General Armando da Cruz Neto.
Ditosa Pátria que tais filhos têm. Homenagear o General de Exército João de Matos é ao mesmo tempo colocar nos trilhos da História Contemporânea de Angola uma geração de jovens que conduziu Angola à Independência Nacional que caminha para completar 50 anos e foi a base da grande vitória contra o regime racista de Pretória.
Os jovens nascidos no ano de 1955 (como João de Matos) tinham de cumprir serviço militar obrigatório nas forças armadas portuguesas no ano em que faziam 20 anos (1975). Aos 19 anos tinham de “dar o nome” nos Distritos de Recrutamento.
Os faltosos eram severamente punidos, quase sempre na Casa de Reclusão de Luanda (Fortaleza do Penedo). As gerações nascidas até ao ano de 1960 foram em massa para as FAPLA. Restam poucos mais ainda estamos no activo.
Adolescentes entre os 14 e os 19 anos apareceram, voluntariamente, nos Centros de Instrução Revolucionária. Acabaram por ser a coluna vertebral das forças que lutaram na Guerra da Transição (1974-1975) e garantiram os longos anos de guerra contra as tropas invasoras do regime racista de Pretória, até aos Acordos de Nova Iorque e depois o Acordo de Bicesse.
Gerações de Heróis Nacionais e chefes militares de valor excepcional. Algumas centenas de jovens que em 1974 deviam integrar as tropas portuguesas acorreram ao Centro de Instrução Revolucionária de Cazage, dirigido pelo Comandante Matos Grosso, que combateu na frente Leste sob a bandeira do MPLA. Entre estes jovens patriotas, estava João de Matos.
Mas também alguns jovens de 18-20anos, Mário Plácido Cirilo de Sá (Ita), Seteco, Rui Apache, Kunjuca. Ou Francisco Furtado, hoje ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da Republica.
Uma plêiade de quadros saídos dos bancos das escolas secundárias e da Universidade. Estavam todos destinados aos cursos de sargentos e oficiais das forças armadas portuguesas, depois de uma passagem pela Escola de Aplicação Militar de Angola, na cidade do Huambo. E também nas sedes dos vários regimentos.
A História Contemporânea de Angola vai registar esta juventude nascida entre 1955 e 1960, alguns fizeram parte do Batalhão que capturou o famigerado mercenário Callan ( Pedrito, Guerrito e Pety) como a decisiva na luta pela Independência Nacional e durante a Guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial.
Quase todos os oficiais das FAPLA, em todos os escalões, saíram dos Centros de Instrução Revolucionária espalhados pelo país ( homenagem a minha companheira de caserna Domingas Alfredo Gil, hoje Brigadeiro e Directora do Museu das FAA).
Na retaguarda e durante a Guerra de Transição, as forças que conduziram Angola à Independência Nacional e depois defenderam a soberania e a integridade da Pátria Angolana eram integradas por jovens angolanos que cumpriram serviço militar obrigatório nas tropas portuguesas. Muitos tinham frequentado os cursos de sargentos e oficiais milicianos. Sem essa reserva estratégica nada teria sido possível.
As forças de ocupação formavam sargentos milicianos de recrutamento local desde os anos 50. Em 1974 eram milhares! Em 1966 começou o primeiro curso de oficiais milicianos. Em oito anos, foram formados mais de 1.200.
Destes pelo menos 50 por cento aderiram às FAPLA. Os inimigos de Angola nunca imaginaram que tinham de se bater nos campos de batalha, contra uma Juventude Angolana bem preparada na arte da guerra por um país da NATO como Portugal. Todos cumpriam, no mínimo, três anos de serviço militar.
João de Matos foi directamente para o CIR do Cazage. Não ingressou nas fileiras das tropas portuguesas. Praticamente todos os seus companheiros do CIR do Cazage fizeram esse percurso. Só podia dar a retumbante vitória que deu.
O General de Exército que nos deixou háoiro anos estudou Ciências Militares na Academia Militar de Frunze, União Soviética. Foi tudo na sociedade castrense, desde comandante de companhia a Chefe do EstadoMaior General das Forças Armadas Angolanas (1992 a 2001). A ele e ao seu Estado-Maior se deve a reorganização das FAA e a mudança de estratégia, ele que era um mestre nesta área.
Quando regressou à vida civil tornou-se empresário e dedicou muito do seu tempo à Fundação Kissama da qualfoi fundador e presidente. Deu um impulso único na reabilitação, conservação e desenvolvimento da fauna e flora de Angola. Em 2010 lançou o programa Arca de Noé, para repovoar o Parque Nacional da Quiçama com vida animal. Foi um ambientalista tão notável e eficaz como chefe militar.
A ele devemos também a criação do Centro de Estudos Estratégicos de Angola (CEEA) que está parado mas vai agora ser revigorado. Angola precisa de estratégia a todos os níveis. Precisa de mestres de Estratégia como foi João de Matos.
E precisa sobretudo de honrar os seus combatentes de todas as épocas. Os que se bateram contra o colonialismo, contra os invasores estrangeiros e contra a rebelião ramada. O General de Exército João de Matos merece ser lembrado como um Angolano de excepção. Os Heróis Nacionais não morrem no coração do Povo.
Por: ALBERTO KIZUA
*Tenente-General