Étiene de La Boétie, filósofo francês, nasceu em Sarlat a 01 de Novembro de 1530 e faleceu a 18 de Agosto de 1563, em Germinan. Dententor duma grande cultura clássica, consequentemente, ocupara-se em toda sua vida com o estudo das línguas clássicas e com a escrita, ofícios que lhe valeram o título de escritor e de traductor de vários autores grecoromanos.
A obra O Discurso da Servidão Voluntária, escrita no século XVI, terá sido, entre a vasta produção, dos poucos monumentos de Étiene Lá Boétie legados a posteridade.
O autor fazendo recurso à metáfora e à pergunta retórica constrói todo o seu discurso, a sua abordagem centra-se sobre a razão primária da humanidade, a liberdade.
Lá Boétie destaca que o homem é naturalmente um ser dotado de liberdade e está para a liberdade, consequentemente, a liberdade é a chave da condição humana.
Para Lá Boétie, a perda da liberdade do homem estaria na origem do nascimento do estado e das sociedades desiguais, porquanto antes do nascimento do estado, as sociedades eram sobretudo igualitárias e dotadas de total liberdade para viver humanamente.
O surgimento do estado constituiu uma ruptura no plano da humanidade e o consequente surgimento da servidão voluntária, ou seja, cria-se a categoria governo/ governado, que, por sua vez, encaminhou a humanidade à tirania, caracterizada como o desumanismo exacerbado de quem detem o poder.
Assim, o cerne do discurso de Lá Boétie encontra a sua espinha dorsal na relação governante/governado.
Como é possível uma pessoa governar hostilmente um conjunto de pessoas? Como se pode conceber que muita gente obedeça a uma só pessoa?
Quanto as indagações levantadas, Lá Boétie diz que uma pessoa consegue se fazer tirana por culpa da maioria que lhe confere o poder.
Portanto, não teria poder algum se não lhe fosse outorgado pela maioria, não mandaria a ninguém se lhe não obedecessem, deste modo, chega-se à conclusão que tirano algum terá poder se aquele não vier da maioria, das massas que se aconvardam sob o hábito da obediência não educada.
Dentre as razões que estão na base da servidão voluntária, Lá Boétie destaca a força do hábito, o hábito é um elemento imprescendível para que as pessoas sirvam escrava e voluntariamente.
Observa o autor que as sociedades novas por costumes antigos continuam a servir a regimes ou a tiranos, servem-nos porque os seus antepassados ou os seus projenitores também os serviram. Portanto, o autor condena com veemência a força que o hábito possui e exorta as massas à desabituação da referida ignorância.
Escavando o fanal da obra, Lá Boétie diz que em sistemas totalitários e ditatoriais, o maior acto de manisfestação ou rebelião é o silêncio, porquanto o silêncio é o símbolo de resiliência contra qualquer acção da ditadura, pois o autor se usa da comparação para assemelhar o poder ao fogo, quanto mais lenha se lhe põe, mas acesa se mantém a sua fornalha.
Por conseguinte, para que as massas não sejam lenhas à fornalha e alimentem o ego dalgum tirano, o autor aconselha-as a optar pela desobediência silenciosa, ou seja, uma vez que a população constitui a força motriz da sociedade, esta deve abdicar das suas funções sociais, consequentemente, tal procedimento reduzirá a força do regime e aquele sucumbirá por si mesmo, sem o uso do poder ou da força para derrubá-lo.
À maneira de ponto de chega, o autor diz que a tirania, a violência e a opressão destroem-se sozinhas quando os indivíduos que compõem as massas se recusam a consentir com a sua própria escravidão, porquanto o poder se constrói com a obediência consentida pelos oprimidos.
Por conseguinte, aconselha-se a leitura desta monumental obra do século XVI que se faz cada vez actual e atuante para a compreensão e a leitura das sociedades e dos tempos na contemporaneidade líquida.
Por: Alcino Luz