Faz dias que Lu anda molhada pelas ruas destes guettos, o dormitar do sol causa tristeza à mãe natureza que em poucos minutos, chora pelas suas dores, ora em grande alarido, ora silenciosamente, porém, ouvem-na os que se agasalham nas suas casas, seu choro sobre os tectos, como uma banda musical na qual cada gota representa uma nota, há soprano, há tenor, há contralto, às vezes, há baixo, sobretudo, no inicío do canto, todas juntas formam a melodia chamada “chuva no telhado.”
Há quem ainda ousa em desafiar a mãe natureza, ao sair de casa, faz-se testes de “speed man” ou mesmo de ginástica, se agarrando nas paredes e, com pé, se escolhe qual caminho trilhar.
Há, em cada ruela, pessoa-travessa permutando-se em troca de uma moeda, coração fica na mão quando houver sobressalto ao longo da viagem, quem quer usufuir da obra de arte pintada no chão pela natureza!
Caso as lágrimas da natureza caiam pelas madrugadas, a luta pelo transporte, para os que vão à busca do pão ou à busca do conhecimento, é como uma corrida de atletismo, naquela toda confusão, infiltram-se os inimigos do bem e os amigos do bem dão-se o luxo de ditar os preços da viagem a seu belo prazer.
O luandar não é mar de rosa, há espinho em todo lado. Se a natureza chorar ao morrer do dia, gentes enchem as paragens, faz-nos pensar que os não-luandenses já estão aqui no país, porque já vemos o “muzumbo” de Dezembro, doutro lado, gentes fazem caminhadas longas, como povo de Israel, com suas imbambas, rumo à Terra Prometida, se for ao meio dia, as pontes são abrigos de toda gente, nesta situação, polícias, gatunos, povo, meninos de rua e zungueiras, todos solidarizam-se com a demonstração da vulnerabilidade de cada um, há quem prefere molhar ao caminhar por baixo da chuva, enquanto isto, sem ninguém perceber, choram pela desgraça da vida e por nenhum motivo.
Os dias molhados não param, o dilúvio luandino está às portas, mobílias boiam sobre a maré, outras, por não saberem nadar, se afogam no fundo do oceano habitado, cada pessoa com seu balde, enquanto atiram um, dois, três até mesmo dez baldes de água que formava um aquário nas salas das casas.
Do lado de fora, a vala recebe, de braços abertos, cada filha sua. Já se viu, neste Novembro, carros se transformando em barcos, solfando sobre as águas de Deus.
O mês, no qual Zeus, o deus da chuva, abençoa Luanda, chegou mais cedo, é um Abril nas vestes de Novembro, mostrando que esta senhora vaidosa e astuta não está preparada para chuva nem para serenos fortes, além disso, este fenómeno aumenta o número de crias humanas, porque causa, como se tem dito, clima de fazer filho, nunca de cultivar a terra ou mesmo de assumir e educar os filhos.
Há quem se dá o luxo de não labutar para dar espaço ao sono, outros declaram férias pedagógicas ao faltar às aulas. Vimos, logo, a primeira temporada da saga em Luanda, esperemos pelo Abril, talvez Deus, como a vida em “Angolaninha” está tão difícil, queira nos livrar das pragas futuras da governação que corrigiu o que estava bom e piorou o que estava mal, nunca, portanto, se sabe, decerto, o que cai dos céus, talvez seja mesmo chuva de comida ou moto, enquanto isto, nossos estómagos, esfomeados, vão esperar até ao final.
Por: ESTEFÂNIO JOSÉ CASSULE
*Professor e Estudante de Letras