O ensino de uma língua deve obedecer a princípios e regras. De facto, concordamos com isso, mas desde que ele não se baseie única e exclusivamente nesses critérios.
Entretanto, as redes sociais têm trazido mais embrulhos do que propriamente ensino consciente e digno das nuances que circunscrevem a língua portuguesa.
Neste viés, a fragmentação e mecanização linguística estão a transformar estudiosos em decoradores de regras gramaticais, sem ao menos, infelizmente, uma reflexão à volta dela, qual dizia um professor: “o ensino e aprendizagem de qualquer que seja a ciência precisa ser reflexivo.”
Assim sendo, neste texto, vamos observar algumas abordagens equivocadas e mecânicas que se tem feito diante das palavras PORQUE, POR QUE, PORQUÊ e POR QUÊ. No entanto, ater-nosemos apenas em PORQUE, embora seja evidente que, ligada à PORQUÊ, é a expressão mais problemática.
Conforme espelham as gramáticas da Língua Portuguesa, o PORQUE sem acento possui muitas funções semânticas, tendo em atenção os contextos aos quais foi empregado.
Desse modo, hoje nos importa sua relevância dentro da morfologia, nos casos em que se utiliza como um elemento interrogativo. Consequentemente, alguns formadores, professores e estudantes de português, cujas curiosidades lhes roubam a coerência, afirmam, categoricamente, que se usa o PORQUE apenas quando este apresentar-se qual uma conjunção adverbial causal ou explicativa, para dar uma resposta, sobretudo.
Asseveram também que, em nenhuma circunstância, devemos usá-lo quão um elemento interrogativo. Refutando-os, veementemente, o autor da Gramática para Concursos Públicos, Fernando Pestana, considera essas asseverações como quimeras da língua. Além disso, a Gramática Prática de português, da Comunicação à Expressão, de M. Olga Azevedo; M. Isabel Pinto; M.
Carmo Lopes, página 259, diz-nos, claramente, que é possível, sim, usá-lo para formularmos uma questão, por exemplo, em “PORQUE não entraste?” Além desta gramática, Ester Edite, em Dúvidas de Português, página 16, acrescenta, dizendo: “morfologicamente, o PORQUE é um advérbio interrogativo, pois é possível empregá-lo, normalmente, numa frase interrogativa.”
Por exemplo, em “PORQUE olhar-me tanto assim?” Para finalizarmos, portanto, D’Silvas Filhos, no seu Prontuário de Erros Corrigidos de português, na página 110, vai mais longe, observando que, tanto o PORQUÊ, assim como PORQUE, servem, nalguns contextos, como elementos frásicos de interrogação directa.
Por exemplo, em “PORQUÊ esses PORQUÊS são tão difíceis de serem apre(e)ndidos?” Ou, em “PORQUE não vieste cedo hoje?” Diante disso tudo, aflorar que ensinar é um exercício imprescindível, essencialmente quando expomos um aprendiz à língua, a fim de que este reflicta mais no seu aprendizado e não obrigá-lo a decorar regras que num futuro próximo venham criar-lhes complexidades no domínio da escrita, fundamentalmente se nos apegarmos somente nos estudos gramaticais brasileiros e ignorarmos outras realidades linguísticas adversas a elas.
Por: GABRIEL TOMÁS CHINANGA