Quando a 20 de Janeiro de 2021 aos 78 anos de idade Joseph Robinette Biden Jr. chegou à Casa Branca para se tornar no 46.º presidente da história dos Estados Unidos da América, a Nação mais poderosa do mundo económica, militar e politicamente, nenhum angolano vaticinara que aos 2 dias do mês de Dezembro do presente ano, o político e advogado publicamente conhecido por Joe Biden, estaria a descer as escadas do Air Force One no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, a capital da República de Angola.
O 2/12 foi, obviamente, o coroar de anos de uma intensa jornada diplomática estrategicamente coordenada pelo General João Manuel Gonçalves Lourenço, o 3.º presidente da história de Angola, um Estado que aos poucos vai consolidando o seu papel de potência regional, sobretudo, na região austral do continente africano. Joe Biden efectuou de 2 a 4 do corrente a primeiríssima visita de um POTUS (do inglês President of The United States) ao nosso país. A visita pode ser resumida em três grandes momentos.
O primeiro, talvez o momento mais alto, refere-se ao encontro de Lourenço e Biden no Palácio Presidencial à Cidade Alta, em Luanda. Onde os dois homólogos reuniram junto das suas equipas e passaram em revista temas da agenda diplomática entre ambos Estados.
Neste momento, para além das honras militares dedicadas ao ilustre visitante, destacar, particularmente, a menção de Biden segundo a qual “o futuro do mundo é em África”.
Que se diga, relevando um pensamento bastante patente e discutido por pensadores africanos das várias áreas de conhecimento. O segundo momento tem que ver com aquilo que se pode chamar de reencontro com a história, isto é, a visita ao museu da escravatura e a concomitante comunicação dirigida a um publico composto por governantes, deputados das várias bancadas parlamentares do nosso principal hemiciclo político, entidades religiosas, académicos, representantes da sociedade civil, estudantes, só para citar estes.
O último momento, mas não menos importante, relaciona-se com a saída de Luanda para visitar o centro de um projecto transafricano que pretende revolucionar a logística africana – o Corredor do Lobito.
Em Benguela, Lourenço recebeu Biden no Aeroporto Paulo Jorge na Catumbela, transmitindo ao mundo que Angola é um país com segurança e estabilidade política, daí seguiram por estrada para visitar o Porto do Lobito e, posteriormente, tomarem parte da cimeira multilateral sobre o Corredor do Lobito com a participação dos presidentes Félix Tsisekedi, da RDC, Hakainde Hichilema, da Zâmbia, e do vice-presidente Philip Mpango, da Tanzania; bem como outros stakeholders de peso do referido projecto.
Neste último momento não se pode esquecer o “cair em tentação” de Biden aquando da saudação dos Bismas das Acácias. Vimos um POTUS caído literalmente aos ritmos e às tradições da nossa terra, evidenciando que a nossa cultura é um produto vendível para qualquer povo.
Há unanimidade entre os angolanos sobre o facto de a visita de Biden ter sido um marco histórico para o nosso país. É uma sinalização que eleva a imagem político-diplomática de Angola, ou se quisermos ser mais específicos, um ponto deveras significativo de João Lourenço e sua equipa.
Agora, é importante que se diga, o nosso foco, sobretudo de quem é poder político, deve estar centrado no day after desta histórica visita que nos abre várias perspectivas.
Uma vez o nível estratégico ter feito bem a sua parte, é importante que os níveis táctico e operacional saibam interpretar os sinais decorrentes desta visita e traduzi-las em ganhos palpáveis para as pessoas.
Daí que, do meu ponto de vista, a operacionalização desta visita e, principalmente, do Corredor do Lobito, dependerão de como os angolanos interpretarão as vantagens diplomáticas e políticas da visita ou da aproximação de Angola aos EUA.
Neste prisma o nosso país precisa fazer bem o seu trabalho de casa porquanto nos estamos a relacionar com um dos países mais capitalistas do mundo, logo, valorizam existem factores e vectores a serem corrigidos e ou melhorados para que não se transformem em pontos de estrangulamento.
O day after deve, igualmente, consciencializar-se que os EUA mudaram de administração, logo, urge antecipar-se e usar os canais diplomáticos (e os lobbys necessários) para aproximar-se da administração Trump no interesse de valorizar ainda mais e elevar as relações entre os dois Estados, claro, a fim de buscar respostas dos nossos interesses.
Portanto, verdade seja dita, Angola não atrairá investidores daquele país com a nossa “lengalenga” actual. Precisamos investir nas competências humanas e nas infraestruturas aos vários níveis e sectores, entre outros, com o fito de atrairmos investimentos em áreas estratégicas como a agricultura, o turismo, as tecnologias e a ciência.
É urgente, por isso, desburocratizar uma série de de procedimentos que não melhoram em nada o nosso ambiente de negócio. Esta aproximação com um dos principais defensores da democracia pode nos ser útil, também, no reforço do nosso processo democrático e ou do nosso Estado democrático de direito, a good governance e outros aspectos onde os americanos são conhecidamente fortes.
É verdade que o primeiro e grande passo está dado, mas, não é menos verdade que o sucesso da visita e ou da aproximação aos EUA dependerá unicamente de nós – da nossa vontade de fazer diferente ali onde temos assumidamente feito um mau trabalho ou sido péssimos exemplos no quadro deste mundo global, onde “a globalização se quer integrada e integradora”, como diria o nosso estimado professor António Rebelo de Sousa.
Por: Mateus Paulo Congo