Sinto-me estranho aqui, digo repetidas vezes, não sei o que se passa, mas talvez devesse saber. Se calhar é a nova perspectiva, o novo rumo que as coisas tomaram.
Também já não se entende nada, se estamos à espera de um acto salvífico divino ou se assim mesmo nos bastamos. Dizem que a união faz a força, penso não ser nossa vontade estarmos unidos.
Só penso nesse ser estranho que me tornei na minha própria terra, aqui nasci, cresço e vivo, sou educado, e, provavelmente, terei a última refeição. Quer dizer, nada me poderia parecer anormal, afinal sou daqui, tudo o que sei aprendi aqui, com breve excepção ao facto de que se trata de um lugar físico, pois leituras fazem-nos conhecer outros mundos, outras realidades. Em suma, há sempre outros saberes.
No entanto, deixo isso para uma outra ocasião. Retomando, não me sinto de alma especificamente, já que o corpo continua a sentir os ventos e a apanhar o sol deste lugar, a minha terra. A alma anda inconsolável.
Também deve haver uma explicação em relação à alma— deve-se entender como mente, consciência, enfim, aquela coisa responsável pela nossa condição pensante. É a parte de mim que se desintegra deste espaço geográfico, pois não mais se identifica com ele.
Tem sido, nos últimos anos, um grande desafio estar aqui, dizer a mim mesmo para não entrar em colapso, acredito num possível milagre que devolva o meu eu anterior, embora não fosse lá grande coisa, todavia ainda conseguia sorrir, pois estava de corpo e alma.
O “apenas vive” não é mais suficiente para esconder o meu profundo desespero que se confunde com a decepção de quem põe sementes em terra arável e fértil, no entanto nada brota dali, perde todo o investimento.
O meu desespero nada tem que ver com a decepção, desconfio que seja apenas coisas pelas quais os jovens e adultos, os que se desintegram do pensamento colectivo subordinado a una estrutura altamente controladora, passam. Não encontro muitas opções para explicar isso, mesmo que tente quase sempre, o resultado tem sido o mesmo, ou seja, sem “nov idade”.
Estou cada vez pior, esse sentimento magoa-me a sério, não sei a quem pedir ajuda até então! Queria poder escolher como me sentir e o que sentir, porém não disponho desse direito.
A minha terra é sobejamente conhecida, fica num vasto continente, o berço da humanidade, também das civilizações, continente de homens e mulheres pretas, da selva diversificada, cultura sublime.
Na minha terra a relatividade é um facto da fome, as coisas só conhecem um sentido, o céu é o limite. Estamos sempre subir, como bem cantou Dog Murras. Portanto, sinto-me desconhecido, perdido e estranho aqui. Espero grandes chuvas, de comida principalmente, sem olvidar de melhor educação, economia, emprego, enfim, uma chuva de profundas mudanças e desenvolvimento.
Por: MANUEL DOS SANTOS