Num mundo cada vez mais interligado e com um futuro incerto, em função dos últimos acontecimentos, as relações entre Angola e os Estados Unidos assumem uma nova dimensão, marcada pelo pragmatismo e pela busca de par- cerias estratégicas. O encontro de 30 de novembro entre o presidente João Lourenço e o presidente Joe Biden, sinaliza o compromisso renovado entre os dois países, no 30.º aniversário das suas relações diplomáticas.
Os temas que estarão em discussão refletem uma abordagem abrangente, que objetiva não apenas fortalecer os laços bilaterais, mas também enfrentar desafios regionais e globais. A consolidação da cooperação nas áreas de comércio, investimento, clima e energia destaca a ambição de criar uma parceria que beneficia os dois países. O comércio desempenha um papel central, com Angola sendo o terceiro maior parceiro comercial dos Estados Unidos na África Subsaariana. As exportações incluem maquinaria, aeronaves e produtos de ferro e aço.
A assinatura do acordo-quadro de comércio e investimento é um passo crucial para impulsionar ainda mais a cooperação económica. As relações bilaterais entre Angola Os EUA sempre tiveram altos e baixos. A nível da cooperação comercial, o ano de 2009 é bastante significativo, pois, os dois países assinaram um Acordo-Quadro de Comércio e Investimento (TIFA). A primeira reunião do Conselho Esta- dos Unidos-Angola sobre Comércio e Investimento foi realizada em junho de 2010, em Luanda.
As exportações de bens dos EUA para Angola em 2022 foram de 653 milhões de dólares, um aumento de 46,7% em relação a 2021. As importações de bens dos EUA de Angola totalizaram 1,6 mil milhões de dólares em 2022, um aumento de 53,1% em relação a 2021. Em todo o caso, o destaca deste encontro entre o presidente João Lourenço e o presidente Biden é a Parceria para Infraestrutura e Investimento Global (PGII), uma iniciativa do Grupo dos Sete (G7), tem como objetivo mobilizar 600 mil milhões de dólares em investimentos em infraestrutura em países em desenvolvimento até 2027, onde Angola é um dos países contemplados, no qual os investimentos estão focados no Corredor do Lobito. A PGII é liderada pelo Presidente Biden. Esta iniciativa, vai conectar Angola, a República Democrática do Congo e a Zâmbia aos mercados globais através do porto do Lobito.
O que certamente, será uma peça fundamental na transformação económica de Angola. A visita a Angola da Coordenadora Especial Interina da PGII, Helaina Matza, sublinha o empenho na materialização destes projetos transformadores ao longo do Corredor do Lobito. Helaina Matza tem experiência extensa em negociações, consultoria de política e planejamento estratégico em energia, cadeia de suprimentos, recursos críticos, mudança climática e questões ambientais. É justamente nesta sectores onde os investimentos serão direcionados.
O encontro entre os líderes de Angola e dos Estados Unidos representa um casamento perfeito entre o pragmatismo do Presidente João Lourenço e doutrina Biden, que representa, não apenas um marco histórico, mas também um passo significativo para uma parceria estratégica e mutuamente benéfica no cenário geopolítico contemporâneo. Na medida em que, por um lado, no cenário internacional incerto, com acontecimentos cujo desdobramentos são imprevisíveis, onde os interesses se entrelaçam e as parcerias globais moldam o futuro das nações, o Presidente João Lourenço, emerge como um protagonista astuto, guiado por uma trajetória de pragmatismo estratégico e cooperação internacional.
O pragmatismo de Lourenço transcende os limites da diplomacia e se estende à luta contra a corrupção e à implementação de reformas econômicas e políticas. Esse compromisso encontra eco na doutrina Biden. Por outro lado, a doutrina Biden, embora não seja facilmente encapsulada em uma única narrativa, tal como sabiamente James Jay Carafano nos adverte, revela-se como uma teia de objetivos políticos, interesses competitivos, preferências presidenciais, ideologia e considerações internas.
Um exemplo vívido dessa abordagem multifacetada é a relação crescente entre os Esta- dos Unidos e Angola. A doutrina Biden, embora multifacetada, busca equilibrar os interesses nacionais com uma visão global sustentável. No caso das relações entre os Estados Unidos e Angola, essa abordagem revela uma estratégia que vai além dos tradicionais paradigmas de política externa. É uma expressão de uma estratégia geopolítica mais ampla. A doutrina Biden casa com o pragmatismo do Presidente João Lourenço na medida em que representa uma busca por interesses nacionais aliada à promoção de valores democráticos e direitos humanos.
O apoio dos Estados Unidos à luta contra a corrupção em Angola, através de iniciativas como o pro- grama do Departamento do Tesouro dos EUA, é um exemplo. Num contexto mais amplo, a dou- trina Biden e o pragmatismo do Presidente João Lourenço visa captar investimentos direto estrangeiro para proporcionar o desenvolvimento a Angola. As duas visões casam-se com a PGII. A abordagem dos EUA no contexto global, especialmente em relação à China, é visível na corrida para desenvolver o Corredor do Lobito. Este projeto não é apenas uma infra- estrutura de transporte, mas também uma resposta estratégica para competir com a Iniciativa Cinturão e Rota da China. Portanto, o Corredor do Lobito é uma importante rota de transporte que liga o Oceano Atlântico ao interior de África. O desenvolvimento do Corredor do Lobito pode dar aos Estados Unidos uma vantagem geoestratégica em África.
POR: EDMUNDO GUNZA