Apresente comunicação funda-se por meio da leitura analítica, tendo em conta a estrutura sistemática e conjuntural que se move entre a idealização e a materialização do carnaval nos últimos anos.
Outrossim, a leitura analítica a que nos propusemos sustenta-se pela interpretação crítica no sentido de aferirmos o estado agudizado, ou não, do carnaval e subsequentemente propormos soluções contributivas ou similares, porém não faremos uma incursão cronológica sobre o carnaval angolano.
Assim sendo, temos verificado, a cada ano que passa, a despersonalização significativa do carnaval angolano por conta da sua elitização e, por outro lado, o crescimento exponencial da desagregação dos valores de unidade.
Pois que, pensamos que o carnaval tem de ser encarado como uma manifestação cultural em que se funda pela demonstração de valores culturais, étnicos, por exemplo, ao invés do carácter competitivo.
Acreditamos que pela sua função sociocultural, é imperioso que o carnaval volte a ser e a sair às ruas do país: cada um ao seu jeito, ao seu estilo e à sua expressão cultural.
Portanto, é factual que a elitização e o carácter competitivo têm fragmentado, o discurso popular de ser, a maior manifestação cultural do povo angolano.
Nota-se, claramente, que a génese do carnaval angolano tem sido adulterada, em parte, pela visão mercantil e, sobretudo, pelo discurso desencontrado de inovação.
Pois que, entendemos que inovar não é, necessariamente, privatizar nem copiar o carnaval erótico do Brasil nem a sua nudez.
É fundamental que entendamos que o carnaval é do povo.
Que o mesmo é a combinação dos modus vivendi de cada povo e suas peculiaridades. Pensamos também que por conta dos diferentes processos históricos, a que Angola esteve sujeita, fomentaram a desestruturação social, a desagregação de conscientização da cultura de cidadania, da cultura de empatia, da cultura de cooperação.
Daí que, é necessário que o carnaval angolano não seja amordaçado pela ideia mórbida da exclusão da expressividade por meio do lugar fixo da competitividade.
Queiramos ou não, o carnaval é indubitavelmente inerente às manifestações cognitivas e sensitivas do povo.
Daí que o conjunto de manifestações culturais estendem-se às expressões de unidade nacional na diversidade cultural.
A sua institucionalização deve ter em conta as diferentes sensibilidades culturais e não pode estancar a sua natureza de manifestação sociocultural espontânea do povo.
Portanto, aferimos que aos poucos o carnaval angolano tem deixado de ser do povo para o povo e também a festa da arbitrariedade das linguagens culturais.
É fundamental que o carnaval seja do povo para e com o povo; que o povo apresente suas coreografias sem se importar com as câmaras; que os prémios não os dividam como povo; que o carnaval não seja tratado como mera mercadoria; que exponhamos abertamente as nossas indumentárias longe dos ideais de os panos de fumos.
Contudo, atendendo as conjunturas e dinâmicas socioculturais, não se pretende uma abordagem conservadora sobre o carnaval angolano.
Mas que tanto a sua privatização/ institucionalização não anulem a sua génese. Por exemplo, hoje, o carnaval só acontece na marginal de Luanda.
Em alguns pontos do país passou a ser cada vez mais insignificante.
Aferimos ainda por meio da leitura analítica que a sua mercantilização, a não operacionalização cultural, a sua elitização e a sua privatização impuseram toxidade competitiva aos seus fazedores, e não só, que em gestos de lamúrias e cantos de lamentos choram às portas do Ministério da Cultura.
A inovação é necessária à medida que acrescenta valências significativas sem, necessariamente, amputar ou anular a participação activa do povo no carnaval.
Em forma de síntese, o estado actual do carnaval angolano precisa, certamente, de todas as forças vivas para que não continue a ser uma manifestação coerciva.
Outrossim, o carnaval não é um discurso político.
É a festa cultural de um [nosso] povo! Sinto saudades dos tempos em que o carnaval era povo.
Por: Hamilton Artes