Nesta quadra festiva, em todos os bairros de Angola, vamos encontrar, dentre outras, duas personagens paradoxais e controversas: O Caloteiro e o Ancorado.
O Caloteiro é aquele que não paga as dívidas, mau pagador, que não honra a palavra dada, não paga o que deve, pede emprestado e não devolve, e pior, recusa-se a pagar, arranja e faz todos os malabarismos acrobáticos na manipulação dos factos para não honrar o compromisso assumido, em poucas palavras é um aldrabão.
O Ancorado, cá entre nós, é sinônimo de alguém desprovido de dinheiro ou recursos, bolso furado, aquele que nunca ou quase nunca tem Kumbú, sem qualquer dinheiro para seja o que for, em poucas palavras é um desfavorecido crónico.
O Caloteiro é um indivíduo sem carácter, sem ética e sem princípios, que nunca está disposto a pagar o débito, pede emprestado e não tem recursos para devolver, aldrabão, mentiroso, bilingueiro, babeteiro, burlador.
Quando pede, não devolve. Consumista assíduo, mas na hora de pagar as contas está sempre sem dinheiro, levantando desculpas esfarrapadas e descabidas; “ah esqueci a carteira; amanha mesmo sem falta…”, promessas de pagar no final do mês seguinte ou desculpas de que também está à espera de uma massa… tudo mentira.
Faz falsas promessas e não cumpre, intrujão compulsivo que na maioria das vezes não honra a promessa dada. Já o Ancorado, na maioria das vezes, é um tipo porreiro e simpático, no bairro diverte toda a gente com piadas e contos forjados, torna-se em autêntico humorista depois de beber uns copos, é o que mais dança e anima nas bodas, por isso, apesar de nunca contribuir para as contas, é quase sempre chamado para os eventos e convívios entre amigos do bairro.
Com ele tudo é mais divertido, até o ancoramento dele é motivo de boas gargalhadas. Enquanto o Caloteiro é um autêntico charlatão, com objectivos estratégicos ocultos, inconfessos e maldosos de enganar os outros.
É tão bom de boca, possuidor de um enorme poder do convencimento, sendo as senhoras as suas principais vítimas, enganando-as com promessas de fundos e mundos, quando no final só quer degustar das carnes carnudas das mamoites ou extorqui-lhes alguns tostões.
O Catoleiro é armado em nervoso, mesmo devendo procura fazer-se de vítima, apresentando argumentos de que está a ser pressionado, falácias como: “o teu dinheiro não vale nada, queres me humilhar, estás armado etc.”, procurando passar-se de inocente, quando na verdade, recebeu dinheiro por empréstimo, o prazo para o pagamento terminou e agora não quer pagar ou honrar o compromisso.
O Caloteiro é malaike, perigoso, “traz maka” grande na vida das pessoas, é autêntico actor de teatro para ludibriar as suas vitimas e não pagar a dívida.
O Ancorado na maioria das vezes é humilde, simples e demonstra necessidade de ser ajudado, tentado de forma amigável atrair a solidariedade do próximo, tem cara de coitado.
O Caloteiro, para além do nariz empinado e alguma arrogância, é exibicionista, está sempre bem vestido com roupas e calçados que não lhe pertencem, charmoso, bem-falante, autêntico gavião, quando abre a boca, muito cháchu e palarpier, puro tagarela, mas na cabeça não tem qualquer responsabilidade para honrar o compromisso assumido, mente com tanta facilidade e sem qualquer escrúpulo, verdadeiro perigo para as finanças alheias.
O Ancorado muitas vezes é um desempregado ou um trabalhador mal remunerado, honesto, sem qualquer tostão no bolso e sem qualquer perspetiva de voltar a ter um rendimento, procura sempre uma forma de ganhar alguns chavos fazendo pequenos trabalhos.
Em oposição, o Caloteiro desenvolveu a arte de enganar os outros, curriculum recheado de acções dolosas, já enganou meio mundo, desde a mais humilde alma até aos mais presunçosos, a lista é enorme, uns dizem que tem feitiço, basta encostar e te olhar nos olhos, tecer meias dúzias de palavras, acabas largando e entregando voluntariamente os bens, desde relógio, sapatos e carros. Emprestas e nunca mais recuperas.
Especialista em burlar, de tanto bilingue que dá, até perdes as forças para continuar a cobrar, mesmo envolvendo a polícia, com mandado de captura e ordens de prisão, são ludibriados com as falas encantadoras do Caloteiro burlador, se necessário for, chora que nem uma criança.
É tão maldoso, que pede roupa emprestada para se exibir nas “pequenas” e não devolve, depois de muita cobrança e ameaças, consegue escapar, simplesmente, usando a boca bem-falante.
O Ancorado está sempre falido. O verdadeiro ancoramento ocorre quando a fome lhe bate à porta e não tem nenhum avilo para lhe safar, vezes há, que a solução é tentar usar parlarpié para convencer as tias da chandula ou da magoga, visando obter um fiado, mais um, dos muitos que já tem pendente, mas nem sempre tem sucesso.
Outras vezes é usar a tática do lamento, para convencer as Cotas, lamentando da vida que leva, da falta de emprego e todas as malambas que a vida está a lhe propulsionar, a persistência e o charme natural que tem, surti sempre o seu efeito.
O poder de persuasão dos Ancorados e dos Caloteiros tem de ser bué forte para sobreviver numa sociedade onde não ter massa é das cenas mais malaikes e complicadas que existe, neste mundo de sobrevivência, onde quem não tem kumbu é ancorado e potencial caloteiro.
Dos Caloteiros da vida, fuja deles, para que não te envolvas em situações financeiras embaraçosas e comprometedoras.
Quanto aos ancorados, vamos aguentá-los e vigiá-los para que não se acomodem na nossa benevolência e se tornem verdadeiros “encostos endemoninhados”.
Nesta quadra festiva do aperto, se desejas proteger as suas finanças, mantenha à distância dos dois.
Por: OSVALDO FUAKATINUA