A CATEDRAL DOS DISCURSOS PARVOS é a boca de poetas bêbados. O escritor é um vendedor de passados, navegador de presentes e anunciador de apocalipses atingíveis.
Sob distração, todo o artista é um político medíocre, ambicioso piano a tocar as letras da mentira, guitarra desafinada e uma letra musical confusa, na pirâmide da clareza humana.
Uma noite aberta é oficina criativa, um silêncio tumular é arma de filósofos e uma inclinação ao beijo cinzento é a nostalgia de céus e a inalação de gotículas sádicas.
Dir-nos-ia um poeta de caneta fina e eloquente que conjugamos predicados confusos, nesta areia mórbida, que enterramos defuntos vivos, porque há astronautas que fabricam e/ ou matam os nossos sonhos, todos os dias. E há um calor fúnebre acima do nosso nariz, à tarde, quando a vida nos cospe desprezo no rosto.
À meia noite, como agora, só visitamos fantasias e o zênite é um túnel, os loucos são inúteis, depois da azáfama que consome a rotina dos desejos conspícuos.
Sentimos que há mares em fortes tumultos, que os dias correm em uma velocidade agreste, que a existência tem a capacidade de lançar chutes às nossas bundas tortas e aos nossos cérebros curvados à verdade.
O medo e a fome desfilam nas ruas da celebração, porque os bichos não revoluciona(ra)m a sua conduta. Provavelmente, nem eu mesmo entenda o que estas letras derivam, quando soltar a minha caneta.
Mas, lá no âmago das coisas, todo o escritor é um sujeito um pouco à frente do tempo, um regulador que não transita em vão o asfalto tenebroso.
Ao fim e ao princípio, o verbo sempre foi uma arte, quando bem conjugado, e o sujeito composto, aqui, é uma oração que proporciona êxitos.
Animal algum viverá isolado do mundo. A caridade perdeu-se nos escombros discursivos. Aos homens, o artista é um ser pedido nas figuras rupestres, nas montanhas assombrosas, nos sonhos fantasmagóricos, na sombra das árvores caducas, nos lábios de uma virgem casada, nas cinzas de um destino interrompido por um deus – metade homem, metade água.
Aos loucos, o ser comum é uma perdição divina, porque a comédia é um analgésico à dor faminta, enquanto os vidros fumam a nossa desgraça, no prolongado que não conjuga os modos com que se impera o sentido de fome.
Ouçam, meus irmãos, o que uma noite pode desenhar, para a construção do homem, se os pilares do desejo estiverem cônscios do ventre germinador!
Por: salvador Ximbulikha