Dizia um amigo que um dos períodos mais lindos da política angolana é durante a fase eleitoral nos partidos e, igualmente, no país. Claramente que isso irá piorar quando se der as eleições autárquicas, momento em que grupos económicos, famílias e interesses políticos deverão convergir na partilha de protagonismo e recursos em diversas áreas do país. Há quem diga que não. Opinião aceite. O Dr. José Vouco disse-me, em tempos, que as autarquias, apesar de todo o interesse que existe entre os partidos políticos, sociedade civil e demais grupos, até religiosos, será também a municipalização da corrupção. Mas recuando aos períodos eleitorais, é, portanto, nesta fase em que os corredores das sedes dos principais partidos registam grandes movimentações.
Há um entra e sai frenético de pessoas. Uns não se coíbem de buscar favores para que constem das listas para o comité central ou comité permanente das principais organizações políticas. E há ainda a fase mais impossível de todas quando se elaboram as listas para o Parlamento ou até mesmo ao Governo. É um frenesi total. Dizia-se, num determinado momento, que havia mesmo quem não se coibisse em buscar soluções a partir do além para que o seu nome surgisse ou alguém pudesse tocar o coração de quem tenha a faca e o queijo na mão. Longe dos mais velhos, há muito que essa prática também já se enraizou no seio da juventude de todos os quadrantes.
O mesmo grupo em que se deposita confiança de que seja o futuro do amanhã, aqueles que poderão ajudar a reverter o curso naqueles segmentos em que se espera por alterações visíveis. É essa nova casta que vai emergindo a nível dos ministérios, secretarias de Estado, governos provinciais, administrações municipais e até comunais. Está ainda cimentada na administração das grandes empresas públicas e privadas. É a mesma em que alguns já não saem incólumes. Aos poucos, muitos vão evidenciando as síndromes que se observaram nos velhos tempos ou nos responsáveis de outrora. Vai-se tornando, a cada dia que passa, a existência de uma certa falta de patriotismo até neste segmento mais novo.
Fica, por exemplo, difícil perceber que muitos deles tenham como primeira opção assim que chegarem ao poder – ou poleiro – comprar uma residência no exterior, com destaque para Lisboa e arredores. Por mais duro que seja, ainda é difícil perceber que comprometimento terá um dirigente político ou até mesmo aspirante ao poder que não viva na totalidade os problemas que um país, província ou município tenha? Há situações que só mesmo os da nova casta percebem.