Muita gente usa os termos “autor” e “escritor” como se fossem sinónimos, mas, na verdade, cada palavra carrega nuances e significados que podem se diferenciar de forma interessante.
Para entrar nesse papo de maneira descontraída, imagine que a escrita é como uma grande festa, onde cada participante tem seu papel – e, nesse contexto, o autor e o escritor são convidados especiais com funções distintas.
Primeiro, pense no escritor como alguém que está sempre com uma caneta (ou teclado) na mão, pronto para registrar ideias, pensamentos, experiências e histórias.
Esse profissional pode trabalhar de diversas formas: escrevendo artigos, relatórios, roteiros, poesias ou até mesmo publicações para redes sociais.
Ele tem o dom da escrita, o talento de colocar palavras no papel de forma fluída e comunicativa. Em muitas situações, o escritor trabalha por conta própria ou para empresas, criando conteúdos que atendem a demandas específicas.
Ele é como aquele amigo que adora escrever bilhetes ou anotações em um caderno, sempre disposto a contar uma história ou explicar um conceito com clareza e criatividade. Já o autor, por outro lado, é alguém que vai além do acção de simplesmente escrita.
O autor é o criador, o idealizador. Ele é responsável pela concepção da obra, pela ideia original que, muitas vezes, rompe com o convencional.
Enquanto o escritor pode executar uma tarefa com técnica e habilidade, o autor traz sua personalidade, sua visão de mundo e suas emoções para a criação de um conteúdo que pode influenciar, inspirar ou até transformar quem o lê.
Um autor não se resume apenas a escrever palavras, mas sim a criar uma identidade literária, uma marca pessoal que se reflete em cada página e em cada linha de sua obra. Essa distinção pode ser comparada a uma receita de bolo.
O escritor é aquele que conhece todas as técnicas de confeitaria, que domina os ingredientes e sabe combiná-los de forma harmoniosa para produzir um bolo delicioso.
Já o autor é quem imagina a receita, que decide inovar, criar um bolo com um sabor único, aquele que ninguém jamais provou antes. Claro, muitas vezes, a mesma pessoa pode ser tanto um autor quanto um escritor.
No entanto, é interessante perceber que, quando focamos na essência da criação, o autor é aquele que ousa se expressar de forma autêntica, enquanto o escritor pode estar mais preocupado com a forma e a técnica da escrita.
Em um mundo onde o mercado editorial e a produção de conteúdo crescem a cada dia, essa diferença ganha contornos ainda mais relevantes.
Por exemplo, há escritores contratados para criar textos publicitários, artigos jornalísticos ou roteiros para vídeos.
Esses profissionais precisam seguir directrizes, adaptar seu estilo e, muitas vezes, trabalhar com prazos apertados.
Nesse contexto, a criatividade ainda é essencial, mas a liberdade para inovar pode ser limitada por exigências externas.
Já o autor, que trabalha geralmente de forma mais independente, tem a oportunidade de mergulhar fundo em sua própria imaginação e produzir obras que refletem sua personalidade, seus sentimentos e sua visão única do mundo.
Outra forma de ver essa diferença é pelo impacto que cada um busca alcançar. O escritor pode ter como objectivo principal informar, educar ou entreter seu público com base em factos ou na exploração de determinados temas.
Por outro lado, o autor muitas vezes tem o intuito de provocar reflexões, despertar emoções e desafiar convenções. É o autor que se arrisca a expor seus pensamentos mais íntimos, a questionar o status quo e a criar narrativas que transcendem o tempo e o espaço.
Assim, enquanto o escritor cumpre um papel essencial na comunicação do dia a dia, o autor deixa uma marca mais profunda e pessoal no universo da literatura e das artes.
No fundo, essa conversa sobre a diferença entre autor e escritor não é uma disputa de títulos, mas sim um convite para reconhecer a diversidade de talentos que habitam o mundo da escrita.
Afinal, todos nós, em algum momento, nos sentimos inspirados a registrar nossos pensamentos – seja para contar uma história para amigos, escrever um diário ou até mesmo compor um poema de coração aberto. Nesse sentido, podemos afirmar que, de certa forma, todos somos escritores.
Mas nem todos se aventuram a se tornar autores, a ponto de expor o universo interno e transformar suas vivências em obras que ultrapassam o simples acto de escrever.
Portanto, se você se pega refletindo sobre suas palavras e se perguntando se deve definir-se como escritor ou autor, a resposta pode ser: por que não ambos? Deixe sua escrita fluir sem amarras e permita que, em cada texto, um pouco da sua autenticidade e paixão transpareçam.
Afinal, seja escrevendo de forma técnica para cumprir uma função ou se entregando de corpo e alma à criação de algo verdadeiramente original, o importante é encontrar a satisfação em colocar suas ideias no mundo.
No final das contas, a beleza da escrita está justamente nessa capacidade de se reinventar e se expressar de diversas maneiras, sem se prender a rótulos ou definições rígidas.
E assim, entre uma palavra e outra, fica a lição: não há certo ou errado, há apenas a essência de cada expressão escrita.
O escritor domina a arte de transformar pensamentos em textos, enquanto o autor ousa criar universos e emocionar corações.
Cada um, com seu estilo e sua missão, contribui para a riqueza e a diversidade da nossa cultura literária – e isso, no fim, é o que torna a escrita tão fascinante e indispensável na vida de todos nós.
Por: ANDRÉ CURIGIQUILA
*Professor