O finado Presidente da Namíbia Hage Gottfried Geingob, 82 anos, vai à enterrar neste domingo 25 de Fevereiro, 10 meses antes de concluir o seu segundo mandato constitucional de cinco anos. Sábado, 24/02, o dia está reservado ao Funeral de Estado onde dignitários e personalidades de várias latitudes do mundo vão congestionar o Aeroporto Internacional Hosea Kutato e a linda cidade de Windhoek numa procissão de tributos.
Aqui em Abuja, obedecendo a boa maneira da tradição africana, o corpo diplomático, políticos, académicos, jornalistas e empresários juntaram-se nesta segunda-feira (19/02) na Igreja Católica de Assumpção, em Asokoro, para uma Missa de Acção de Graças em sufrágio à alma do falecido Presidente (04/02).
Foi impressionante ouvir testemunhos de figuras como o Embaixador Ibrahim Agboola Gambari**, CFR, antigo ministro-director de Gabinete do Presidente Muhammadu Buhari, ex-secretário-geral adjunto das Nações Unidas e enviado especial para o Processo de Paz de Angola em 2002.
Ibrahim Gambari partilhou como poucos, em Nova Iorque, momentos relevantes de vida política e social com Hage Geingob antes e depois da independência da Namíbia.
No Serviço Religioso de Tributo, falou sobre ele com alma, reverência e emoção. As suas lutas anti-apartheid e pela descolonização da Namíbia.
As contribuições para a elaboração da Constituição da Nova República e o seu pendor profundamente democrático. Pessoalmente conheci-o em 2010 quando franqueamos as portas do seu gabinete na altura ministro da Industria e Turismo e candidato à sucessão do Presidente Hifikepunye Lucas Pohamba.
Ele já tinha sido Primeiro-Ministro do Presidente Sam Nujoma. Intelectual refinado e humilde. Visionário, diplomático e astuto, sempre a pensar na sua Namíbia e África, a morte de Hage Geingob encerra um ciclo de pais fundadores (geração dos Baby Boomers) e dá lugar ao surgimento de uma geração tecno inclinada ao Fast Food e ao teletrabalho.
Por outras palavras, vai emergir na política namibiana a geração milênio ou Y, irrequietos, muito combativa e sagaz do tipo Julius Malema dos EFF da África do Sul, ansiosos em impor um corte político e sociológico aos Baby Boomers, ou simplesmente, Ok Boomer (geração da década de 1940 que aqui chamamos de coroas).
Viciados no Universo das Redes Sociais, os milênios astearam a bandeira de rejeição e protesto à visão e aos ideais dos boomers, testemunhos vivos da Guerra Fria, da queda do Muro de Berlim e do Apartheid.
O After Day do enterro do Presidente Geingob vai determinar a tendência política namibiana neste ano eleitoral com a promovoção de Netumbo Nandi Ndeitwa, 71 anos, à Vice-presidente por vacatura.
Em aberto fica a interrogação quem de facto serão os candidatos às Eleições que se avizinham? Nangolo Mbumba (presidente investido por vacatura) e Netumbo Ndeitwa (vice-presidente também investida por vacatura) vão avançar candidaturas para as Presidênciais ou a sua SWAPO vai abraçar a rotura geracional e apostar no seu viveiro?
Será muito apaixonante acompanhar a dinâmica de transição geracional 34 anos depois da proclamação da independência do então território do Sudoeste Africano, a Namíbia.
Hage Geingob fica para história como um dos pais da actual Constituição da Namíbia e será lembrado como o homem da estabilidade democrática, social e da boa vizinhança.
Por: LILAS ORLOV
*Adido de Imprensa de Angola na República Federal da Nigéria.
**Foi secretário-geral adjunto das Nações Unidas para assuntos políticos no mandato do ganês Kofi Annan e enviado especial para o Processo de Paz de Angola em 2002 (Resolução 1433/2002). Já dirigiu a diplomacia nigeriana e terminou o seu ciclo governamental como o todo poderoso ministrodirector de Gabinete do Presidente Muhammadu Buhari em 2023.