Para esta edição, a Literatura feita em Benguela volta a ser o foco da nossa reflexão, queremos com ela comentar sobre a produção de textos com pendor artístico. Desta forma, os textos não literários por onde se enquadram os de auto-ajuda, os ensaios das diversas áreas do saber sobretudo do Direito, reflexões sobre a religião e outras formas textuais não fazem parte do nosso intento.
Por outra, dá-se primazia aos escritores que publicaram simplesmente no presente século, daí as obras de Patissa fazem parte, diferente de Paula Russa que se lançou no mundo literário no final do século passado.
O nosso escopo é fazer uma espécie de cartografia literária e reflectir sobre o facto da poesia ser a principal forma de lançar-se no mundo literário. Abaixo segue a nossa abordagem: 1.
Não se pode negar o crescimento do número de publicações em Benguela , há cada vez mais autores e editoras a lançarem-se no mar profundo das letras, apesar das dificuldades que existem com a impressão do livro e todos outros contornos envolvidos na sua produção. Acredita-se que ainda não é o que se pretende, no entanto é decerto regozijante saber que as pessoas começam a ter interesse de colocar por escrito os seus conhecimentos, experiências, anseios etc.
De resto, numa região como Benguela, não se podia esperar o contrário, visto que o princípio da democratização do ensino tem maior incidência – embora de acordo a nossa realidade. Deve-se convir que o aumento da literacia e a consequente diminuição da taxa de analfabetismo, um desiderato ainda não alcançado, contribuirá igualmente para massificação do livro não apenas em Benguela, mas em toda Angola, além de trazer consigo maior qualidade dos textos.
Relactivamente à questão da qualidade, insta compreender que se trata de um aspecto necessário para que se tenha um crescimento proporcional quer da literatura local como nacional, na verdade, é uma questão que surge em consequência da boa regulação do sistema de educação, dito de outro modo, a qualidade dos textos reflecte o sistema de educação vigente.
Nesta perspectiva, a formação adequada do angolano, proporcionando-o senso crítico tornará possível o exercício de cidadania consciente, fazendo com que este use a literatura como uma verdadeira ferramenta útil para o processo de desenvolvimento humano. Assim, estar-se-á a cumprir com um dos alvos da literatura: trazer as humanidades no papel. 2.
Neste mapeamento literário, não conseguimos incluir todos os escritores benguelenses publicados por força das limitações das nossas fontes, pois como sabemos, Benguela não possui uma Biblioteca Provincial e as poucas que existem dispõem mais escritores internacionais.
Outro elemento importante a referir é que alguns escritores abaixo apresentados, publicaram as suas obras em editoras estrangeiras como a Penalux (brasileira, o caso de Gociante Patissa), enquanto que a maior parte tem as suas publicações distribuídas nas seguintes editoras locais: Editora Shalon, Edições Ombaka, Iurus editora, Presença editora, Kapa editora, JBV editora, Ocili editora, Edições Elavoco e outras.
Sem mais, segue-se a lista : Onokapwi Mansima- Memória de um tempo rasgado ( prosa-contos) 2022; Sapuya Wendelika – Millongos e outros remédios – poesia (2022); Jorge Pimentel – Textículos: poesia de esboço (2023); Lena Sebastião- Um dedo de Prosa – (2023-poesia); Augusta Pereira -Fruto da Rejeição (31 de julho) novela ; Naldo Kahombo -Poesia D’alma (15 de agosto); Job Sipitali – Raízes cantam (poesia-2017); Anjo Nsilu- Vozes dya Ngola (poesia-2023); Vox Eloi- Dor que Doi; Eduardo Tchandja- Ecos da minha alma ( poesia-2020); O Kamutangre, Os Novos colonos de África (poesia 2024); O Kamutangre ,As Raízes alheias dos nossos frutos (poesia 2024); O Kamutangre, As Promessas Californianas de Ombaka ( poesia: 2024); Tchalamba Gomes, o Voo da Vida (poesia:2024);Tchilendo, Encantos da minha alma, (poesia:-); Lucas Katimba – Mutamba e uma obesa na casa Rosa ( contos); Job Sipitali, Unguende (contos 2024); Pelembi Manuel, Contornos Suaves (contos 2024); Dom Óscar, Rimas da minha Vida (poesia) ; Gociante Patissa, Consulado do Vazio (poesia), KAT editora. Benguela, Angola, 2008;A Última Ouvinte (contos), União dos Escritores Angolanos. Luanda, Angola, 2010;Não Tem Pernas o Tempo (novela), União dos Escritores Angolanos, Luanda, Angola, 2013; Guardanapo de Papel (poesia),Nós Somos. Vila Nova de Cerveira, Portugal, 2014; Fátussengóla, O Homem do Rádio que Espalhava Dúvidas (contos). GRECIMA.
Programa Ler Angola. Luanda, Angola, 2015; O Apito que não se Ouviu ( crónicas), União dos Escritores Angolanos, Luanda, Angola, 2015; Almas de Porcelana (poesia reunida), Editora Penalux, São Paulo, Brasil, 2016; O Homem que Plantava Aves ( contos), Editora Penalux, São Paulo, Brasil, 2017; Mbangula Katumua, Sexorcismo (2008), Sexonância (2012) – poesia; Edilson Fortes, uMa vOz eNtRe Milhares (poesia, 2021); Víctor Evaristo, Do outro lado da cela (Novela, 2021), Kambandando, Aspas de Argila (poesia, 2024); Piedade Manuel, Pedaços da Eternidade (poesia,2024); 3. A escrita em verso tem sido uma frequente recorrência para os novos escritores colocarem os seus primeiros tijolos no mundo literário.
Se analisarmos a lista acima, teremos esta impressão, porquanto é inaudito os escritores, aqui em Benguela, lançarem primeiro uma obra em prosa; quase todos os anos são concebidas obras poéticas, tanto que há muitos desses que se auto entitulam poetas de alguma coisa ( da verdade, fobado, da paz etc.), raras vezes temos contadores de história.
Entretanto, existe uma questão que não se quer calar: por que razão se dá esta primazia? Por que temos mais obras poéticas a serem publicadas em detrimento da escrita em prosa? Para responder esta pergunta de uma forma mais simplificada, é importante perceber que a poesia é a mãe da literatura e a porta de entrada para os meandros literários e assim é em toda parte do mundo.
Muitos dos escritores antes de conceberem-se como escritores, entendem-se como poetas, uma vez que é por esta via que os mesmos descobrem que possuem uma inclinação para fazer literatura, o que implica que em muitos dos casos os primeiros rabiscos são feitos em versos que mais tarde dão em obra pioneira na vida literária dos mesmos ( I hipótese); Por outra, em muitos casos, devese ao facto da impressão de um livro de poemas ser, normalmente, menos dispendiosa em relação aos escritos em prosa, logo o aspecto financeiro entra em acção.
Entenda-se que há muitos escritores não publicados, possuidores de um vasto repertório de géneros literários já cultivados ( contos, romances, textos dramáticos, novelas etc.), porém aquando da decisão do género com que se pretende publicar, escolhese os textos em versos pelo factor financeiro (II hipótese); outros ditos escritores com menos conhecimento sobre o texto poético possuem a pseudo-percepção que a escrita em verso é muito mais fácil, menos enfadonha.
Pensam que basta escrever em forma de versos para conceber um poema, esquecem-se de que além da inspiração, a transpiração é um elemento imprescindível no processo de concepção de um poema (hipótese III). Para todos efeitos, a poesia é geralmente o trampolim de grandes cultores da arte literária.
Por: FERNANDO TCHACUPOMBA