Minha mãe só wé, dá mbora meu telefone; eu te conheço.
O silêncio da noite passava-nos acordados.
Assistir a um jogo alucinante nos tinha roubado o sono; embora a cama estivesse quente, ficar a debater sobre o jogo era mais excitante.
Jovem adora debater! O futebol não é um caso à parte, é dos que mais causa polémicas, divide opiniões; nalgumas vezes, envolve mesmo agressões físicas, todavia éramos civilizados o suficiente, soubemos nos conter.
O Real Madrid, o rei da Europa, acabava de ser esmagado pelo Manchester City de Pep Guardiola.
Quem não vibra com o futebol, não sabe o perde, sobretudo os jovens! Há que ser adepto de algum clube europeu em cada uma das cinco principais ligas!
O eco da voz bastante potente chegou-nos aos ouvidos, o silêncio abafou a sala, ninguém foi corajoso para proferir alguma palavra por um minuto.
Como de costume, pena ser no sentido pejorativo, alguém já estava a ser assaltado àquela hora.
As ruas estão cada vez mais perigosas, pois a vida está cada vez mais difícil, abrindo, portanto, estrada às práticas como estas.
Sem tocar no aspecto da segurança pública, em que orações e requerimentos não são suficientes para termos um policiamento adequado, “até parece que se combinam com os bandidos” reflectiu um amigo.
O pânico, também, tinha-se instalado há tempo na casa de um vizinho, os bandidos queriam mesmo entrar pelo tecto.
Fomos acordados aos gritos de socorro, a resolução foi possível com a colaboração dos moradores.
Hoje, tem-se medo de tudo, até na própria casa! Nada oferece segurança! Enquanto estávamos calados, ouvimos outras vozes: txê! Não se mente, você pode memo me conhecer; eu sou mau, então, pausa mbora e entrega as cenas.
Que teríamos que fazer nós? Pensávamos! Ligar à polícia é melhor, mesmo que não venham, “aqui ninguém se vai armar em herói” nossa conclusão.
“A falta de ocupação da juventude contribui grandemente no índice de marginalização de uma sociedade”, atestam autores diversos.
Chamar à razão a quem é de direito, em Angola, se tornou sinónimo de ameaça, estar contra.
A nossa realidade é susceptível de várias ilações, cada uma correspondendo a um problema social que se constata.
Obedecendo à recomendação o assaltado disse: Está aqui, meu Kota! Me deixa só levar o Bilhete de Identidade e o Cartão de Estudante.
• Após isso, não se ouvia mais nada, decidimos continuar com o nosso debate sobre o jogo, tentar esquecer estes problemas recorrentes na nossa sociedade.
Por: Manuel dos Santos