Angola é um país marcado pela heterogeneidade cultural e linguística. Porém, apesar da existência de muitas línguas faladas em diferentes regiões, apenas o português continua a ser visto como a língua de maior prestígio – sendo a única língua oficial.
A língua é um elemento identitário de um povo; carrega valores, crenças e costumes de um grupo. É por meio dela que se narram histórias, mitos, lendas e outros elementos culturais que definem uma comunidade.
Sem a preservação das nossas línguas nativas, corremos o risco de perder a nossa identidade e de não conseguirmos responder às questões: “quem somos?” “De onde viemos?” Talvez seja natural que nem todas as línguas possam ser reconhecidas como oficiais, mas é imperioso que se estabeleçam políticas públicas e educativas voltadas à sua protecção.
Além disso, sugere-se a inclusão, no ensino, de uma disciplina com objectivos relacionados à Antropologia Étnica, voltada para questões sobre as etnias, ou seja, os grupos humanos que compartilham uma identidade comum baseada em factores culturais, linguísticos, históricos ou raciais.
Assim, o indivíduo residente no Huambo terá a oportunidade de estudar não apenas aspectos de sua própria cultura, mas também de outras províncias e povos. Quando se aborda, a partir da escola, a multiculturalidade local e suas peculiaridades, promove-se o respeito e constrói-se uma educação voltada para a cidadania.
Essa abordagem é essencial, pois a escola deve ser o lugar onde os alunos aprendem que existem outras formas de viver, pensar e se expressar. Ao estudar as diversas culturas que compõem o país, os estudantes podem descobrir diferentes maneiras de dançar, como os variados estilos tradicionais de regiões como Lundas, Huambo e Bailundo.
Também podem aprender sobre formas de autossustento desenvolvidas por comunidades, como a pesca artesanal no litoral ou a agricultura familiar no planalto central.
Adicionalmente, conhecer a diversidade linguística e cultural do país contribui para a valorização das diferenças, promove a empatia e o respeito entre os alunos. Saber que existem outras maneiras de falar, outros dialetos e sotaques, é fundamental para combater preconceitos e construir uma sociedade mais inclusiva e tolerante.
A escola, nesse sentido, torna-se um espaço onde a pluralidade de vozes é celebrada e onde os estudantes podem compreender que, apesar das diferenças, partilhamos uma história e uma identidade comum enquanto nação. Portanto, as línguas locais devem ser protegidas, pois vão além de um simples meio de comunicação; são um reflexo da identidade de um povo, definindo quem somos, de onde viemos e como nos relacionamos com o mundo.
Proteger as línguas e a cultura significa garantir que as futuras gerações tenham uma noção clara de sua história e de suas raízes. Isso tornará possível que se cultive uma convivência harmónica e rica em diversidade. Preservá-las significa preservar a essência de uma comunidade e, sobretudo, do país como um todo.