Recorda-se que Kuluca era um menino da aldeia de Catala, algures de Caculama, Município da província de Malanje, que, por razões académicas, se tinha mudado para o município sede, em busca de formação.
No entanto, deparou-se com um ambiente totalmente diferente do seu, quer em casa quanto nos demais espaços. Em Catala, Kuluca tinha os seus vizinhos como verdadeiras famílias, pois tudo era feito em grupo, ou seja, bastava um vizinho ter um trabalho e o mesmo se tornava uma responsabilidade da aldeia toda, sob a orientação do soba.
Por outro lado, nos tratos sociais, todo mundo era tratado como especial, não havendo necessidades de boicotes, uso de influências e/ ou contactos. O seu dia-a-dia era normal, como se o problema de um, em Catala, fosse de todos que ali vivem.
No entanto, já em Malanje, município sede, Kuluca começou a enfrentar a verdadeira correria social, vista num ambiente agitado de luta pela sobrevivência, pelo trabalho, aproveitando-se de cada necessidade e dita evolução social para o ajuste na prestação de serviços, pois, o que o outro não faz, eu faço-o em troca de algum trocado – dinheiro – entenda-se.
Nas administrações, Kuluca percebeu que tudo era feito pelo uso das influências. Logo, buscar um serviço público era assinar um contrato com a eternidade e um verdadeiro exercício de paciência e aborrecimento.
Por outro lado, os casos dos bem posicionados eram resolvidos num piscar de olhos, com uma velocidade mil, um simples telefonema resolvia tudo. E a fila? Qual fila? Ela só existe, na visão de Kuluca, para ele e os do seu tipo, pois, os seus colegas tinham tudo resolvido até pelo sobrenome.
Sim! É da família A, filho do senhor B. Afinal, há sobrenome de famílias que te tiram dos apertos. Kuluca vivia dias difíceis por não ter influência nas Administrações. Soava-lhe, quase sempre, a expressão vem amanhã, depois de longas horas de espera.
“ A vida é dura”. Não ter influência torna-a ainda mais dura. Feito isso, cansado de esperar, Kuluca viuse na obrigação de pedir auxílio de seus colegas para que fosse atendido. Daí, com um telefonema de “ o meu primo é o fulano ”, de seu amigo-colega, tudo se resolvia.
Assim, Kuluca como a ver no uso de influência como solução de seus problemas. Depois de ter conseguido o documento na Administração pelo apoio de seu colega influente, Kuluca passou por algo similar na Universidade. Sim, na Universidade.
Uma instituição que mal ensina pela observação directa do uso de influências. As declarações pedidas são feitas por ordem de influência, para não dizer de importância.
Seguir os procedimentos e pedir com antecedência não basta. Aliás, basta principalmente que se tenha, dentro das distintas áreas, os contactos necessários para agilizar o processo. E mais, com o contacto, os assuntos são tratados via telefónica, resolvidos numa boa.
No entanto, não ter contactos na Universidade era outro pesadelo para Kuluca, que passava a ser sempre o último na recepção dos documentos. Transcorrido algum tempo tempo, os contactos dos seus colegasamigos passaram a ser seus contactos e, paulatinamente, Kuluca saía de pessoa que esperava para pessoa que resolvia com ligações.
A sua situação estava a tomar o ritmo contrário: de aborrecido pela espera, por ser ultrapassado, para o sujeito que ultrapassa e torna os dias dos outros mais difíceis.
Lições
1- O uso de influência apresenta dois resultados infalíveis: o de beneficiar uns e prejudicar outros. Se estamos usando influência, de alguma maneira, alguém, provavelmente, será colocado de lado por nossa causa. 2-Na verdade, o que vemos tem uma grande influência sobre nós. Passar por dias difíceis pode dar margem às práticas desonestas pelo uso de influência.
Por: PEDRO JUSTINO “CABALMENTE”
*Professor e Académico