Há muito que vozes se erguem pela necessidade de injecção de sangue novo na liderança das diversas instituições públicas, alegando que a geração que participou da luta para a libertação nacional está cansada, desactualizada e que precisa passar o testemunho.
Para uns, essa passagem representa o fim da liderança da geração de 1950 a 1960 e o início da geração de 1980 a 1990, teoricamente, uma geração promissora, com uma juventude sedenta por assumir o comando e caminhar com as próprias pernas.
A expectativa era que pudessem fazer mais e melhor para o seu povo, para o seu país. No entanto, dentre estes, dois grupos distintos e antagónicos foram identificados: de um lado, os que sonham contribuir para o crescimento e desenvolvimento de Angola (o trigo); do outro, os que sonham com uma mera oportunidade para se lambuzarem do pote de mel e fazerem a festa (o joio).
Como joio, podemos classificar uma franja da juventude privilegiada, alguns beneficiários de bolsas pagas pelo erário, com tios e padrinhos na cozinha, e que, gradualmente, foram empurrados a ocupar altos cargos, sem nunca terem dado provas de competência ou patriotismo para com Angola e com o seu povo.
Já o trigo, representa os jovens que, apesar de se terem formado com distinção, possuírem competência comprovada, mas por não terem qualquer padrinho na cozinha, são preteridos por conveniências extras profissionais.
O Joio, como que caído do céu, foi colocado em posições estratégicas, sem qualquer histórico de sucesso, sem experiência comprovada em gestão e liderança, sem nunca ter gerido absolutamente nada, sequer uma pequena cantina ou uma barraca.
Alguns com diplomas forjados, detentores, unicamente, da indicação de um papoite. Para o Joio, o sonho é viver no exterior, ter carros de luxo, roupa de marca, ter vidas mulatas e espalhar luxúria.
O Joio cresceu, fortaleceu-se e engoliu o trigo. O Joio foi estrategicamente posicionado em lugares decisivos, por meio de cunha; “co-padrinhismo”; nepotismo ou facilidades diversas, onde pode, despercebidamente, continuar a comer o bife e a lamber o pote de mel.
O joio é incompetente, vaidoso, arrogante, banhado de complexos de superioridade e não produz absolutamente nada.
O trigo, sem qualquer tio para dar o tão almejado empurrão, sem possibilidade de ascensão, foi arrastado pelo tempo, sufocado pelo veneno do joio, apesar da boa vontade de querer fazer melhor.
O trigo foi enfraquecido propositadamente, humilhado, rebaixado, mesmo tendo as melhores qualificações, maiores capacidades técnicas, humanas e perfil adequado para determinados cargos, inclusive, maior idoneidade moral, ética e verdadeiro compromisso com a pátria.
O joio e o trigo estão misturados, urge a necessidade de separá-los, antes que o joio se torne imperceptível e mais perigoso. O joio mancha a imagem de toda a juventude angolana.
Quando sobe ao topo, puxa imediatamente os seus semelhantes, formando uma quadrilha. O Joio desliza como verdadeiras víboras, fica ao pé dos cofres, como karma, são sempre os escolhidos para lugares chaves em detrimento dos que de facto querem trabalhar arduamente para o crescimento de Angola.
Notícias de desvio de bilhões de kwanzas na AGT, no INAGBE, em diversos bancos… mancham as manchetes de jornais locais e internacionais, quase todos, envolvendo o joio, a tal esperança de mudança para o país.
Tais desfalques levantam o véu obscuro que merece a nossa reflexão: que perfil o jovem deve ter para ocupar cargos estratégicos ao serviço do Estado? Quais os critérios de selecção? Como atingem as mais altas posições nas instituições públicas? Quem e como os selecciona? Que método usar para separar o joio do trigo? Tais questões são relevantes para se apurar os verdadeiros responsáveis, os mentores, os cérebros, e prevenir futuros desfalques bilionários que prejudicam a todos nós.
Desvios “à grande e à francesa”, que ferem a alma e desencorajam a esperança do homem novo. Jovens cuja mentalidade deveria estar forjada para o desenvolvimento da pátria e melhoria das condições de vida da população já tão sofrida.
Os jovens na liderança das instituições públicas têm a obrigação de fazer melhor do que os seus antecessores. Infelizmente, a realidade prática, aponta que estamos a injectar joio e não trigo. Joio que continua com práticas corrosivas contra o Estado e que em nada beneficiam a sociedade.
Quando o joio não é arrancado oportunamente, este torna-se hostil e mata silenciosamente toda a plantação. Não basta ser-se técnica e academicamente bom para servir ao Estado, há que se ser ético, moral, patriota e amar o seu povo.
Não basta ter tios e padrinhos na cozinha ou ser-se filho de A ou B, para chegar aos mais altos lugares da gestão pública, tem de, acima de tudo, querer servir a nação, fazer diferente, honrar a pátria, para que tenhamos um futuro melhor. Vamos separar o trigo do joio.
Por: OSVALDO FUAKATINUA