A pesquisa científica como um processo requer, para além de projectos e metodologias viáveis para o alcance dos objectivos da pesquisa, a sua publicação para que a comunidade científica e não só tenha a informação em suas mãos.
Do contrário, como é comum ver em Luanda e não só, os docentes e discentes são obrigados a recorrerem aos estudos publicados por instituições estrangeiras.
O que surpreende é o facto de Angola ter mais de 30 instituições do ensino superior e não realizar anualmente um mínimo de 30 conferências ou simpósios de cariz científico.
A pergunta que não se quer calar é: onde reside o problema para a comunidade científica não consumir o produto das instituições do ensino superior angolano?
Vale lembrar que a pesquisa científica consiste em um processo ordenado e sistemático de análise e estudo, desde que haja um conjunto de método e critério a fim de se obter conhecimentos ou ampliar o conhecimento já existente.
Por outro lado, o processo de investigação científica em Angola tem se dado maioritariamente quando estamos diante de trabalhos de fim de curso.
O que não impede de se fazer ciência fora de monografia, dissertação ou tese.
A título de exemplo, a nível da pós-graduação (mestrado e doutoramento) nalgumas faculdades da Universidade Agostinho Neto muitos estudantes terminam o plano curricular sem ter escrito um artigo científico e recorrer, quase sempre, a trabalhos de outras latitudes e modificar apenas o local da pesquisa o que propicia a normalização e normatização do plágio.
Todavia, segundo o portal da Universidade Agostinho Neto vê-se dois elementos que nos chamaram atenção: missão e visão.
E transcrevemos: “A Universidade Agostinho Neto (UAN) tem por missão a formação integral dos seus estudantes, a produção, difusão e transferência do conhecimento científico, tecnológico e cultural, em favor das comunidades (…).
A nossa visão é transformar a UAN numa instituição de referência internacional, reconhecida pela excelência do Ensino e da Investigação Científica (…)”.
O que se lê acima contrasta com o que se tem observado. Dito de outro modo, se pensarmos que a UAN durante cinco anos tenha lançado 3.000 licenciados, 1.000 mestres e 200 doutores, então, durante este período é possível constatar 4200 trabalhos de fim de curso e uns quarenta (40) artigos científicos, fruto de conferências e não só.
Por um lado, temos os prováveis números de trabalhos de fim de curso; por outro lado, não é possível aceder de forma remota os tais trabalhos.
Com este texto, não estamos a afirmar que não se tenha um repositório, aliás, acreditamos que haja.
Porém, o repositório pode estar avariado ou aguardando por cabimento orçamental para que se possa aceder aos trabalhos publicados e defendidos.
Por: António Kutema