A opinião aqui exposta assume-se motivada por dois factos principais, a saber, a recente inauguração de mais um Balcão de Agente Autorizado de um banco omercial, primeiro.
Depois, a cerimônia de outorga de diplomas da Universidade Metodista de Angola, ambos os eventos ocorridos na semana transacta, na capital angolana, Luanda.
Nestes tempos árduos, dado o conjunto de adversidades que enfermam o país, um factor diferencial será a qualidade de jovens que lutam pela melhoria das condições de vida das suas famílias, e de outras ao seu alcance. Serão cidadãos com visão para identificar as oportunidades, audácia, para marcar o primeiro passo, capacidade de empreender nos pequenos negócios e, criatividade, para inovar, pois, os tempos mudam.
Às vezes, drasticamente. O “perfil-modelo” pode ser o do jovem empresário Nelson Inácio que, por meio da sua empresa de taxi personalizado, desafiou-se a ser agente bancário, um replicador dos serviços bancários, o qual leva os seus préstimos onde seja oportuno, em nome do banco; fazer chegar os serviços bancários ali aonde o banco não está.
A actividade demanda treinamento, disciplina, responsabilidade, abnegação, entre outras qualidades que, como as sitadas, são necessárias em qualquer ramo de actividade profissional.
Se um banco aceita comprometerse com alguém a este nível, há aí valores a reconhecer e adoptar. Note-se, portanto, que não há empreendedor que progridirá com desonestidade, vandalismo, falta de comprometimento, leviandade, arruaças, bebedeiras e afins.
Em nenhum ramo profissional é permitida ou aceitável a irresponsabilidade, indisciplina, absentismo. Nem no humor é tolerável a insensatez, a icorência e o desrespeito (seja ao nome próprio ou de outrem).
Portanto, a exemplo do aludido empresário, e de toda a equipa de jovens que com ele mergulhou no desafio de “imitar” o rigor bancário e replicar seus serviços, podemos, sim, ter outros jovens fazendo o mesmo.
Podemos porque o banco está aberto a isso, o país precisa disso. E se não formos nós angolanos a fazê-lo, expatriados virão fazê-lo. E por que não termos outros empreendedores replicando outros serviços?
Por que não termos mecânicos replicando os serviços das grandes representantes das marcas automóveis prestando assistência técnica, com higiéne e pontualidade, e competência? Por que não termos escolas a imitar a qualidade e rigor do ensino dos colégios internacionais que graçam crescentemente pelo país a dentro? Por que não termos carpinteiros igualando o corte fino e bem polido do mobiliário vindo do estrangeiro?
Alguns poderão indagar onde encontrar condições para empreender, para começar. Uns até já tentaram algum negócio mas foram golpeados pela famigerada crise financeira. Mas é aí onde entra a criatividade, a audácia.
É preciso ser ousado para entrar numa instituição financeira e apresentar um projecto bem elaborado, uma vontade bem argumentada, um intento bem fundamentado. E se depois de batermos a primeira porta ela não se abrir, sigamos para a seguinte, e assim por diante. E pode-se sim começar com pouco.
Quem não poder manter um pequeno negócio, não o fará com um grande, principalmente os que dão rendimento a longo prazo, como é o agenciamento bancário.
Opino assim, num contexto em ue o país tem cada vez mais licenciados. Mais do que formadas, as pessoas que o país precisa para o seu desenvolvimento têm de ser capacitadas, qualificadas, especializadas; e dedicadas, persistentes, corajosas, enfim, aptas para desafios. E isto não vem do nada, nem da licenciatura por si só.
Ao nível macro, resulta de uma estratégia que, em bom rigor, tem de ser uma política do Estado, albergando todos os níveis e campos científicos, mas com maior pendor para a capacitação técnico-profissional; deve seguir um plano com balizas bem desenhadas.
Mas, ao nível micro, inicia no seio familiar, porquanto, é ali onde, em primeira instância, deve-se aprender a cultivar empreendedorismo, “trabalhar por conta própria”, fazer micro-negócios que, bem exercidos, chamam sempre a atenção de alguém que depois apoia.
Penso ser da família a responsabilidade de esclarecer aos jovens que os tempos difíceis geram homens e mulheres fortes e estes geram tempos fáceis para as gerações seguintes.
E não poucas vezes, asgerações educadas nos tempos fáceis tornam-se frágeis no seu intelecto e acabam gerando tempos difíceis para a geração sucessora. Ironia da vida cíclica! Minha opinião: estando em tempos difíceis, imitemos os que buscam a excelência; tenhamos os informados como modelo; empreendamos com tudo e onde podermos, sejamos criativos, mas também humildes e pacientes.
Não nos conformemos com a conquista dum “canudo” nem nos limitemos à nossa área de formação; não esperemos que se abram as portas dos concursos públicos.
Sou convicto de que o sucesso seguirá àquele que busca a independência financeira ou o “autossustento”.
Afinal, Angola precisa de cidadãos que não desistem dos seus sonhos ou, pelo menos, dos que quando abdicam de um, perseguem outro ainda mais ambicioso. É este o “perfil-modelo”.
Por: MANUEL CABRAL