Quem nunca se deparou com um camião de carga? Aqueles que transportam carroçaria, contentores secos ou frigoríficos. Camiões imponentes que quando passam por nós, bate aquele vento forte que faz recuar o peão ou afrouxar os carros ligeiros. Quando abuzinam a anunciar a sua chegada, parecem apregoar, majestosamente, que o soberano das estradas chegou.
Como é belo vê-los a circular nas nossas estradas nacionais; soyo – Nzeto, Bengo – Dembos, estrada EN-100; Luanda – Lobito – Benguela e tantas outras, constituem o verdadeiro símbolo da paz real existente em Angola, representam a livre circulação de pessoas e bens em todo o território nacional.
Uma vénia acentuada para todos os motoristas de longo curso, que diariamente não medem esforços para tornarem real um dos fundamentos essenciais da paz: A livre circulação.
A existência de produção de bens e serviços não significa, obviamente, a sua utilização e consumo final, mesmo que sejamos possuidores dos meios de pagamentos necessários para sua aquisição, estaremos sempre dependentes de que os produtos e serviços se desloquem aos pontos de venda e de consumo.
De facto, é evidente que só produzir não é suficiente, é necessário e imprescindível que os bens e serviços cheguem aos consumidores finais onde quer que eles estejam.
Todo esse processo de criação de condições para que os bens e serviços alcancem todos os consumidores, carece de um conjunto de ações e procedimentos realizados pela ctividade da logística e distribuição (transporte), constituindo um elo de ligação entre a produção e o consumo, entre o campo e a cidade, entre a indústria e o supermercado, entre o produtor e a mesa (boca) do consumidor final.
Tal elo de ligação pode ser realizado via aérea, marítima ou terrestre, sendo que nesta última destaca-se, entre outros intervenientes, os motoristas de longo curso, verdadeiros heróis angolanos, que não medem esforços para dinamizar a nossa economia e fazer crescer a nossa Angola, garantindo a total distribuição dos bens e produtos para consumo.
A distribuição, sendo uma área intimamente ligada a logística, inicialmente entendida como a parte da arte militar que tratava do apoio às tropas no que diz respeito à alimentação, municiamento, saúde, transporte.
No caso de Angola, a logística militar foi preponderante ao longo do conflito armando, de 1975 a 2002, onde a limitação de circulação em todo o território e o perigo de emboscadas e minas era latente.
Após o alcance da paz em 04 de abril de 2002, a logística e distribuição foram, rapidamente, fomentadas pelo ramo civil/comercial e adotados pelas organizações/empresas, uma vez que, a necessidade de produzir os bens e serviços e faze-los chegar ao consumidor final era das tarefas mais prementes/urgente de qualquer empresa, o país precisava de crescer rapidamente, as pessoas precisavam de alimentação, vestuário e todos os produtos para sua subsistência.
Mas existia um outro desafio: O conflito armado que durou longos anos, deixou a maioria das estradas degradadas, as pontes estavam partidas, minas espalhadas pelos diversos campos e vias de acesso, os motoristas de longo curso assumiram o desafio gigantesco de garantir que os produtos do campo chegassem aos diversos pontos do país, que as trocas comerciais continuassem a ser efetivadas, que os produtos importados fossem distribuídos, que os donativos a ações caritativas chegassem aos mais carenciados, ou seja, que a actividade económica não parasse e que o país não estagnasse.
A nossa homenagem é para você, motorista de longo curso, verdadeiro herói anónimos. Com o alcance da paz deu-se início a criação das bases necessárias e fundamentais para a criação de um processo produtivo, robusto e, consequentemente, uma linha de logística e distribuição capaz de atender as necessidades dos mais de 26 milhões de angolanos espalhados pelo espaço geográfico de 1.246.700 km, dividido em 18 províncias, 162 municípios, 559 comunas, 2.352 bairros e 25.289 aldeias, um território enorme e jovem que tem tudo para dar certo, tem tudo para ser próspero e autossuficiente.
O plano de reconstrução e construção de estradas visou a ligação dos principais centros urbanos, cerca de 10 mil km de estradas permitiram a circulação de pessoas e bens, sendo os nossos motoristas os garantes da concretização dessa livre circulação e do transporte dos produtos do campo para cidade e viceversa.
Milhares de camionistas rasgam as estradas de Angola diariamente, percorrem milhares de quilómetros de estradas, muitas delas em terra batida, esburacadas e sem qualquer iluminação.
Estimase que cerca de 400 km de estradas em Angola necessitam de alguma intervenção, visando proteger a vida dos nossos heróis camionistas e motoristas, evitando acidentes e para continuarem a garantir o fluxo de bens e serviços para os mais diversos pontos da nossa Angola, pátria mãe.
Os motoristas de longo curso manuseiam veículos pesados, que de forma destemida, se aventuram nas estradas nacionais, ignorando os buracos, ravinas e outros fatores ameaçadores das suas próprias vidas, viagens muitas vezes dominadas pela incerteza, mas ao mesmo tempo pela determinação da missão de contribuir para o crescimento de Angola, atingindo localidades anteriormente inacessíveis.
Tal desafio não visa, na sua maioria, um fim meramente comercial, mas há a convicção da necessidade de unir Angola via terrestre, percorrendo cada quilómetro de estrada, sentindo o asfalto negro, seco ou molhado, vendo o sorriso de cada criança ao ver o camião entrar na sua localidade, povoação ou aldeia, lingando pontos a ponto a nossa Angola: Da Santa Clara a Ondjiva, da Matala ao Lubango, do Lobito à Benguela, do Wako ao Sumbe, do Kuito Bie ao kuito Cuanavale, do Luena ao Luau, de Cafunfo ao Dundo, de Saurimo ao Muconda, de Malange à Cacuso, do Uíge ao Negage, de Mbanza Congo ao Luvo e de Cabinda ao Mbuco Nzau, são apenas algumas das muitas rotas que rasgam esta imensa e bela Angola.
Para garantir a cadeia de distribuição eficiente, eficaz e célere, o motorista da distribuição passa por diversas dificuldades, a missão dos nossos heróis está cheia de desafios e obstáculos, próprios de um país em reconstrução: – A ausência de locais seguros para parar e descansar; – A ocorrência de furtos e roubos ao longo da via, sobretudo aquelas que exige uma velocidade mais reduzida, pouca iluminação, zonas isoladas, vezes há que os assaltantes montam emboscadas, obstáculos no caminho visando saquear os bens transportados; – Conduzir por mais de 08horas seguidas sem o obrigatório descanso, muitas vezes por não ter um local seguro para parar, outras vezes devido a pressão do cumprimento do prazo de entrega ou por outros factores alheios ao motorista, o que favorece a ocorrência de acidentes; – Efectuar viagens seguidas, uma atrás da outra, sem qualquer intervalo entre viagem de pelo menos 24 horas, ficando assim muitas horas sem dormir, elevando o risco de acidentes; – As estradas continuam a ser um obstáculo, os buracos e a fraca iluminação; – A falta de manutenção dos veículos pesados, a reposição de peças e acessórios.
A missão dos motoristas de longo curso é de aproximar os angolanos, eliminar a barreira da distância e impactar na vida de cada consumidor, produtor e ajudar a nossa Angola a crescer.
Mesmo nos momentos mais difíceis da nossa história recente (guerras, crises, pandemia, etc.), os camionistas e motoristas de longo curso nunca deixaram de cumprir a missão, com resiliência, persistiram e venceram todas as vicissitudes que a sua função acarretava e levantaram bem alto a bandeira da paz e reconciliação nacional, sendo eles o símbolo vivo da paz efectiva.
Para todos os motoristas de longo curso a nossa acentuada vénia: Muito obrigado por unirem a nossa Angola.
Por: Osvaldo Fuakatinua