A liberdade é preciosa, suprema e tem um valor inigualável. A liberdade de pensar, de agir, de ousar, de se amotinar, de viver a própria vida, de falar e expressarse, de ver e ouvir, de comunicar, de ir e vir, de viver o presente e pensar o futuro, de arquitectar o amanhã, de aceitação ou rejeição e, sobretudo, de sonhar, ir atrás dos sonhos e realizá-los.
Tudo isso nos é oferecido pela independência, pela liberdade conquistada a 11 de Novembro de 1975. Mas, como tudo na vida, a liberdade tem de ser conservada de forma abrangente, para que não sejamos dependentes de outros povos no que toca à realização das nossas aspirações e sonhos.
A liberdade implica assumir a responsabilidade de traçar o nosso destino, ter a capacidade de se auto-sustentar e de munir-se de meios e ferramentas para alcançar a independência financeira, económica e patrimonial.
E para que um povo possa ser plenamente dono e senhor do seu destino, tem de, necessariamente, ter a capacidade de produzir, com o seu suor e lágrimas, os produtos básicos e essenciais para a sua sobrevivência, o seu alimento. Não existe liberdade se, para comer, dependemos de outros povos, não existe liberdade se, para nutrir os nossos filhos, temos de estender as mãos e pedir esmolas a terceiros.
Neste mês da independência, vamos homenagear os heróis da actualidade, os que, com o seu suor e lágrimas, nos ajudam a ser livres pela auto-suficiência alimentar, aqueles que, com as próprias mãos, cultivam a terra todos os dias, para garantirem que não falte comida à mesa dos angolanos.
Aqueles que considero os possuidores do poder da paciência, que, debaixo de sol ardente, homens e mulheres, com as suas enxadas, limpam rigorosamente a terra, eliminam o capim e tudo o que poderia constituir obstáculo à plantação, escolhem cuidadosamente as sementes e a dosagem necessária, depositam-nas no solo para germinarem, cuidam daquela esperança e, pacientemente, esperam que ela brote.
Possuidores de uma sabedoria transmitida de geração para geração, os camponeses conhecem a melhor época do ano para o cultivo de cada produto, o melhor solo, os melhores nutrientes, fertilizantes para a terra, muitas vezes produzidos artesanalmente por eles mesmos, o que os torna autênticos especialistas, agrónomos, criativos e cientistas, muitas vezes mesmo sem nunca terem passado por uma escola ou universidade.
Depois do plantio, segue a longa tarefa de cuidar, regar as vezes necessárias, combater predadores, insectos, fungos, pragas e outros males, visando garantir o nascimento e bom crescimento da planta. A nossa liberdade é fruto do sacrifício heróico de milhares de homens e mulheres que trabalham a terra diariamente e tudo fazem para manterem firme esta tão preciosa conquista: a nossa liberdade.
O nosso inimigo número um, actualmente, chama-se fome, e os camponeses são os principais soldados no combate à mesma. A eles devemos toda a honra. Bravos heróis anónimos, homens e mulheres, de forma sobre-humana, lutam para a manutenção da nossa liberdade, embarcam, consciente ou inconscientemente, na maior missão da actualidade, cujo único objectivo é alimentar o povo.
Tal como os nossos heróis do passado: do Processo dos 50, da Revolta dos Camponeses da Baixa de Cassanje, os presos da Cadeia de São Nicolau, da Cadeia de Tarrafal, as vítimas de dezenas de campos de concentração espalhados pelo país, das bases guerrilheiras, os mentores de actividades clandestinas, as vítimas de tensões raciais, os heróis dos sindicatos, jornalistas da Angola combatente, estudantes da Casa dos Estudantes do Império, os movimentos de libertação nacional, os movimentos metodista, tocoísta e tantos outros revolucionários heróicos, que lutaram e morreram pela causa nacional… tal como todos estes, os nossos camponeses são realmente os nossos heróis da actualidade.
Resistem à falta de apoio, à falta de crédito bancário, à falta de posse da terra, ao sol intenso, a secas severas, à dificuldade de escoamento dos produtos, às estradas degradadas e a tudo o que pode condicionar o sucesso da nossa agricultura.
Os camponeses alicerçam a liberdade que vivenciamos nos dias de hoje. A todos os camponeses, de Cabinda ao Cunene, que continuam a manter firme o sonho de ver uma Angola auto-suficiente e que não desistem desse sonho, a nossa mais humilde vénia acentuada, repleta de gratidão e respeito.
A independência foi conquistada, agora precisamos arregaçar as mangas, despir os fatos e lutar para alicerçar a nossa liberdade, garantindo que consigamos produzir e trabalhar a terra, produzir alimentos básicos e fundamentais, com qualidade, em quantidade e a baixo preço, para que todo o angolano tenha o que comer. Muito obrigado, camponesas e camponeses angolanos!
Por: OSVALDO FUAKATINUA