Ora bem, prestimoso amigo, todo escritor pode representar de modo alegórico a liberdade de expressão dos sentimentos, angústias, aspirações e desejos de um mundo, e tudo isto tendo sempre em conta as influências do meio.
Por outras palavras, o escritor é aquele que se define pela sensibilidade, imaginação e expressividade artística. neste sentido, o exercício da arte é uma liberdade, e diz uma máxima que ‘para escrever basta ter alguma coisa para contar, mas agora o que escrever? Como escrever? nunca melhora seu estado quem muda apenas de lugar e não de vida e hábitos’ (Quevedo, Vida del buscón).
no Contexto da produção literária, hodiernamente, muitos desdenham o talento linguístico, assim como o conhecimento da ciência da palavra, e não há talento sem esforço, refiro ao exercício constante de leitura e releitura.
Tire da cabeça a ideia de que, simplesmente pela inspiração, o escritor consegue produzir, na verdade, ela é boa, mas, quando alimentada, se não deres alimento à vaca, como vai te dar leite? Para melhor explicar, temos, à luz de maieuta ngonga, pseudónimo de Carlos ngonga Pascoal, na revista Sol nascente, o seu artigo intitulado “literatura de Angola/literatura angolana, adverte-nos: Como se sabe, quando não se domina a linguagem com preendida como capacidade ex clusivamente do homem de usar sistemas complexos de comunicação, corre-se o risco de fazer a mau uso dela em todas as suas vertentes, tornando-se, entretanto, num instrumento ao serviço do engano, como nos adverte o insigne filósofo Platão, no Crátilo, embora tenha feito referência à poesia. deste modo, já pensou nas infinitas formas que dispõe para não escrever mal? ‘’Só as obras bem escritas hão-de passar à posteridade”.
Essas palavras foram escritas por um naturalista, o Conde de buffon, ao tomar posse na Academia francesa, em 1753, neste ínterim, queremos dizer é necessário que o escritor produza a obra literária com estilo e signo do contexto social, ou seja, não pode, simplesmente, produzí-la ao acaso.
Além disso, voltando ao tema, escrever não é um processo automático, pronto a nascer, ela exige esforço abstracção, vocabulário diversificado, disciplina vencer nossos pseudo-limites da imaginação educada.
Ora bem, caro escritor, sei que é injusto pedir de todos o mesmo padrão de escrita. E conheço a gritaria dos que papagueiam o velho argumento: é preferível escrever qualquer coisa do que não escrever, neste caso, não, não basta pensar que dominar apenas a ortografia, daria um salto evolutivo no mundo da escrita literária.
Escrever é obter acesso ao conhecimento da nossa realidade, e isto, implica o trabalho sobre a linguagem com intensidade humana inserida na colectividade, notemos bem, um escritor precisa estilo.
A propósito, deixemos aqui as palavras de Aquilino ribeiro: “Em literatura o estilo é como álcool para os corpos embalsamados: conserva-a”.
Assim, não admira o forte interesse demonstrado pelos leitores em obras de Pepetela, ondjaki, Agostinho neto, mia Couto, fernando Pessoa, Chinua Achebe, Eduardo Agualusa, Wanhega Xitu, mwene Vunongue e outros, pois para estes escritores, escrever é uma condição necessária e suficiente para o ingresso na pátria humana.
Portanto, a escrita não possui nenhuma magia, senão a leitura e releitura para dar fala às profundezas da alma, por este motivo, quando escrevemos, devemos sempre lembra a importância da força oculta que uma verdadeira escrita pode despertar no leitor.
Escrever é remédio, ainda que escrita nem sempre contenha resposta para todos os males que nos atormentam. Eventualmente, como se pode observar nas obras dos escritores citados, a escrita toma posse da experiência, idealiza-a, recria-a e pode dar-nos um visão profética, ou seja, quase profeticamente, o escritor percorre os espaços do presente e do futuro, perscrutando com minucia atenção a sociedade, oferecendo reflexão, liberdade, esperança.. neste dealbar, esta competência do escritor de antever deve estar sempre ligada ao seu pensamento estratégico no acto da escrita.
daí que o caminho da escrita é outro, completamente diferente: o caminho da escrita é olhar para a realidade, descobrir o mundo que está à sua volta, perceber como essa vidinha das pessoas que você acha tão pequenas, enfadonhas; sem graça e destituídas de complexidade, essas vidinhas escondem às vezes grandes tragédias, preocupações sérias, casos complexos, dramas emaranhados.
Escritor, vamos vencer a mediocridade e devemos trabalhar a escrita como o carpinteiro trabalha a madeira. Sumamente, queremos com isto dizer, que muitos escritores não querem vencer a própria incultura, a instrução precária seja formal ou informal, e, com certeza, muitos orgulham disso, deixando toda tarefa para os críticos literários, revisor linguísticos eleitores sólidos.
não há, portanto, nenhuma legitimidade, nenhuma autenticidade numa literatura que abusa da linguagem vulgar; da gíria, ou que compõe uma armadilha confusa para o leitor, reflexa de pleonasmos, cacofonia e solecismos, uma literatura que não se diferencia da linguagem utilizada pelo jornalista.
Por: simples de papel