Em Angola, a expressão popular “Granda Prof” se tornou um termo usado por muitos estudantes para designar aqueles professores que são caracterizados por uma postura mais liberal e, por vezes, faltosa nas suas funções docentes.
Este fenômeno, que mistura um certo tom de brincadeira com uma crítica velada, reflete aspectos complexos da dinâmica educacional no país, envolvendo desde as expectativas dos alunos até a realidade do sistema escolar.
O Que Significa “Granda Prof”?
A expressão “Granda Prof” (ou “Grande Professor”) é uma forma coloquial de se referir a um professor que se destaca por sua abordagem mais descontraída, frequentemente associada à liberdade de métodos de ensino, e também à habitual falta de assiduidade às aulas.
O termo é, muitas vezes, utilizado com uma mistura de admiração e crítica, dependendo do ponto de vista do aluno. O “grande” no termo pode ser uma forma irônica de enaltecer a figura do professor, como se ele fosse “superior” devido à sua capacidade de evitar o formalismo rígido e de introduzir uma abordagem mais flexível no ensino. Por outro lado, a palavra “prof” é uma abreviação comum para professor, que se tornou um apelido carinhoso entre os estudantes.
Entretanto, o uso de “granda” também pode estar associado à falta de comprometimento com a profissão, especialmente quando o professor tem uma presença inconsistente nas aulas ou não se dedica integralmente à formação dos alunos.
A Liberalidade: Atração e Conflito com o Ensino Tradicional
Os professores que se encaixam na descrição de “Granda Prof” geralmente adoptam uma abordagem mais flexível no ensino. Ao invés de seguir o rígido currículo escolar, eles podem preferir métodos alternativos, como discussões abertas, debates, trabalhos mais livres ou até mesmo a utilização de actividades extracurriculares.
Esse comportamento é frequentemente visto com bons olhos pelos estudantes, que muitas vezes sentem que esse professor oferece uma abordagem mais próxima da sua realidade.
Em muitos casos, os “Granda Prof” não impõem tarefas excessivas, não fazem cobranças duras e, frequentemente, optam por uma avaliação mais descontraída.
Para os alunos, isso é visto como uma oportunidade para respirar, estudar de maneira menos pressionada, e até mesmo para explorar temas que não seriam abordados em uma aula tradicional. Contudo, essa liberdade também pode gerar conflitos com a rigidez do sistema educacional angolano, que muitas vezes valoriza a disciplina, a frequência às aulas e o cumprimento estrito dos objetivos curriculares.
A ausência de avaliações rigorosas e a flexibilidade excessiva podem ser vistas por alguns como uma falha de compromisso com a qualidade do ensino. A Falta de Assiduidade: Consequências para o Processo Educacional Um dos principais traços associados ao “Granda Prof” é a falta de assiduidade.
A expressão também se refere ao comportamento daqueles professores que, frequentemente, faltam às suas aulas ou chegam atrasados, sem explicações claras para isso.
Para os estudantes, esse aspecto pode ser uma fonte de alívio imediato, já que as faltas e ausências do professor significam mais tempo livre. Contudo, essa falta de compromisso também gera uma série de problemas.
A assiduidade é um fator crucial no processo educacional, e a ausência do professor afeta não apenas a continuidade do aprendizado, mas também a relação de confiança entre alunos e educadores.
Quando um professor se ausenta com frequência, os estudantes podem perder a sensação de segurança e previsibilidade nas suas rotinas de estudo. Isso também pode levar ao enfraquecimento da autoridade do docente, uma vez que sua presença não é mais vista como uma obrigação, mas sim como algo acessório. Além disso, a ausência constante pode comprometer o desenvolvimento de competências essenciais que seriam abordadas nas aulas.
Mesmo que o aluno tenha mais liberdade, a falta de uma estrutura consistente e regular para o aprendizado pode impactar negativamente a sua formação acadêmica e profissional.
O Impacto no Estudante: Entre a Liberdade e a Falta de Disciplina
Do ponto de vista do aluno, o “Granda Prof” pode ser uma figura ambígua. Para alguns, ele representa uma forma de aprendizado mais relaxada e menos opressiva, com mais espaço para a criatividade e a autonomia.
Para outros, a falta de um compromisso claro e a irregularidade nas aulas podem gerar insegurança e uma sensação de desorganização no processo educacional.
O maior problema dessa dinâmica é que a liberdade proporcionada pelo “Granda Prof” pode ser contraproducente a longo prazo. O aluno pode se acostumar a um ensino sem cobranças e sem estrutura, o que prejudica sua capacidade de se adaptar a ambientes mais exigentes no futuro.
Além disso, a falta de regularidade no conteúdo e nas avaliações pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades essenciais para o mercado de trabalho ou para os estudos superiores.
O Paradoxo do “Granda Prof”?
A expressão “Granda Prof” encapsula um paradoxo no ensino angolano: ao mesmo tempo que reflete a busca dos alunos por professores mais descontraídos e menos exigentes, também denuncia as lacunas de um sistema educacional que não atende adequadamente às necessidades de formação.
O professor liberal e faltoso pode ser visto como uma solução temporária para questões estruturais mais amplas, mas, a longo prazo, esse tipo de abordagem não favorece o desenvolvimento integral dos alunos.
O desafio está em equilibrar a flexibilidade e a liberdade com a seriedade e a responsabilidade do ensino. Em última análise, a verdadeira educação deve preparar os alunos para o futuro, oferecendo-lhes tanto autonomia quanto os fundamentos necessários para que possam alcançar o sucesso em suas vidas profissionais e pessoais.
Para isso, é preciso que tanto os alunos quanto os professores compreendam que o compromisso com a aprendizagem e o ensino de qualidade deve ser a prioridade, acima das conveniências momentâneas.
Por: Mariano Jesus
Gestor escolar, Palestrante, Consultor Académico e Professor