Maria Ana Bobone, a fadista portuguesa que cantou no nosso país há alguns dias, lamentou o facto de durante a sua estadia entre nós não ter sido levada a um restaurante onde se servisse comida angolana. Isto explica o meu cepticismo em matéria de desenvolvimento do turismo em Angola. Só se promove aquilo de que se gosta, de que se tem orgulho.
Aqui acham que a nossa gastronomia não é digna de ser apresentada aos estrangeiros. E, então, caímos no ridículo de servir ao estrangeiro comida da sua própria terra, só que de qualidade inferior.
Ninguém sai de longe para vir cá comer o que deixou em casa. Mas a cegueira complexada dos “meninos debem” cá da terra ainda pensa no funje como comida gentia para a criadagem, aos “patrões” serve-se qualquer coisa que pareça europeia. Então, a nossa comida boa e saudável é para esconder. Ana Maria Bobone não é a primeira estrangeira a queixar- se de passar por cá e não conseguir experimentar comida angolana.
Aliás, mesmo no interior, é uma luta para se encontrar um lombi, tortulho, bagre fumado e outros pitéus nos restaurantes. A ministra da Hotelaria e Turismo, se for chegada a um funje com mengueleca, à muteta e ao mufete, por exemplo, vai ter de fazer alguma coisa para dizer aos promotores culturais e aos promotores turísticos que aqui é Angola, que temos gastronomia própria e que também pode ser exportada como a Kizomba.