A língua de um povo é muito flexível e sujeita a evoluções, daí que tanto o emprego dos tempos verbais não possa ser visto de uma maneira rígida. Neste âmbito, nem sempre os tempos verbais têm o valor que lhes é normalmente peculiar.
As formas do presente do indicativo podem, em alguns contextos, significar ou contribuir para significar: • Uma garantia futura: Amanhã, vou ir à escola.
Tal como se constata no exemplo acima, a forma verbal vou está a ser atribuída a um outro sentido diferente daquele que é característico, no caso, de certeza (e não de futuro/sentido atribuído), pelo que a construção normal seria: Amanhã, irei à escola.
• Uma eventualidade: Se partes, vou contigo. Percebe-se, nesse excerto, uma certa mudança de sentido da forma verbal partes, que é a segunda pessoa do singular do modo indicativo, substituindo o futuro simples do conjuntivo e assumindo o seu sentido, o de incerteza, possibilidade.
No que acima ficou escrito, a forma normal dessa construção seria: Se partires, vou contigo.
• Uma hipótise: Se chego a tempo, nada disso te aconteceria.
Com base nesta leitura, nota-se que a primeira pessoa do singular do verbo chegar, no presente do indicativo, está a ser-lhe atribuído um sentido diferente do próprio, substituindo o futuro simples do conjuntivo.
Em síntese, seria: Se chegasse a tempo, nada disso te aconteceria. Um outro caso é o uso do pretérito mais-que-perfeito para indicar uma hipótese de valor irreal, como na seguinte construção:
Se houvera quem me ensinara, quem aprendia era eu. Neste âmbito, o pretérito maisque-perfeito do indicativo está a ser usado para substituir o imperfeito do conjuntivo, assumindo, assim, o sentido deste.
Do que acima ficou mencionado, a construção frásica normal seria: Se houvesse quem me ensinasse, quem aprendia era eu. Em suma, os tempos verbais podem, volta e meia, possuir valores temporais diferentes do habitual, transpondo para diversas concepções de outros tempos verbais, como observado anteriormente.
Ademais, essa extensão semântica acaba por ser influenciada pelos usuários da língua em distintas situações de comunição, da diacronia à sincronia, assim como do grau de escolarização e da variação diatópica.
Por: FELICIANO ANTÓNIO DE CASTRO
*Professor