Sim, nunca me esquecerei deste país magnífico, de gente acolhedora e de uma herança cultural que é transmitida de geração em geração. Desembarquei no Aeroporto Internacional de Beijing, na capital chinesa, às 16 horas e trinta e cinco minutos, dum sábado, 12 de Outubro de 2024, após uma longa viagem, a bordo de um Airbus 308 da Ethiopian Airlines, companhia aérea etíope, que fez escala Luanda, Addis Abeba e, finalmente, Beijing.
Depois de aproximadamente 15 horas de voo, finalmente pousamos em Beijing, e a ansiedade por explorar uma das cidades mais fascinantes do mundo tomou conta de mim e do grupo de colegas com quem fiz esta viagem.
Estavam comigo colegas de vários órgãos de comunicação angolanos como o Pereira Santana, do Jornal de Angola; o Carlos Benedito, da Angop; Sebastião Hortêncio, do Novo Jornal e o Guilherme Francisco, do Valor Económico – todos com o mesmo entusiasmo por esta primeira experiência na capital chinesa.
A jornada, com os seus momentos de cansaço e excitação, reflectiu a expectativa em desbravar uma cidade que abriga o esplendor da Muralha da China, a Praça Tiananmen e o Palácio Imperial.
No avião, conversávamos sobre o impacto cultural e económico do gigante asiático no cenário mundial e em Angola, e sobre como seria a experiência de viver a rotina desta metrópole. Em Beijing, ou se preferir Pequim, a história pulsa em cada esquina.
Após a visita ao museu do Partido Comunista Da China, o outro ponto alto da visita na capital foi a Cidade Proibida. Ao atravessar os portões da Cidade Proibida, é impossível não ser ‘possuído’ pela grandiosidade e pelo magnetismo daquele lugar, que por séculos esteve reservado exclusivamente à realeza.
A primeira visão é avassaladora: uma sucessão interminável de portões, pátios e edifícios que desdobram-se em direcção ao horizonte, cada um a carregar histórias de imperadores e imperatrizes, de poder e mistério.
A arquitectura parece dançar ao ritmo de uma harmonia milimetricamente planeada; as paredes vermelhas vibrantes e os telhados dourados criam uma estética que nos transporta para uma China de outro tempo, de um império que marcou profundamente a história do mundo. Caminhar pelos vastos pátios é como percorrer um campo sagrado.
Em cada detalhe, desde os intricados dragões esculpidos nos corrimões de mármore até aos telhados adornados com criaturas míticas, sente-se a reverência que a Cidade Proibida ainda inspira.
Este complexo palaciano, construído durante a dinastia Ming, guarda uma sensação de isolamento quase espiritual, como se a voz de cada visitante fosse absorvida pelas grossas paredes que mantêm segredos de dinastias passadas.
Ao explorar os salões onde os imperadores tomavam decisões que moldariam a história, é fácil imaginar as cenas que ali se desenrolaram: ministros em roupas elaboradas, cerimónias ritualísticas, e o peso de decisões que determinariam a vida de milhões. E, ao chegar aos jardins internos, onde caminhos de pedra serpenteiam entre pavilhões e árvores antigas, há um raro instante de calma.
Ali, a beleza natural contrasta com a grandiosidade arquitetónica, o que oferece um vislumbre da vida privada da realeza. Para um visitante de primeira viagem, a Cidade Proibida é mais do que um monumento histórico; é uma experiência que nos lembra da transitoriedade do poder humano e do legado que pode ser deixado. Ao deixar seus portões, a memória do que se viu e sentiu persiste, como um eco que nos liga aos mistérios e maravilhas da China Imperial.
‘The Great Wall’
A experiência de palmilhar a Grande Muralha da China é algo que ficará gravado profunda e eternamente na minha memória, uma conexão quase surreal com a história antiga que se estende diante dos olhos.
À medida que se escala a muralha, seguindo os seus degraus íngremes e irregulares, cada passo revela um horizonte vasto e quase interminável. É como se a muralha serpenteasse pelo topo das montanhas, acompanhando o contorno natural da paisagem e desaparecendo ao longe, como um dragão gigante que dorme sob o céu. O ar fresco e o silêncio, interrompido apenas pelo som do vento, criam uma sensação de isolamento e introspecção.
O impacto do local não é apenas visual; é espiritual. A muralha parece pulsar com as memórias de séculos, ecoando as vozes e os passos de incontáveis guardiões, soldados e trabalhadores que deram as suas vidas para construir e proteger esta colossal estrutura que é uma das sete maravilhas do mundo. Cada torre ao longo do caminho oferece uma pausa, um local para observar o mundo em volta e reflectir sobre a imensidão da muralha e do próprio tempo.
Quando se olha para além da muralha, vê-se uma paisagem de montanhas que se estendem em todas as direcções, lembrando que este foi um projecto de uma escala incomparável, um feito monumental da humanidade.
Ao fim do percurso, a sensação é de ter viajado não só através da muralha, mas também no tempo. A experiência de estar sobre a Grande Muralha da China é um convite para compreender a perseverança e a engenhosidade do espírito humano.
Ainda em Beijing, a nossa agenda incluiu visitas ao Instituto ChinaÁfrica e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde pudemos ver de perto a abordagem chinesa nas relações internacionais e a relevância que Angola e outros países africanos têm nesse cenário.
No Instituto China-África, tivemos uma recepção calorosa, com uma apresentação sobre as iniciativas conjuntas de desenvolvimento e os projectos de intercâmbio cultural e académico entre a China e o continente africano.
O “Vale do Silício” chinês
Após a intensidade de Beijing, seguimos para Shenzhen, uma cidade que respira inovação e progresso. Fundada como uma vila de pescadores, Shenzhen transformou-se, nas últimas quatro décadas, numa potência tecnológica e económica.
A imponência arquitectónica da cidade é simbolizada pelo Ping An Finance Centre, uma torre futurista com mais de 115 andares (o 5º edifício mais alto do mundo), que domina a paisagem e serve como um marco do avanço financeiro e tecnológico da cidade.
O edifício é um ícone do design moderno, representando a fusão de estética e funcionalidade, e reflecte o espírito arrojado que define Shenzhen. Shenzhen é separada de Hong Kong pelo Rio Shenzhen, uma fronteira simbólica entre o continente e a antiga colônia britânica. Essa proximidade geográfica, aliada à sua posição como “zona económica especial”, fez de Shenzhen um centro de inovação, aberto ao mundo.
A cidade tornou-se no lar de gigantes como Huawei e Tencent, estabelecendo-se como o “Vale do Silício” da China. Este dinamismo é palpável na sua infraestrutura, nos seus parques tecnológicos, nos centros culturais e na vibrante vida nocturna.
Tanto Beijing quanto Shenzhen mostram o potencial extraordinário da China. Beijing fascina com as suas tradições, os seus monumentos históricos e seu espírito acolhedor, enquanto Shenzhen inspira com sua modernidade e energia inovadora.
Essas cidades, juntas, exemplificam a singularidade da China, onde o passado e o futuro coexistem e evoluem em harmonia. Para todos nós, a China representa hoje muito mais do que um destino turístico.
Foi uma chance de ver de perto como o gigante asiático mistura história e modernidade, entender como a cidade equilibra o avanço tecnológico com a preservação da sua herança cultural, e, claro, experimentar a culinária local.