Falar mal dos outros temse tornado numa autêntica profissão, em que pessoas se tornam especialistas em maldizer do próximo, são tão engenhosas que aonde estão, quando abrem a boca, é só para lançar farpas e pedregulhos verbais contra alvos premeditadamente escolhidos, não se contêm nem mesmo em ambientes cerimoniais, onde o respeito máximo ao próximo é exigido, como em casamentos e óbitos, a sua aptidão para o mal é tão acérrima que conseguem encontrar defeito em tudo e todo, mesmo quando, muitas vezes, e na maioria das vezes, sejam verdadeiros embustes.
Se estiverem em um casamento, reclamam da comida, do fato do noivo que não combinou com os sapatos; do vestido da noiva que é excessivamente decotado ou muito apertado; do salão que é pequeno ou do chão não ser ideal para as passadas de Semba ou kuduro; da comida que é ferrada e da bebida que é pouca; da musica que não é boa e até da decoração ou dos padrinhos que não combinam com as caras dos noivos.
Para os especialistas em falar mal dos outros, tudo está errado, deixam de usufruir dos eventos e se focam em procurar defeito em tudo e todos.
Se estiverem no komba, aí então é que a reclamação é mais incabível, começa com a viúva que está a chorar pouco e murmuram entre si “ já deve ter outro”, ou da casa que o defunto deixou ser pequena ou apertada; entram para bisbilhotar os aposentos e os pertences da família enlutada; atribuem classificações aos óbitos, “fraco ou forte”, consoante a abundância ou não de bebida alcoólica ou de boa comida, “aquele óbito não bateu, foi fraco, nem bêbado fiquei”; de forma incógnita reclamam da urna que é barata e do carro fúnebre, mas paradoxalmente, tais pessoas não se solidarizam com a dor dos outros e nunca estão disposta a contribuir ou ajudar no que for necessário.
Nos locais de trabalho formam-se grupinhos para falar mal e reclamar de tudo e de todos, dos chefes, dos clientes, das moscas, das baratas e sobretudo dos ausentes que se tornam o centros das fofocas, dicas como “ouvi disser que aquela então o marido lhe surra bwe…”; “Aquele está bwe armado com o sapado novo, ouvi dizer que faz compras no arreiou…”; “essa então já lhe dormiram em todos os chefes…”; “aquele chefe tá namorar com a colega nova…”, “ essa pra lhe nomearem é porque o tio dela é amigo do chefe…”, tais especialistas sabem da vida de toda gente, mesmo sem as conhecer, possuem uma mente fértil e criativa, que de forma imaginária cria, recria e inventa enredos para fomentar a fofoca e a intriga para a tornar mais aliciante e atrair mais adeptos ou seguidores, falam com tanta sisudez como se tivessem prova de facto e de direito do que dizem, tais pessoas são pouco produtivas e péssimos profissionais, andam pelos corredores a procura de noticias e de temas para fofocas e intrigas, destroem relacionamentos, carreiras e sonhos.
Na sociedade, tudo que é feito está errado para eles, se um amigo comprou uma casa, lá vem eles levantando suspeita de que o vizinho roubou ou mexeu no erário; se abres um empreendimento, lá vem eles afirmando que não vai dá certo, que dá muito trabalho ou que terás muita maçada, todo o tipo de desencorajamento é difundido.
Se deixas a ebriedade, estás armado que já não dás confiança; se começas a estudar, estás armando em intelectual; se decides ser solidário e ajudar o próximo, estás armado em rico e queres lhes humilhar; se compras um carro novo, preveem dificuldade em peças de reposição e que não irás aguentar com os custos de manutenção; se for uma senhora a comprar o carro novo, então, para tais especialistas maldosos, já lhe dormiram no patrão, se a música lançada bater, o musico já recebeu feitiço, para eles tudo está e estará sempre errado, irão ver defeito em tudo e todos, jamais reconhecerão o esforço e o sacrifico alheio.
No bairro sabem da vida de todos, quem namora com quem ou quem faz o quê, ao final do dia reúnem-se os fofoqueiros em sentadas, como se de uma assembleia fosse, unicamente para beber e falar mal de tudo e todos, onde todas as frases tem o seu inicio da seguinte forma “Ouvi dizer que…” tal ouvi dizer, na maioria das vezes é uma invenção, fofoca ou intriga.
Nada de debater como melhorar as suas vidas e da comunidade, nada de debater sobre temas escolares, desportivos ou realidade sociais diversas, tais especialistas só sabem falar mal de tudo e todos, como se fossem seres perfeitos e imaculados.
Nas redes sociais, escondidos por trás da covardia do virtual, tais especialistas ganham espaço e atingem o auge da sua matreirice, ficam a sondar à socapa as postagens alheias, se alguém partilhar a conquista de diploma académico, por exemplo, os especialistas encontrarão formas hábeis de desvalorizar e denigrem o sucesso, tornando-o a todo o custo num aparente fracasso, visando atacar, não a si, mas ao seu triunfo ou conquista, como se tal sucesso fosse ofensivo para alguns.
Para certas pessoas, o sucesso do outro é como um punhado espetado no seu ego, fere tanto, que constrange a tossir abominações e babosices como forma de aliviar tal dor.
Os enredos montados cuidadosamente para enegrecer outrem, criados propositadamente, simplesmente, para desvalorizar o mérito, o sacrifício e o esforço do outro são descomunais e arrasam com a vida das pessoas, como se o esforço pessoal deixasse de existir, como se o sucesso fosse sempre originado por falcatruas ou actividades criminosas.
Tais especialistas não acreditam que o trabalho árduo e honesto pode dar frutos saborosos e levar a realização pessoal, nem que seja o direito de ter um sono tranquilo, no conforto da honradez e da honestidade.
Os especialistas em falar mal dos outros esquecem que tudo é possível para aquele que crê, sendo que os sonhos se realizam com trabalho sábio, árduo e pela busca constante pela nossa realização e pela realização do próximo, respeitando sempre a lei de Deus e dos homens. O sucesso persegue os audazes.
Os que perdem o seu foco a falar mal dos outros, desperdiçam tempo preciosos que poderiam despender para sua autorrealização, dando sentido pleno as suas vidas e tornando melhor o mundo em que vivemos.
Por: OSVALDO NÉRCIO DA CRUZ FUAKATINUA